Saturday, July 28, 2007

ROUBADO NO KONTRATEMPOS

Quinta-feira, Julho 26

O CES E BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS. O Centro de Estudos Sociais da Universidade Coimbra é um excelente pólo académico, de trabalho sério e de investigação científica. Tendo começado com muito pouco, conseguiu já bastante. Esse é um crédito que deve ser atribuído a várias pessoas, mas em particular a Boaventura de Sousa Santos. Dito isto, no âmbito das ciências sociais, «Coimbra» passou a ser entendida como um caso à parte.

Sobretudo desde a década de 1990 até aos nossos dias, «Coimbra» passou a ser sinónimo de BSS, de exclusividade interna do seu aparato teórico e de uma determinada forma de fazer ciência no mínimo discutível, que eu definiria -- na sociologia, sobretudo, onde é evidente o conflito com as restantes escolas e a auto-exclusão -- como uma prática de elevada sistematização teórica e de subvalorização metodológica e empírica. Isto é, formalização da teoria sem qualquer validação no real, ancorada numa filiação pós-moderna.

Isto foi ocorrendo paralelamente a um maior envolvimento de BSS em combates políticos que tornaram nebulosas as relações entre sujeito e objectos de estudo e que permearam de forma muito acentuada os trabalhos desenvolvidos no CES. Com o tempo, «Coimbra» foi solidificando o seu lugar num «paradigma emancipatório» por oposição a um «paradigma regulatório» que supostamente rege as outras escolas, Porto e Lisboa em particular, onde se valorizam coisas como a metodologia e a pluralidade epistemológica.

Vem isto a propósito da notícia que BSS recebeu uma menção honrosa «Libertador ao Pensamento Crítico», entregue por Hugo Chávez, um homem que diariamente cava um regime eminentemente ditatorial na Venezuela e que acaba por ser a expressão política dos esforços académicos de BSS. E isso causa incómodo a várias pessoas que trabalham no CES e que não querem, ou não podem, divergir abertamente do fundador do CES. A progressiva promiscuidade de BSS entre condições sociais (políticas) e condições teóricas (epistemológicas) é uma realidade à medida que o «seu» CES se foi institucionalizando e, em particular, desde que é Laboratório Associado do Estado.

Como se tem visto, BSS gosta muito de falar de liberdades e de pensamento crítico, mas é o primeiro a cair na vertigem do apoio a regimes ditatoriais, desde o recém-chegado Chávez a Fidel Castro. Depois, também é o primeiro a impedir o desenvolvimento de outras correntes teóricas no interior do CES, para além daquelas que vão sempre redundar aos fóruns sociais. Só é pena que dessa forma vá alienando o capital conquistado pelo CES e que, por contaminação, lance o anátema ideológico sobre os muitos projectos sérios que tanta gente ali procura desenvolver. Até quando?
Etiquetas: Boaventura de Sousa Santos, CES, Coimbra, Sociologia


# por Tiago Barbosa Ribeiro em 26.7.07 |

NISTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS NÓS PORTUGUESES TEMOS PARA EXPORTAR, MAS INFELIZMENTE ELES PREFEREM VIVER POR NOSSA CONTA...
AGARRADOS AO ORÇAMENTO ESTÃO FABRICANDO UM "HOMEM NOVO" QUE NINGUÉM QUER A NÃO SER ELES...

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