Sociedade Aberta
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Os média e a crise no PS
É reconhecido por todos que António Costa tem "boa imprensa", enquanto António José Seguro tem "má imprensa".
O que é estranho é que isso seja aceite acriticamente, como um facto estabelecido e normal, em vez de desencadear uma reflexão sobre a qualidade - ou mesmo a integridade - do jornalismo e da análise política entre nós.
Pense-se, por exemplo, na proposta de Seguro para a realização de eleições primárias no PS, com vista à escolha do candidato do partido a primeiro-ministro, abertas a militantes e simpatizantes. Ela é geralmente apresentada como um gesto de oportunismo político, em vez de ser analisada pelos seus méritos próprios e em função da abertura dos partidos à sociedade civil, tão reclamada por todos. Embora entrando aqui num raciocínio contrafactual - e, como tal, falível - parece-me claro que, se a mesma proposta fosse apresentada por Costa, seria imediatamente acolhida como uma inovação bem-vinda e uma oportunidade para a renovação do funcionamento dos partidos políticos em Portugal.
Considere-se, para dar outro exemplo, a atitude de Costa e Seguro no contacto directo com as pessoas. Qualquer jornalista que acompanhe os dois sabe que Seguro está perfeitamente à vontade no meio do povo, enquanto Costa denota incomodidade física. Não há aqui motivo de notícia e análise? Não revela isto algo politicamente relevante na personalidade dos dois? Se a atitude dos dois fosse ao contrário, se Seguro mostrasse repugnância no contacto físico com o povo e Costa estivesse à vontade, não seria isso motivo de atenção mediática?
Os exemplos podiam multiplicar-se. Mas a questão é esta: por que razão jornalistas e analistas são geralmente favoráveis a Costa e desfavoráveis a Seguro?
A resposta é relativamente simples: Costa pertence ao mesmo grupo social da maior parte dos jornalistas e comentadores. Trata-se de um grupo que olha para o país com superioridade, mas que considera Costa como um deles. Costa fala como eles, tem as mesmas referências, os mesmos amigos. Neste aspecto, Seguro é um ‘outsider'. Nada tem a ver com os meios jornalísticos e intelectuais de Lisboa. As suas preocupações são distintas, o seu modo de falar diferente. Por isso é objecto de desconfiança e maltratado.
Se a política portuguesa tivesse já ultrapassado a fase oligárquica, o facto de Seguro vir de fora dos círculos habituais de poder e influência seria valorizado e não desvalorizado. Por exemplo nos Estados Unidos, onde a política é mais aberta e democrática, existe uma grande valorização daqueles que são percepcionados como exteriores ao sistema e aos círculos de interesse de Washington. Mas a política portuguesa continua a ser à moda antiga: um ‘old boys network'. Até quando?
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