Timor-Leste: Médicos cubanos denunciam tirania Havana em Díli
A assiStência Médica cubana em Timor-Leste reproduz no país o controlo e repressão do regime de Havana, afirmaram à Agência Lusa em Díli quatro médicos que pretendem fugir para os Estados Unidos.
Os médicos, que há três meses vivem escondidos em locais diferentes em Díli, acusam a sua embaixada de gerir a «exportação da tirania» de Cuba para Timor-Leste.
«O Partido Comunista Cubano (PCC) funciona em Timor-Leste», acusam os médicos, que citam um funcionário da embaixada cubana, também anestesista no Hospital Central Guido Valadares, em Díli, como o secretário do PCC no país.
«O Partido tem controlo absoluto sobre a brigada, incluindo a vida pessoal de cada médico», declararam à Lusa os quatro cubanos.
Um contingente de quase 230 médicos, a que Havana dá o nome de brigada, está desde 2005 em Timor-Leste, constituindo o pilar do sistema de saúde do país.
Do quotidiano da brigada fazem parte sessões de autocrítica, fixadas em acta, avaliações ideológicas permanentes e uma reunião mensal do PCC em Lahane, na periferia da capital.
«Chamam-lhe a reunião do Imortal para que os timorenses não percebam do que se trata», explicou o médico Alexis Oriol Caceres.
A reunião realiza-se no terceiro domingo de cada mês.
«Cuba reduz a sua estrutura de maioria silenciosa em cada brigada médica. É simples», explica Alexis Oriol Caceres sobre a lógica de reprodução do «totalitarismo».
«É muito eficiente e quase perfeito. Não deixa nenhuma liberdade. Todos nós somos jubilados no 'Big Brother'», acrescentou o médico cubano
Alexis Oriol Caceres continua à espera dos documentos de viagem que pediu na embaixada dos Estados Unidos em Díli.
Como todos os cooperantes cubanos, teve que entregar o seu passaporte à embaixada de Cuba assim que chegou a Timor-Leste.
«No Ministério dos Negócios Estrangeiros timorense disseram-me que eu sou um 'indocumentado'», contou Alexis Oriol Caceres à Lusa.
«Eu não existo. A embaixada até fez desaparecer os meus registos do hospital».
«Limbo é uma palavra demasiado bonita para descrever a minha situação», concluiu o médico, especialista em bioinformática e ex-responsável (até cair em desgraça) pelas tecnologias de informação da embaixada de Cuba.
«Deixei de merecer confiança quando, em 2006, a embaixada descobriu que eu tinha um blogue», contou.
Outros três médicos cubanos vivem na clandestinidade em Díli. Comparando com Alexis Oriol Caceres, estão «um pouco melhor» face à burocracia.
Raidén López Carrillo, a sua mulher, Irina Valdés Pérez, e Miriela Llanes Martínez já obtiveram os documentos de viagem norte-americanos, mas falta-lhes uma autorização de saída do Governo timorense.
Todos, porém, vivem em condições dramáticas desde que abandonaram a brigada médica.
Os quatro têm uma história semelhante: vieram para um país de que mal tinham ouvido falar.
«Mandam-te e tu vens porque afinal é uma grande oportunidade», resume Irina Valdés Pérez.
Em Timor-Leste, cada brigadista ganha 250 dólares mensais (cerca de 173 euros).
«É muito», comparando com o ordenado mensal de um médico em Cuba: 25 dólares (menos de 18 euros).
De qualquer modo, não há escolha, explicam os médicos: «Quem recusa a mobilização já não tem carreira».
No melhor dos cenários, o cooperante cubano é colocado em Díli.
Miriela Llanes Martínez não teve tanta sorte. Foi colocada directamente num subdistrito de Covalima, sudoeste do país, «sozinha, sem saber falar tétum, sem água corrente, sem carro, sem televisão, sem cobertura de telemóvel e com uma bateria que só dava 4 horas de luz por dia».
Só depois de três meses foi colocado outro colega cubano nessa aldeia.
«Passava os dias a chorar. Não tinha com quem falar nem quem visitar. A única ajuda para os casos graves era chamar a Igreja», resumiu a médica.
As «penalizações» são de vária ordem: o não recebimento dos 4.800 dólares pelos dois anos de serviço, ou represálias sobre familiares.
Raidén López Carrillo foi insultado numa reunião do «Imortal», conta o médico, que teve a sua roupa e objectos pessoais «retirados do quarto sem autorização e queimados por ordem da embaixada».
Raidén López Carrillo recebeu o diploma das mãos do próprio líder cubano, Fidel Castro, em 2005, por ter sido o melhor aluno de Medicina da sua província.
Os quatro médicos afirmam que Timor-Leste «ignora» os contornos da repressão comunista na brigada médica.
Salientam, no entanto, que «não é uma coincidência que o embaixador de Cuba, Ramón Hernández Vásquez, membro do Comité Central do PCC, tenha visitado Timor-Leste pela primeira vez como convidado ao congresso da Fretilin em 2006».
Meses depois, apresentava as suas credenciais no Palácio das Cinzas.
Diário Digital / Lusa
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