Miguel Angel Belloso
A crise migratória... e muçulmana
O último número da Actualidad Económica, a revista que dirijo em Espanha, é dedicado à crise dos refugiados, que não é um assunto do momento, mas sim algo que nos acompanhará durante anos. A capa foi a mais complicada que tive como diretor. O subtítulo é aceitável para qualquer pessoa que tenha senso comum: "A avalancha de refugiados desafia a capacidade do Ocidente para aproveitar as vantagens da imigração" (que são muitas do ponto de vista económico e cultural). O título da capa é um pouco mais ousado: "Conseguimos integrar os muçulmanos?" Ousado mas oportuno, porque as evidências mostram que uma parte considerável dos muçulmanos demonstra pouca vontade comunitária, aproveita-se do regime de liberdades para prosseguir com os seus rituais, cultivar os seus dogmas, manter um modo de vida muito diferente e tirar o maior proveito possível do nosso Estado providência pouco oferecendo em troca: o seu empenho em encontrar um emprego é passível de ser melhorado, a sua inclinação para participar na vida social é quase nula. Mas as implicações de os termos entre nós são enormes: exercem uma forte pressão sobre a despesa pública em segurança e em atenção social.
O maior problema foi pensar na ilustração da revista, que o diretor de arte e eu próprio decidimos que seria uma nota de dólar, na qual apareceria não a cara de George Washington, mas antes a de Maomé. Isto gerou uma certa oposição interna com o argumento de que, para os muçulmanos, mostrar publicamente Maomé - apesar de este estar exposto para quem o quiser ver no Google - constitui uma suposta provocação, algo evocador do que fez a publicação satírica francesa Charlie Hebdo induzindo, supostamente, o massacre. Mas por que razão haveria eu de me preocupar com o facto de alguns muçulmanos não gostarem do que faço na minha revista, onde me dedico todos os dias a defender o livre pensamento? A resposta subjacente era clara: porque nos podem matar, como em França.
E assim chegamos à questão relevante: porque não fazemos todos os possíveis para evitar que entre na Europa gente que pode ter a intenção clara de provocar uma carnificina. A avalancha de refugiados tão alegremente saudada por Merkel - que está a gerar uma contestação crescente no seu partido - representa o desafio mais importante do nosso tempo. Há centenas de denúncias acumuladas na Alemanha feitas por mulheres agredidas na noite de passagem de ano por imigrantes árabes, muitos deles refugiados. Conhecemo-las dias depois porque as próprias autoridades queriam evitar a todo o custo ser acusadas de racistas. Poderá haver algum exemplo pior do pensamento politicamente correto?
Como dizemos na Actualidad Económica, para enfrentar o problema da imigração muçulmana convém ter muito presente que nem todas as civilizações são iguais. Nós já levamos algum tempo a viver pacificamente e chegámos à prosperidade com base na tolerância recíproca, na separação do poder político do religioso, na igualdade dos sexos, na neutralidade da justiça e na proteção do cidadão face aos excessos do Estado. Na manutenção de uma sociedade aberta e livre. E isto foi conseguido apesar da esquerda, que parece não o ter percebido. Da esquerda, que é a principal responsável pelo relativismo ético e cultural que domina as nossas sociedades, segundo o qual todas as culturas e instituições políticas - sejam estas a sharia ou as nossas leis - têm o mesmo valor, deveriam ser reconhecidas e aceitadas sem pedir demasiadas contrapartidas.
Mas o recrudescimento da guerra islamita contra o Ocidente pôs em relevo que a política de portas abertas aos muçulmanos fracassou e que a aceitação por parte de muitos membros desta comunidade das nossas regras e normas de convivência deixa bastante a desejar. Não se pode duvidar do carácter pacífico da maioria que convive connosco, mas seria uma cegueira perigosa não reconhecer que uma boa parte das suas convicções dificilmente são compatíveis com as nossas bases éticas e as nossas instituições.
A UE converteu-se num dos destinos preferidos pelos emigrantes para levar uma vida melhor. Mas a atual avalancha de pessoas procedentes de África e do Médio Oriente que querem entrar na Europa a qualquer preço é alarmante. O número dos requerentes de asilo mais os que entram ilegalmente ascendeu a 540 mil pessoas em 2013, 910 mil em 2014 e a 1,5 milhões nos primeiros seis meses de 2015. Creio que quando a imigração é segura, legal e voluntária é a estratégia mais antiga para reduzir a pobreza e fomentar o desenvolvimento humano, como ficou demonstrado na Constituição dos Estados Unidos da América. A diferença é que para lá só iam em busca de uma terra de oportunidades, dispostos a trabalhar arduamente na esperança da recompensa pelo seu esforço, não como acontece na Europa, onde as prestações sociais ilimitadas concedidas pelos Estados providência aumentam o custo dos serviços públicos para os contribuintes do país e fomentam uma cultura da dependência contrária ao espírito pioneiro da antiga emigração.
Quando os pais do prémio Nobel da Economia Milton Friedman, e os da sua mulher, Rose, chegaram aos Estados Unidos não receberam nenhuma subvenção pública. Foram ajudados por familiares e progrediram com o trabalho árduo. Uma política de imigração livre é incompatível com o Estado providência que criámos, e talvez isso fosse uma bênção, pois obrigar-nos-ia a liquidá-lo, tal como hoje o conhecemos, fomentando a cooperação dos cidadãos na sua sustentação ou reduzindo o nível das prestações ou baixando radicalmente os impostos para que cada qual procure a cobertura das suas necessidades perentórias no setor privado, com a maior eficiência possível. Se se tivesse de pagar pela educação, se a assistência na saúde estivesse baseada em seguros privados, se os jovens não tivessem acesso automático às prestações por desemprego e se o mercado de trabalho estivesse desregulamentado, então as bases das vidas dos imigrantes e das suas famílias teriam de ser o trabalho constante e o esforço pessoal, sem o incentivo atual de viver à conta e à custa do Estado.
Mas a questão mais crucial que abordamos na revista é o choque cultural que pode causar a chegada de imigrantes procedentes de sociedades com tradições, costumes e religiões diferentes das dos países que os acolhem. Este é um problema causado sobretudo pelos muçulmanos que resistem a aceitar os valores ocidentais de respeito pelas opiniões dos demais - como exemplificaram os meus colegas jornalistas que se opunham à capa da revista - ou à separação entre a Igreja e o Estado. Enfrentar este problema constitui um desafio colossal porque, como vimos, muitos deles que já vivem entre nós, e outros que vêm na condição de refugiados, estão dispostos a abusar das nossas liberdades, a violar as nossas jovens, a rebentar com as nossas tradições ou simplesmente a matar-nos. A conclusão é clara. Muitos imigrantes aceitaram as nossas regras do jogo. E isso é uma coisa boa. Mas deveríamos evitar arranjar lugar para os que não estiverem dispostos a isso.
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