Pelourinhos e estátuas na mira do crime organizado
por LICÍNIO LIMAHoje
Redes internacionais de crime organizado estão a furtar em Portugal pelourinhos e estátuas de grande porte que se encontram na via pública. Algumas das peças furtadas são monumentos nacionais. Judiciária já contabilizou mais de 40 furtos
Estatuária de grande dimensão, e de valor incalculável, alguma classificada como monumento nacional, está a desaparecer de praças públicas, de jardins (públicos e privados) e até de ruas. No último ano, segundo a Polícia Judiciária (PJ), registaram-se mais 40 furtos. "Estes actos denunciam a existência em Portugal de uma criminalidade altamente especializada e organizada que furta peças de arte e as coloca imediatamente fora do país", disse ao DN João Oliveira, coordenador de investigação criminal, responsável pela brigada de obras de arte da directoria de Lisboa e Vale do Tejo.
Até hoje ainda ninguém sabe como foi possível que tivessem desaparecido os cruzeiros manuelinos que se encontravam de frente da igreja matriz de Loures e em Frielas. Trata-se de peças de grandes dimensões, em altura e em peso. O pelourinho de Loures, por exemplo, estava classificado como monumento nacional. Ou como foi possível que alguém tivesse levado duas estátuas em mármore que integravam a Fonte das Bonecas, em Portalegre e que foram, depois, encontrados em Espanha. Aconteceu o mesmo na Fonte das Bicas, em Borba, e na fonte das Seis Bicas, em Alandroal. Levaram também umas esculturas em granito que se encontravam no exterior da igreja matriz do Crato. De uma praça no Lumiar, em Lisboa, em Campo Maior e em Estremoz desapareceram estátuas. Algumas destas peças, nomeadamente os cruzeiros manuelinos, eram propriedade do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico (Igespar).
Estes são apenas alguns exemplos porque "no espaço de um ano registaram-se mais de 40 furtos de estatuária só no departamento da directoria de Lisboa", frisou João Oliveira, adiantando que a nível nacional existirão muitos mais casos. "Para furtar peças de grande dimensão, como são os cruzeiros e as estátuas, e colocá-las rapidamente fora do país, são necessários muitos meios logísticos que só a criminalidade altamente organizada consegue", explicou o coordenador.
Este tipo de furto está a preocupar a PJ. "Trata-se de um modus operandi completamente novo. Isto exige planificação e organização", observou João Oliveira. "As pessoas vêem um grupo de trabalhadores em volta de um pelourinho, com máquinas e viaturas de apoio, e não vão pensar que se trata de um furto. Pensa-se que se tratará de um trabalho de manutenção ou de limpeza" .
Segundo aquele investigador, tudo aponta para que se trate de encomendas solicitadas a redes internacionais de criminalidade organizada . "As peças não vão ser postas à venda. Elas já estarão vendidas logo à partida", explicou. Os clientes também não serão portugueses.
Além da estatuária, também os azulejos estão na mira dos criminosos. "Levam painéis inteiros", disse João Oliveira.
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