Damaia. "Aqui dentro é a nossa África. Deixem-nos em paz"
No bairro 6 de Maio ninguém duvida que Diogo Seidi morreu devido a agressões da polícia
Hora de almoço e a casa de Diogo está cheia. A barraca é um corredor com três portas do lado esquerdo e quatro do direito. O corrupio é normal, basta reparar no soalho, gasto no centro. Mas o altar, montado na última porta à direita, mostra que tudo mudou. "Onde está a fotografia dele que estava aqui na frente da vela?", pergunta Ermelinda Jorge com a aflição de quem perde um filho pela segunda vez no espaço de 48 horas. Desta vez foi só o susto. A fotografia de Diogo estava afinal na mão de um dos amigos.
A morte do rapaz de 15 anos - internado há um mês - é vista pelos moradores do bairro 6 de Maio, na Damaia, como consequência de um espancamento por agentes da PSP. O desejo de vingança dos amigos foi o rastilho dos distúrbios da madrugada de ontem.
Diogo Seidi, ou "Mucho", como era conhecido, negou sempre à família ter sido agredido na esquadra de Alfragide para onde foi levado a 10 de Maio, após ser apanhado em flagrante pela polícia a assaltar o supermercado Minipreço na Falagueira. No dia seguinte as queixas começaram na sala, no mesmo local onde agora está o altar. Mucho começou a ver mal e vomitou várias vezes. A família levou-o para o Hospital de Amadora-Sintra, onde acabou por morrer na quarta-feira na sequência de um segundo AVC. Durante o internamento, de cerca de um mês, foi transferido para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde foi operado.
A versão de Diogo, de que só teria levado "umas chapadas na esquadra de Alfragide", não convence nem a família nem os amigos do rapaz, que é descrito como reservado.
Ao lado de Ermelinda, o tio Domingos Pina confessa que num dos dias que o foi visitar ao Hospital Amadora-Sintra este estava a dormir e suplicava à polícia que parasse de lhe bater. "Ele nunca nos disse a verdade, mas nós sabemos que a polícia lhe bateu. Eles gozam com os pretos, ainda hoje estavam a provocar-nos de dentro das carrinhas para ver se nós respondíamos e aí atacavam", critica o são-tomense de 39 anos que já nasceu naquele bairro da Damaia.
Não é que Mucho fosse um santo, mas para quem mora no 6 de Maio, como Sónia Pereira (nome fictício), a venda de droga e os roubos são coisas normais. "Esta é outra realidade, não há trabalho. Aqui dentro é a nossa África. Deixem-nos em Paz", desabafa esta prima de Diogo.
AUSÊNCIA DE QUEIXA O adolescente que morreu e outros três amigos terão sido detidos em flagrante delito e conduzidos à esquadra, onde tiveram, segundo a polícia, direito a defensores oficiosos. A PSP assegurou ainda em comunicado que Diogo saiu pelo próprio pé e acompanhado por uma familiar, não tendo sido apresentada qualquer denúncia por maus-tratos.
A prima que pede uma postura diferente da PSP, uma auxiliar de acção médica de 37 anos, tenta desmontar os argumentos dos dois lados da barricadas: "Não vamos estar aqui com coisas. O Diogo não era um santo, mas estes polícias também não são e todos sabemos que se alguém fosse lá apresentar queixa deles, também apanhava." Apoiada num dos muros desencontrados do pátio - feito de tijolo, plástico e lixo - em frente à porta do casebre, a são tomense de 37 anos controla o corrupio de visitas à família.
Os amigos que vão passando pela porta não falam. Só Marcos Fernandes. Confirma a desconfiança do tio de Diogo: "Ele foi espancado, não contou à família, mas a mim contou-me. Foram vários os agentes que o agrediram nas horas que passou dentro da esquadra e pela minha experiência pessoal é obvio que apanhou com força".
Jakilson Pereira, técnico social da Associação Moinho da Juventude, na vizinha Cova da Moura, concorda. "Os putos são todos agredidos pela polícia. Alguns não contam porque os agentes os ameaçaram, outros porque têm receio de ser gozados pelos amigos", diz, adiantando que conhece muito bem este caso.
