A história é complexa. Foi no dia 8 de Dezembro de 2003 que Anabela Vieira foi com a filha, então com sete meses, a uma consulta de pediatria no Hospital do Barlavento Algarvio. No gabinete da médica retirou a carteira para mostrar documentos da criança, colocando-a em cima de uma cadeira.
Até aqui tudo bem. O problema foi que Anabela teve de deslocar- -se a uma sala ao lado, onde a criança estava a ser observada. E quando regressou ao gabinete médico, "preocupada com o estado de saúde da filha", esqueceu-se que tinha deixado ali a carteira, tal como declarou em julgamento. Pegou apenas na mala de mão e foi embora.
Não resistindo à tentação, a pediatra apoderou-se da carteira e, vendo o código PIN associado ao cartão, no próprio dia levantou logo numa caixa multibanco 200 euros da conta da utente. No dia seguinte, além de levantar mais 200 euros, transferiu o montante de 28 861,89 euros, ou seja, o valor máximo de crédito do cartão gold da utente para uma conta sua da Caixa Geral de Depósitos. Ao todo, o desfalque foi de 29 261,89 euros.
Dois dias depois, o montante saiu da conta da médica para a da companheira com quem a profissional de saúde vivia na altura, relata o processo da Ordem dos Médicos, a que o DN teve acesso, citando passagens do relatório do Tribunal de Portimão.
Pelos factos, a médica foi condenada em 2005, por aquele tribunal, ao pagamento total da quantia em questão à vítima e a indemnizações por danos morais. Pagamento que segundo uma declaração de Anabela Vieira, enviada à Ordem dos Médicos, tem estado a ser cumprido ao abrigo de um acordo celebrado entre as duas partes no dia do julgamento do processo-crime. Motivo pelo qual Anabela desistiu da queixa-crime, não tendo sido a médica sujeita a uma pena de prisão. Na altura, em tribunal, a companheira de Paula Almeida explicou que a arguida, "devido a uma depressão, foi gastando pouco a pouco o dinheiro que apareceu na respectiva conta sem cuidar da correspondente proveniência".
Na exposição enviada à Ordem, a pediatra diz-se "descriminada pelo seu estatuto de toxicodependência e pelas suas orientações sexuais". E questiona: "Sou passível da pena de expulsão , mas pergunto até que ponto isso não será uma violência para quem teve de viver o que viveu, se esforçou tanto para conseguir o que é hoje."
A pediatra assume que no final dos anos 80 pediu ajuda no Centro das Taipas e "durante cerca de oito meses sujeitou-se a um internamento em comunidade terapêutica, seguindo depois um processo terapêutico em ambulatório, no âmbito do qual ainda hoje mantém consultas regulares" .
Ao tomar a decisão, a Ordem teve em conta todos estes aspectos, mas também o facto de a profissional ter tido anteriormente ao roubo "um bom comportamento" no exercício da sua profissão.
UMA SOCIEDADE QUE PREMEIA TODAS AS ABERRAÇÕES, TRAIÇÕES,IMPONDO UMA NÃO DISCRIMINAÇÃO SEM FUNDAMENTOS DE MÉRITO ESTÁ CONDENADA AO FRACASSO.É ONDE NOS ENCONTRAMOS...
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