QUINTA-FEIRA, 19 DE JULHO DE 2012
A tomada do PSD pela Maçonaria
(Atualizado)
Foto no portal do Grande Oriente do Brasil - Rio de Janeiro
Prof. Manuel de Almeida Damásio nas bodas de ouro do Colégio Paraíso (fundado por Matatias Bussinger)
São Gonçalo, Rio de Janeiro, 18-9-2008
Com a presença de Maçons das Lojas Monte Ararat, Cruzeiro do Sul e Joaquim Rodrigues d´Abreu
(ver também: Grande Oriente do Brasil)
Para eles, no princípio era a Maçonaria, e a Maçonaria estava com o poder, e a Maçonaria era o poder. Ordo ab chao.
A Maçonaria compreendeu que o regime autoritário socratino tinha começado o seu declínio na primavera de 2007, na sequência do que chamámos a Páscoa da Cidadania que explorou o escândalo do percurso académico do ex-primeiro-ministro e modificou para sempre o horizonte mediático português. Lançado por mim, aqui neste blogue, em 22 de fevereiro de 2005, imediatamente após as eleições legislativas, o escândalo explodiu da panela de pressão onde os editores de confiança o tapavam e deu azo à indignação ativa, internética, do povo leitor e editor, objeto e sujeito de informação. Sabendo que a perda de legitimidade moral antecipa a perda do poder, pois a nave do governo afunda-se na primeira tempestade económica que enfrente sem o lastro da confiança popular, assustado com a desorientação socratina, um setor dominante da Maçonaria do Grande Oriente Lusitano (GOL), em aliança com um setor irregular da Maçonaria regular, decidiu tomar o PSD. Aliás, o atual grão-mestre do Grande Oriente Lusitano, desde 4 de junho de 2011, é o Dr. Fernando Lima de Valadas Fernandes, ex-presidente da Engil, atual presidente da Abrantina e presidente da Galilei (ex-SLN), e que foi situado por António Capucho no apoio a Pedro Passos Coelho («O novo grão-mestre estava lá na vitória eleitoral de Passos Coelho, ao que me dizem», disse o ex-conselheiro de Estado ao CM, 19-2-2012).
Entre outros, os cinco motivos da decisão preventiva da Maçonaria de tomada do PSD eram os seguintes:
Inquietava o cavaquismo no PSD, que levaria Manuela Ferreira Leite, à liderança do partido, substituindo Luís Marques Mendes, cuja liderança também não agradava, para além da autonomia da Presidência da República
Preocupava muito, pelos efeitos, a médio-prazo, de contra-ataque sobre a organização, a deriva autoritária de Sócrates, ex-genro do venerável José Manuel Fava, num partido em que nas estruturas dirigentes quase só não é maçon quem for daquele grupo decorativo pós-guterrista da Opus Dei que se apresenta nas listas e bancadas;
Ameaça a independência das bases do poder judicial, que as cúpulas fraternas não conseguiam controlar, a fluidez dos grandes negócios de Estado - e ainda não estava sanado o perigo da investigação sobre as franjas da pedofilia da Casa Pia que havia perturbado seriamente a pretendida idoneidade universal dos membros da organização
Temia-se a rutura pós-socratina do povo com a Maçonaria, com a corrupção de Estado e com a promiscuidade do poder político com a aliança bancário-construtora.
Aborrecia a combatividade de um setor patriótico ativo, que denunciava escândalos, expunha relações espúrias do poder e coemçava a estabelecer ligações políticas.
Por isso, definiu-se um projeto de tomada do PSD pela Maçonaria. Esse projeto baseou-se na alimentação mediática e no agasalho de um grupo de jovens turcos, laicos, cooptados por interesses económicos comprometidos com o poder socialista, que apresentavam uma ideologia variável entre o tardo-liberalismo e a arqui-social-democracia, geometricamente bloco-centralista e politicamente sistémico. A escolha dos kingmakers maçónicos recaíu sobre o tandem Pedro Passos Coelho-Miguel Relvas. Os mentores e os financiadores ficaram ocultos.
A alimentação mediática do grupo foi realizada pelos media de confiança socratinos e pelas antenas na sociedade civil, como forma de erodir Cavaco Silva e o PSD autónomo. Assim se garantiu tempo de antena e endosso de apoios.