Sónia continua ali ao lado com um humor instável, oscila entre o choro e a gargalhada sem sentido. Contrasta, aliás, com a serenidade inalterável da mãe de Diogo, a sua tia, e com a boa disposição das restantes primas. No bairro cada um se expressa à sua maneira e de forma natural, porque ninguém toma calmantes ou vai ao psicólogo. "Para nós isto é uma situação normal, remédios e médicos é para quem não está habituado. Aqui sabemos que temos de ser mais fortes e que a qualquer momento pode acontecer uma coisa destas", confidencia Sónia.
Porém para a PSP esta situação não é normal e por isso foi já aberto um inquérito para apurar se existe alguma ligação entre o que se passou no dia 10 de Maio e a morte de Diogo Seidi. A polícia que entretanto reforçou a presença no bairro para evitar novos episódios de violência como os da última madrugada já fez saber que espera ainda pelo resultado da autópsia que será fundamental para o desfecho deste processo.
No 6 de Maio continuavam ontem várias carrinhas do corpo de intervenção e um grupo de agentes em cada "boca" do bairro, mas a maioria dos destacados para por fim aos distúrbios já lá não estava. "O grosso dos meios que ali estava destacado já foi desmobilizado, mas vamos continuar a monitorizar a situação quer através de uma presença mais discreta, quer pela passagem de equipas, algumas delas à civil", disse fonte policial à Lusa , garantindo que a polícia não irá "descurar a vigilância". Antes da chegada da polícia ao local há relatos de tiros, de apedrejamentos, de carros incendiados e ruas bloqueadas com sofás velhos e caixotes do lixo.
São casos como os de Diogo, mas também as barreiras sociais e culturais que fazem com que no bairro 6 de Maio a vida seja vivida um dia de cada vez e todos contra a polícia. Depois de duas horas de reportagem com a população do bairro, somos convidados pela família a mostrar a identificação. "Querem ver que estes são polícias e estamos a dar o ouro ao bandido, mostrem os vossos documentos", ordena a prima Sónia, numa das suas mudanças bruscas de humor.
A RAPAZIADA DEMOCRATA DEPOIS DA ENTREGA DE TUDO O QUE TINHA PRETO E NÃO ERA NOSSO E COM EXPULSÕES E CONFISCOS AGORA ANDA A COLONIZAR-NOS E A IMPORTAR A GUERRILHA...POR CONTA DO ERÁRIO...
A morte do rapaz de 15 anos - internado há um mês - é vista pelos moradores do bairro 6 de Maio, na Damaia, como consequência de um espancamento por agentes da PSP. O desejo de vingança dos amigos foi o rastilho dos distúrbios da madrugada de ontem.
Diogo Seidi, ou "Mucho", como era conhecido, negou sempre à família ter sido agredido na esquadra de Alfragide para onde foi levado a 10 de Maio, após ser apanhado em flagrante pela polícia a assaltar o supermercado Minipreço na Falagueira. No dia seguinte as queixas começaram na sala, no mesmo local onde agora está o altar. Mucho começou a ver mal e vomitou várias vezes. A família levou-o para o Hospital de Amadora-Sintra, onde acabou por morrer na quarta-feira na sequência de um segundo AVC. Durante o internamento, de cerca de um mês, foi transferido para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde foi operado.
A versão de Diogo, de que só teria levado "umas chapadas na esquadra de Alfragide", não convence nem a família nem os amigos do rapaz, que é descrito como reservado.
Ao lado de Ermelinda, o tio Domingos Pina confessa que num dos dias que o foi visitar ao Hospital Amadora-Sintra este estava a dormir e suplicava à polícia que parasse de lhe bater. "Ele nunca nos disse a verdade, mas nós sabemos que a polícia lhe bateu. Eles gozam com os pretos, ainda hoje estavam a provocar-nos de dentro das carrinhas para ver se nós respondíamos e aí atacavam", critica o são-tomense de 39 anos que já nasceu naquele bairro da Damaia.
