Monday, August 11, 2008

MÁRIO CRESPO

Bem-hajam
00h48m
Bem-hajam todos os envolvidos no restabelecimento da ordem pública no terrível sequestro num banco em Lisboa. Bem-haja o treino que receberam e bem-haja a imensa perícia com que conseguiram salvar os dois últimos reféns da perigosíssima situação em que estavam.

Devem ter sido décimas de segundo de decisão dificílima entre a vida e a morte. E que não restem dúvidas a ninguém. Os que a tomaram, escolherem a vida. E escolheram bem. Salvaram dois inocentes condenados à partida pela violência selvática de quem tinha decidido em consciência marginalizar-se de tudo o que é humano.

Não estou a fazer o elogio da morte. Estou a fazer o elogio da defesa da vida. Por isso, bem-hajam pelo que fizeram, pela coragem real com que irromperam sem tibiezas por aquele campo de morte arriscando tudo para resgatar os que estavam realmente indefesos e que eram gente como todos nós.

Gente que confia na segurança da sociedade humanistamente organizada para ir ao banco, para trabalhar no banco, para andar na rua, para ser criança, jovem, adulto ou idoso em segurança. Bem hajam todos os que nos garantem isso. Não posso deixar de imaginar que, por muito treino que tenham tido, por muita simulação a que tenham sido sujeitos, quando chegou a altura de ser a sério, tenham visto que a sério, é sempre diferente.

No sequestro deve ter sido um esforço sobre-humano manter durante horas seguidas a concentração no imenso perigo, aguardando uma oportunidade. Devem ter sentido o cansaço progressivo e o medo inevitável que vem da consciência clara do risco.

Os heróis que nos defendem nas ruas, nos distúrbios, nos sequestros, que evitam roubos, raptos e as brutalidades dos desumanizados não são nem super-homens, nem supermulheres. Mostram com frequência ser mulheres e homens de um calibre invulgar que é nosso dever homenagear com o mesmo desassombro com que eles e elas decidem em décimas de segundo arriscar a vida por nós, quando não temos outro recurso e estamos à mercê da infâmia brutalizada que se tenta instalar na nossa sociedade e que se manifesta, quando julga que o pode fazer com impunidade.

Esta criminalidade nojenta não tem nem nacionalidade nem etnia. Não tem defesa política possível nem justificação humana coerente. A sua única marca de identidade é o desrespeito sem limites pelos valores da vida.

Por isso bem-haja quem nos protege e se arrisca a perder tudo nesse acto por vezes incompreensivelmente incompreendido. A todos os intervenientes das forças de Polícia que salvaram as pessoas no sequestro em Lisboa eu manifesto publicamente a minha homenagem e profunda gratidão. Saúdo o extraordinário exemplo de cidadania e abnegação que nos deram enfrentando a morte em nome da vida de outros.

Há um pormenor mais. Não sou, nem serei porta-voz de ninguém. Mas, pelo que tenho ouvido, sei que há muita gente, mesmo muita gente, que vos agradece e homenageia também. A maneira como o sequestro do BES foi resolvido faz-nos sentir muito mais seguros, e estávamos a precisar disso. Bem hajam pelo que fizeram e pelo que hoje, em silêncio e fora das câmaras de TV, continuam a fazer.

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