domingo, 10 de Janeiro de 2010
A corda .
O acordo sobre o modelo de avaliação e estatuto da carreira dos professores do ensino básico e secundário e educadores de infância, de 8-1-2009 constituíu mais um nó na corda de estrangulamento dos professores, apertado pelo poder político e sindical. Lido o acordo, a Posição dos Movimentos Independentes de Professores (Apede, MUP e Promova) e as análises do Prof. Ramiro Marques do ProfBlog, do Prof. Paulo Guinote da Educação do Meu Umbigo e do Prof. Octávio Gonçalves, a conclusão que extraio é de uma grande desilusão.
Aparentemente, os sindicatos alinhados politicamente, da FNE, disfarçada de Bloco Central mas condicionada principalmente pelo Partido Socialista, à Fenprof, controlada pelo PC, preferiram celebrar um acordo para terminar com o conflito que lhes é incómodo. Já os sindicatos independentes tomaram, como se pode ver, posição contra o acordo. Qual é o saldo principal do acordo? A mudança no modelo de avaliação com a introdução de um relator, em vez de um professor titular (que até poderia ser de área científico-técnica diferente) como avaliador, e a eliminação da divisão na classe dos professores surgida com a criação dos professores titulares. O modelo de avaliação não conhece grande mudança e, em vez da avaliação externa, o Ministério conseguiu impor a avaliação interna. E na carreira o Ministério conseguiu impor as quotas de progressão, afuniladas nos escalões mais altos. Mas o mais grave é que, com este acordo, os sindicatos deixaram a impressão sobre a classe de que tudo se reduzia à carreira e salários. Em vez da degradação do ensino e da função, que foram os motivos subjacentes à luta.
Esta luta provou a necessidade do sindicalismo independente dos partidos, com a vantagem decisiva, para suplantar o menosprezo do ministério e a instrumentalização política, da criação de uma Ordem dos Professores.
Porém, este acordo, como o memorando iscteano de entendimento, no seu comércio político-sindical, não destrói a grandeza moral da luta dos professores pela dignidade da sua missão e pela qualidade do ensino. A luta genuína dos professores não é manchada pelas traições e fraquezas dos sindicatos políticos, embrulhados no sistema.
Fica a lição sobre a traição sistémica dos sindicatos alinhados politicamente, os socialistas porque o governo é PS e os comunistas na doutrina oficial de expectativa patética de uma coligação com os socialistas, que os leva a não denunciar a corrupção de Estado.
Na verdade, para ambas as forças sindicais - socialistas e comunistas - o socratismo não é o adversário, mas um parceiro actual e potencial de poder. O adversário é o sindicalismo independente que pode quebrar o domínio comunista. Um domínio comunista, através da Fenprof, sobre uma classe onde o PC tem uma percentagem reduzida de apoiantes: 10%?... O PC aplica a tese leninista da vanguarda revolucionária: basta ter um número superior numa organização que cria e, com o esforço empenhado dos militantes, tomarem a representação de toda a população - de preferência com aliados burgueses para ganharam maior massa e disfarçar o seu perfil comunista. A vanguarda militante da Fenprof destaca controleiros diligentes (quase sempre mais comunistas do que professores...) que assumem a função de sindicalistas no espaço de representação que os professores - militantes... do ensino e alheados da representação - lhes concedem. Como a função de sindicalista é aborrecida, e constitui um desvio na carreira para a política, a função é tomada pela vanguarda militante comunista.
Para mudar o controlo a que estão submetidos, para os professores recuperarem o poder, usurpado pelos sindicalistas comunistas e aliados, têm de criar uma Ordem de Professores. Uma Ordem que defenda toda a classe, inverta as prioridades dos salários e carreira para o ensino, e reduza a representação comunista à percentagem de adesão política que os professores lhes dão em eleições: 10%?...
O capital da luta não se pode alienar: a unidade dos professores. Uma luta que honrou os professores perante um País em declínio, pois o seu protesto tinha subjacente, como disse, a degradação do ensino e da missão do professor. Mesmo se o socratismo, com o seu controlo dos media, fez uma campanha tremenda, com efeitos que perduram, desencadeando a inveja social perante os seus salários e regalias (e não perante o trabalho não-lectivo...), acusando-os de querer precisamente o contrário do que pretendiam: a dignidade da sua missão e a eficácia do seu trabalho.
Uma luta que não terminou, pois, além de reformar a representação - dos sindicatos políticos para uma Ordem de Professores independente -, falta reformar a escola: o modelo de escola socialista, a didáctica impraticável e a pedagogia utópica. Reintroduzir o ensino e motivar a excelência nos alunos: em vez de reduzir a aprendizagem e produzir incompetência. Chega do delírio ideológico de fazer da escola o que ao Estado e à sociedade realizar: é hora de ensinar-aprender, de formar, de promover os alunos, de os dotar de competências efectivas, de criar valor, de ser Escola!
Actualizações: este post foi emendado às 23:38 de 10-1-2009 e 0:17 de 11-1-2009.
* Imagem picada daqui.
Publicado por António Balbino Caldeira em 1/10/2010 09:54:00 PM
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