Saturday, August 4, 2007
SOARES A NEGOCIAR COM TERRORISTAS
Sexta-feira, Agosto 03, 2007
Made in USA
Foto pirateada ao Abnóxio.
«Em Abril de 1963, de passagem por Leopoldville, o recepcionista negro do hotel onde me hospedava perguntou-me se eu desejava conhecer Holden Roberto, o "grande chefe". Aceitei com ambas as mãos esta proposta e, minutos mais tarde, dois Africanos batiam à porta do meu quarto para me conduzirem à sede do governo angolano no exílio (GRAE), situada em pleno centro da cidade. A rua estava repleta de Negros e uma fila de automóveis, cada qual mais caro que o outro, estacionava em frente de uma moradia cuja escadaria parecia desmoronar-se sob um cacho humano. No pátio, uma centena de homens e mulheres atarefava-se em redor de fogueiras onde preparam refeições enquanto um grupo de jovens fazia exercícios de ginástica. Informaram-me complacentemente que se tratava da guarda pessoal do "Primeiro Ministro".
Ao entrar no edifício, lembro-me que quase ia rebentando a rir quando li, numa correnteza de portas, os seguintes letreiros: "Gabinete do Primeiro Ministro", "Gabinete do Interior", "Gabinete de Toilette", "Gabinete dos Negócios Estrangeiros", "Gabinete da Guerra", "Gabinete dos Refugiados". Rodeado pelo seu "Gabinete", Holden Roberto recebeu-me, visivelmente satisfeito por discutir com um jornalista chegado da América, país reputado rico e generoso, visto que, desde o princípio, logo me falou de dinheiro. Enquanto fazia o elogio da América, que havia visitado em 1959, Holden Roberto disse-me sem delongas:
- Temos tudo o que precisamos menos dinheiro. Ajude-nos, escreva sobre a nossa causa e diga que homens não nos faltam; cérebros e armas também não. Só não temos dinheiro.
- Mas para quê dinheiro, se possuem homens e armas, que é o essencial? - retorqui-lhe ingenuamente.
- Ora, para ajudar o povo, os 300 000 refugiados angolanos que presentemente vivem no Congo Belga - replicou ele.
Estes 300 000 refugiados - gozando de auxílio internacional - tinham vindo aumentar as fileiras dos ladrões e dos preguiçosos, dando fortes dores de cabeça ao governo congolês. Holden Roberto parecia bastante seguro de si e propôs-me ir visitar um dos campos militares, situados perto da fronteira angolana, em Kinkuzu, conhecido por ser uma importante base terrorista.
- Quantos homens em armas tem você? - perguntei.
- Aqui, em treino, dez mil; vinte mil a combater em Angola, e outro tanto à espera de receber instrução militar.
Holden Roberto estava longe de dizer a verdade, pois apenas se avaliava em dez mil o número dos seus homens, quer a combater, quer em treinos. Quanto a cérebros, havia em seu redor alguns antigos enfermeiros, alguns escriturários, com a ajuda dos quais ele pretendia dirigir os destinos de uma Angola independente. Porém, onde Roberto não mentia era quando afirmava que armas não faltavam. Os seus homens, cuja maioria havia tomado parte na carnificina, tinham à disposição carabinas-metralhadoras, morteiros e até minas. O armazém de armas e munições da U.P.A. era o próprio arsenal congolês, pois os soldados de Mobutu trocavam sem dificuldade o seu material por dinheiro ou álcool. Mais ainda, até à partida da ONU, os Ganeses, Marroquinos e Tunisinos haviam igualmente contribuído para equipar a U.P.A.»
- Mugur Valahu, "Angola, Chave de África"
Holden Roberto morreu ontem. Tinha 84 anos. Estou certo que o nosso actual governo - com um sobado moderno e gabinetes ministeriais em tudo semelhantes ao da UPA acima descritos - não deixará de enviar sentidas condolências pelo falecimento de tão ilustre antepassado.
Entretanto, nos cemitérios de Luanda, os vermes entraram em greve de fome. Argumentam que é contra o seu código deontológico cometer canibalismo. Vai ser uma demorada putrefacção.
- posted by dragão @ 8/03/2007 05:24:00 PM 5 comments links to this post
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