Não é que Mucho fosse um santo, mas para quem mora no 6 de Maio, como Sónia Pereira (nome fictício), a venda de droga e os roubos são coisas normais. "Esta é outra realidade, não há trabalho. Aqui dentro é a nossa África. Deixem-nos em Paz", desabafa esta prima de Diogo.
AUSÊNCIA DE QUEIXA O adolescente que morreu e outros três amigos terão sido detidos em flagrante delito e conduzidos à esquadra, onde tiveram, segundo a polícia, direito a defensores oficiosos. A PSP assegurou ainda em comunicado que Diogo saiu pelo próprio pé e acompanhado por uma familiar, não tendo sido apresentada qualquer denúncia por maus-tratos.
A prima que pede uma postura diferente da PSP, uma auxiliar de acção médica de 37 anos, tenta desmontar os argumentos dos dois lados da barricadas: "Não vamos estar aqui com coisas. O Diogo não era um santo, mas estes polícias também não são e todos sabemos que se alguém fosse lá apresentar queixa deles, também apanhava." Apoiada num dos muros desencontrados do pátio - feito de tijolo, plástico e lixo - em frente à porta do casebre, a são tomense de 37 anos controla o corrupio de visitas à família.
Os amigos que vão passando pela porta não falam. Só Marcos Fernandes. Confirma a desconfiança do tio de Diogo: "Ele foi espancado, não contou à família, mas a mim contou-me. Foram vários os agentes que o agrediram nas horas que passou dentro da esquadra e pela minha experiência pessoal é obvio que apanhou com força".
Jakilson Pereira, técnico social da Associação Moinho da Juventude, na vizinha Cova da Moura, concorda. "Os putos são todos agredidos pela polícia. Alguns não contam porque os agentes os ameaçaram, outros porque têm receio de ser gozados pelos amigos", diz, adiantando que conhece muito bem este caso.
Sónia continua ali ao lado com um humor instável, oscila entre o choro e a gargalhada sem sentido. Contrasta, aliás, com a serenidade inalterável da mãe de Diogo, a sua tia, e com a boa disposição das restantes primas. No bairro cada um se expressa à sua maneira e de forma natural, porque ninguém toma calmantes ou vai ao psicólogo. "Para nós isto é uma situação normal, remédios e médicos é para quem não está habituado. Aqui sabemos que temos de ser mais fortes e que a qualquer momento pode acontecer uma coisa destas", confidencia Sónia.
Porém para a PSP esta situação não é normal e por isso foi já aberto um inquérito para apurar se existe alguma ligação entre o que se passou no dia 10 de Maio e a morte de Diogo Seidi. A polícia que entretanto reforçou a presença no bairro para evitar novos episódios de violência como os da última madrugada já fez saber que espera ainda pelo resultado da autópsia que será fundamental para o desfecho deste processo.
No 6 de Maio continuavam ontem várias carrinhas do corpo de intervenção e um grupo de agentes em cada "boca" do bairro, mas a maioria dos destacados para por fim aos distúrbios já lá não estava. "O grosso dos meios que ali estava destacado já foi desmobilizado, mas vamos continuar a monitorizar a situação quer através de uma presença mais discreta, quer pela passagem de equipas, algumas delas à civil", disse fonte policial à Lusa , garantindo que a polícia não irá "descurar a vigilância". Antes da chegada da polícia ao local há relatos de tiros, de apedrejamentos, de carros incendiados e ruas bloqueadas com sofás velhos e caixotes do lixo.
São casos como os de Diogo, mas também as barreiras sociais e culturais que fazem com que no bairro 6 de Maio a vida seja vivida um dia de cada vez e todos contra a polícia. Depois de duas horas de reportagem com a população do bairro, somos convidados pela família a mostrar a identificação. "Querem ver que estes são polícias e estamos a dar o ouro ao bandido, mostrem os vossos documentos", ordena a prima Sónia, numa das suas mudanças bruscas de humor.
A RAPAZIADA DEMOCRATA DEPOIS DA ENTREGA DE TUDO O QUE TINHA PRETO E NÃO ERA NOSSO E COM EXPULSÕES E CONFISCOS AGORA ANDA A COLONIZAR-NOS E A IMPORTAR A GUERRILHA...POR CONTA DO ERÁRIO...
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