E o agasalho foi providenciado pelo setor das obras públicas e da finança e ainda pela Universidade Lusófona que emprestava instalações e meios para reuniões e campanha - para além do apadrinhamento benevolente de Mário Soares e o apoio encoberto de José Sócrates (durante a primeira fase). Note-se que o custo de uma campanha política, em instalações, em materiais de campanha, em comunicações, em transporte, em refeições caras, em contratação de serviços e colaboradores, é demasiado dispendioso para ser realizado por um grupo sem financiamento. Neste caso, a campanha durou mais de três anos, com a primeira fase, a conquista interna do partido, a ser ainda mais dura do que a assunção do poder do Estado, pois a expetativa dos financiadores potenciais (os setores afetados por decisões políticas, como construtoras e bancos, etc.) em termos da esperada reciprocidade dos apoios é baixa, prudente e esquiva. Iso é, a fase dura é a conquista do partido, já que uma vez assegurada a vitória interna, logo chegam as ofertas.
O caso da Universidade Lusófona, uma «universidade maçónica» (o linque http://www.sabado.pt/Ultima-hora/Politica/Lusofona--Relvas-e-Damasio-sao-ambos-do-GOL.aspx já não funciona, mas o texto está transcrito abaixo, neste poste...) de génese e prática - curiosamente vizinha do colégio Pio XII -, é uma adaptação da tentativa de conquista do poder no PSD e no CDS por um grupo financiado e municiado nos apoios pela Universidade Moderna/Maçonaria da Casa do Sino. Mas essa foi uma tentativa de um grupo, mentorizado pelo professor J.J. Gonçalves e, paradoxalmente, arruinado pelo espalhafato e despesismo dos operacionais. A Universidade Lusófona é o produto paciente de um projeto nascido na Maçonaria, erguido em aliança com ex-padres, sacristãos e católicos, com destaque, para Fernando dos Santos Neves e Teresa Costa Macedo (muito útil para a expansão nos anos pios e cavaquistas e, depois, alijada quando já não era necessária, num conflito com acusações sobre a gestão de Manuel Damásio, resolvido por acordo financeiro). Mas, sobre o reitor Fernando dos Santos Neves, prepondera na universidade o Prof. Manuel de Almeida Damásio, maçon do Grande Oriente Lusitano - uma questão que não é nada «irrelevante» - até porque pertence à mesma obediência de Miguel Relvas, de acordo com a revista Sábado de 12-7-2012... Segundo a TVI, em 2006, quando Miguel Relvas se candidata à Universidade Lusófona, já seriam, ele e Manuel de Almeida Damásio, «irmãos» no GOL. E o Grupo Lusófona terá cedido instalações à campanha interna de Passos Coelho à liderança do PSD, em 2008 e 2010, segundo o CM, de 9-7-2012.
Progride primeiro lentamente, no fundo da tabela da qualidade, com o Instituto Superior de Matemática e Gestão (ISMAG) de Lisboa, criado em 1989, através da Portaria n.º 808/89, de 12 de setembro, nos tempos de ressaca após a cisão da Universidade Livre, em 1986, até à constituição como Universidade Lusófona, já no consulado socialista, em 1989, pelo Decreto-Lei n.º 92/98, de 14 de abril. Em seguida, ganha uma velocidade de cruzeiro, aproveitando as autorizações socialistas para a criação de licenciaturas, apostando em mestrados e depois em doutoramentos, aproveitando a decadência das outras, expandindo-se pelos canais maçónicos existentes no Brasil e desenvolvidos em África, absorvendo escolas universitárias pelo país inteiro com relevo para o ISG, INP e ISLAs, até se tornar a maior universidade privada portuguesa e o maior grupo universitário português a nível mundial: «onze instituições de ensino superior em Portugal, seis instituições universitárias noutros Países de língua Portuguesa, nomeadamente no Brasil e em Moçambique, para além de catorze escolas não superiores em Portugal e no Brasil», atingindo os 25 mil alunos. Um projeto de raiz universitária, que se alonga para outros níveis educativos - secundário, básico e pré-escolar -, se prolonga pelas rotas lusófonas para o Brasil e África, se alarga a outros setores como a saúde.
