França volta a ser abalada por novos confrontos urbanos
Pedro Duarte
19/07/10 09:23
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A morte num tiroteio com a polícia gerou pilhagens e incêndios na cidade de Grenoble.
Cinco anos depois do país ter sido abalado por fortes revoltas nos subúrbios das suas cidades, o fantasma de insurreições por parte dos jovens filhos de imigrantes e activistas radicais volta a ensombrar a França. O ponto focal dos novos confrontos é a cidade de Grenoble, uma cidade de 500 mil habitantes perto dos Alpes, onde um assalto a um casino deu origem a uma perseguição de carro degenerou numa troca de tiros entre os assaltantes e a polícia, levando à morte de um dos criminosos, Karim Boudouda, de 27 anos de idade. O falecimento de Boudouda gerou forte indignação junto da juventude de origem norte-africana da cidade que, acompanhada de elementos radicais, tem descido às ruas do subúrbio de Villeneuve todas as noites para pilhar lojas, incendiar carros e destruir outras propriedades a golpes de tacos de ‘baseball', entrando em confrontos com a polícia.
Os choques com as autoridades agravaram-se substancialmente por volta das 2h30 de sábado, quando um manifestante sacou de uma arma de fogo e abriu fogo sobre os agentes da autoridade que, surpresos, ripostaram com balas reais. Durante a mesma noite, os policiais foram alvo de disparos em outras partes da zona afectada, mas só ripostaram com balas de borracha. As trocas de tiros não fizeram vítimas, adianta a polícia local.
Em resposta a estes incidentes, ontem a polícia efectuou uma rusga em Villeneuve, tendo detido quatro suspeitos de serem os autores dos disparos, que estão a ser interrogados por tentativa de homicídio, enquanto outras sete pessoas foram presas por porte ilegal de armas. Desde a noite de domingo que um forte dispositivo de mais de 300 agentes da polícia está a patrulhar o bairro, de modo a dissuadir os manifestantes de continuarem a destruir a área e de incendiar viaturas, tendo até agora sido perdidos 65 carros.
Apelos à calma
O ministro do Interior francês, Brice Hortefeux, visitou o local e afirmou estar disposto a "reestabelecer a ordem pública por todos os meios".
"Exigi ao presidente da Câmara que use todos os meios para que Villeneuve se torne segura. Há uma realidade simples e clara no país: os criminosos e os delinquentes não têm futuro, uma vez que o poder público vence sempre", disse o governante.
Já o chefe do sindicato regional da polícia, Daniel Chomette, tem dúvidas, notando que "a polícia está no ponto de ruptura" e apelou ao envio de reforços para a região.
Saliya Boudouda, mãe de Karim, que já havia sido condenado três vezes por roubo, lançou ontem um apelo à calma na imprensa local. "A mãe do jovem morto durante o tiroteio com a polícia contactou-nos ontem à tarde para lançar um apelo, para que termine a violência no subúrbio", lê-se no jornal ‘Dauphiné liberé'. Algumas horas mais tarde, Saliya anunciou aos jornalistas que tenciona apresentar queixa para esclarecer as circunstâncias exactas da morte do seu filho. "Os polícias foram longe demais, foram mesmo muito longe. Vou ter uma audiência com o procurador e apresentar queixa. Isto há-de ir até às mais altas instâncias", afirmou.
Choques recordam aos franceses as fortes revoltas de 2005
A nova onda de violência urbana que abala a cidade de Grenoble está a trazer de volta aos franceses recordações dolorosas da onda de confrontos que abalou grande parte das cidades do país entre Outubro e Novembro de 2005, deixando mais de 6.500 carros indendiados.
A crise teve início a 27 de Outubro de 2005, quando os adolescentes de origem imigrante Zyed Benna e Bouna Traore morreram electrocutados numa estação eléctrica do subúrbio de Clichy-sous-Bois, por recearem que a polícia poderia estar atrás deles, uma vez que estavam próximos do local de um roubo quando as autoridades chegaram. Embora a polícia negasse que estava a perseguir os jovens, a comunidade local acusou as autoridades de discriminação, e revoltas esporádicas começaram a ter lugar. No dia seguinte, os confrontos espalharam-se a outro subúrbio, no qual a polícia foi alvejada com armas de fogo.
Sarkozy piorou situação
Os comentários proferidos na altura pelo então ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, de que os criminosos são "escumalha", atiçam a fúria dos filhos das comunidades imigrantes em todo o país, e no início de Novembro a própria Paris torna-se palco de violência, tendo sido incendiados mais de mil carros. Os confrontos continuam todas as noites, aumentado drasticamente o número de veículos incendiados e de pessoas presas. A sete de Novembro, um homem de 61 anos é morto quando tentava apagar um fogo num subúrbio, a primeira vítima mortal das revoltas. No mesmo dia, os confrontos espalham-se às comunidades imigrantes da Bélgica e Alemanha. Na manhã seguinte, o governo francês é forçado a impor o recolher obrigatório, recuperando uma lei de 1955 que havia sido criada para a controlar a revolta na então colónia da Argélia. Esta decisão tem poucos efeitos, passando-se a registarem confrontos nas cidades de Arras, Lião, Greasse e Toulouse. Em breve são registados incidentes um pouco por todo o país, de Norte a Sul, e mesmo em Estrasburgo, a poucos quilómetros do Parlamento Europeu. As revoltas começam a acalmar em meados do mês, quando o governo propõe medidas destinadas a melhorar a educação e as oportunidades para os habitantes dos bairros de imigrantes, com um valor superior a 30 mil milhões de euros.
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