Saturday, September 19, 2009

EM FALÊNCIA EM TODAS AS FRENTES

19 Setembro 2009
crise

Com o abandalhamento em curso do Presidente da República – pouco interessa já se com ou sem culpa do próprio – foi-se a derradeira ilusão de dignidade de Portugal e dos portugueses. O país onde antes vivia gente de brandos costumes e de reputada honradez transformou-se, de há uns anos para cá, num reduto de vigaristas, trapaceiros e ladrões. Na política, na banca, nas universidades, nas empresas, no futebol, na cultura, na justiça, nos jornais, as suspeitas instalaram-se sobre tudo e sobre todos.

No caso vertente, a questão é elementar: ou o governo mandou escutar o presidente para o controlar, ou o presidente inventou uma estória para beneficiar eleitoralmente a oposição. Qualquer das hipóteses é ordinaríssima e desqualifica irremediavelmente quem a protagonizou. O pior é que, muito provavelmente, estes personagens continuarão a exercer funções públicas depois de 27 de Setembro. Vão fazê-lo como? Vão relacionar-se de que modo? E em quem confiarão os portugueses, se tiverem de continuar a viver com eles por mais alguns anos?

Os portugueses não se auto-estimam, não se respeitam nem respeitam os outros, e não confiam em ninguém. Não têm referências éticas e existênciais que os possam inspirar. Pelo contrário, virem-se para onde se virarem, encontram apenas gente eventualmente suspeita e desqualificada. O país percorreu um longo caminho de aniquilamento, que destruiu quase todas as frágeis instituições sociais e políticas que possuía, no qual o abandalhamento em curso do Presidente da República é somente a estocada final. Ao longo desse trajecto foi-se qualquer noção de comunidade e de sociabilidade que pudesse existir, e que é essencial ao crescimento dos indivíduos e das sociedades a que estes pertencem. Ficou a lei da selva e o salve-se quem puder. Dos níveis socialmente mais básicos, ao vértice da piramide.

A crise política e económica em que vive o nosso país é, antes de mais, uma crise moral. Só a conseguiremos superar quando reconstruirmos as malhas do nosso tecido social e comunitário.

Publicada por rui a. em 04:41

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