Mas o projeto da Maçonaria com banqueiros/construtores e a Lusófona para a tomada do PSD, 2008-?, é diferente daquele executado na Moderna, ainda que tenha um princípio semelhante de articulação entre a Maçonaria e uma universidade. O que os distingue é o financiamento construtor e bancário. É um projeto discreto, e calculado, de um setor da Maçonaria do Grande Oriente Lusitano, radicado na Loja Universalis com um setor irregular da Maçonaria regular, com base na Loja Mozart. Tratava-se de defender as colunas do poder político, já controlado pela maçonaria socialista e bloco-centralista (com ligação ao CDS, do tesoureiro Abel Pinheiro ao líder parlamentar Nuno Magalhães!...) contra a ameaça católica. E, ao mesmo tempo que se manteria o PS em mãos de confiança, fosse nas fraternais de António Costa fosse noutras quaisquer, mas seguras, conquistar-se-ia o PSD, o partido dos católicos, de maioria sociológica anti-maçónica, o partido que foi de Francisco Sá Carneiro e de Aníbal Cavaco Silva, para a organização. Um take-over de aparência interno, estilo MBO, pelos uomini di paglia ex-jotas proletários dos cartazes e bares, a quem convinha que os banqueiros, construtores e académicos providenciassem currículo.
O projeto sucedeu. Está agora sob fogo, quando as colunas aliadas de esquivam e os sacos de areia se despejam. Sem força moralç, não creio que dure. E o País vai soçobrando nestes projetos de poder e dinheiro.
Em abono da tese que aqui descubro, atente-se a esta notícia explicativa da Sábado, de 12-7-2012:
«Lusófona: Relvas e Damásio são irmãos na Maçonaria
12-07-2012, por Fernando Esteves, Nuno Tiago Pinto e Vítor Matos
O ministro e o administrador da universidade pertencem à mesma obediência maçónica, o Grande Oriente Lusitano
Miguel Relvas e Manuel Damásio, presidente do Conselho de Administração da Universidade Lusófona, pertencem ao Grande Oriente Lusitano (GOL). No momento em que o então deputado do PSD entrou na universidade já faziam ambos parte da maior obediência maçónica portuguesa. Miguel Relvas frequentava a loja Universalis, a que ainda hoje pertence. Manuel Damásio estava numa loja em que se encontravam também outros elementos da Universidade Lusófona.
Essa loja sofreu entretanto uma cisão interna, tendo dado origem a outras de dimensão mais reduzida. É numa delas que se encontra Manuel Damásio, juntamente com alguns professores daquela instituição de ensino superior. Em resposta a uma pergunta da SÁBADO, Miguel Relvas diz apenas que nunca se encontrou com Manuel Damásio em eventos maçónicos, mas não nega a pertença à organização.
A loja Universalis é considerada a mais poderosa do GOL. Nos seus quadros estão empresários e políticos de todos os quadrantes. A Universalis tem relações privilegiadas com a influente loja Mozart, da Grande Loja Legal de Portugal (a outra obediência existente em Portugal), a que pertencem, entre outros, o ex-espião Jorge Silva Carvalho, Nuno Vasconcellos, presidente da Ongoing, Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD, e vários elementos dos serviços secretos. As duas lojas chegaram a reunir regularmente em jantares no restaurante Vela Latina, em Lisboa, no sentido de concertarem esforços de aproximação das duas maçonarias.
A SÁBADO apurou que vários membros da loja Mozart são professores na Universidade Lusófona. Fontes ligadas à instituição garantiram à SÁBADO que esta “é uma universidade maçónica”, que acolhe numerosos membros das duas maiores obediências nacionais. Esse facto provoca incómodo junto de uma parte do corpo docente, que neste momento não esconde a sua insatisfação com a forma como esta polémica tem exposto os métodos de atribuição de equivalências praticados na universidade.»
Já se tinha percebido. Já comentei acima. Estamos no prelúdio de um fim anunciado. Agora vão tinir as armas.
Atualização: este poste foi atualizado e emendado às 17:48 de 19-7-2012.
Limitação de responsabilidade (disclaimer): As entidades referidas nas notícias dos media, que comento, não são arguidos ou suspeitos do cometimento de qualquer ilegalidade ou irregularidade neste caso.
Publicado por António Balbino Caldeira em 2:17:00 PM 59 comentários
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