Um furacão chamado 'Ventura'
Ora, perante os resultados eleitorais, percebemos que foi uma análise completamente falhada. Sendo que a campanha eleitoral se reduziu praticamente aos debates, se Ventura tivesse perdido com todos não ficaria certamente à frente de quase todos...
No primeiro artigo que escrevi nesta coluna sobre as presidenciais, esbocei a traços muito largos o modo como via a distribuição dos votos.
Considerei que Marcelo Rebelo de Sousa, sendo Presidente-recandidato, tendo feito um mandato tranquilo e generoso, e representando o centrão, conseguiria fixar 65% dos votos.
Ficariam, assim, 35% para distribuir.
Desses, 20% estariam à sua esquerda e 15% à sua direita.
Ora bem: Marcelo Rebelo de Sousa teve 60,7% dos votos, os partidos à sua esquerda tiveram 21,24%, e os partidos à sua direita 15,12%. Falhei um pouco em Marcelo, mas quase acertei nos outros.
Isto mostra que a lógica não é uma batata.
É bom comparar o que os analistas dizem antes das eleições com os resultados… e com o que dizem depois.
Como voltar a acreditar num comentador que falhou rotundamente no passado?
Recordo, a propósito, que os comentadores do Expresso (organizados em poule), consideraram que André Ventura perdeu todos os debates com os outros candidatos, sendo o mais fraco dos sete.
Ora, perante os resultados eleitorais, percebemos que foi uma análise completamente falhada. Sendo que a campanha eleitoral se reduziu praticamente aos debates, se Ventura tivesse perdido com todos não ficaria certamente à frente de quase todos...
O que irão escrever esses ‘comentadores’ nos próximos artigos?
Deve dizer-se que a cobertura da campanha de André Ventura por parte das televisões, dos jornais e das revistas roçou o escandaloso.
Desde a famosa entrevista de João Adelino Faria na RTP a uma grande reportagem na SIC, financiada pela Gulbenkian, transmitida várias vezes durante a campanha eleitoral, cujo objetivo declarado era destruir o candidato Ventura, a falta de isenção chegou a ser chocante.
Ficou a impressão de que, como consideravam Ventura ‘um fascista’, os jornalistas achavam que podiam atropelar a deontologia, deitar fora os princípios e ignorar a verdade, desde que isso contribuísse para o ‘bem superior’ de lhe roubar votos.
Foi deplorável. A democracia não é isto. Ao transgredirmos as regras para destruirmos um adversário, estamos a legitimar que ele faça o mesmo.
Acresce que os jornalistas não devem ter ‘adversários’, porque a sua norma de conduta deve ser a isenção.
Do que fica dito, torna-se claro que o grande protagonista destas eleições foi André Ventura, que, como um abalo sísmico, mudou por completo o panorama político. E o pior que pode haver é fechar os olhos a essa realidade.
Repare-se: há cinco anos, os candidatos da esquerda tinham obtido juntos 41,22%; agora tiveram 21,24%. Metade.
E se é certo que alguns eleitores de esquerda mudaram de voto por terem sido seduzidos pela moderação (e pelos afetos) de Marcelo, o grande obreiro desta revolução foi Ventura.
A prova disso foram os votos que obteve no Alentejo – Beja, Évora e Portalegre –, onde ganhou sempre ao PCP.
Não deve esquecer-se, entretanto, que Ventura falhou o objetivo que se tinha proposto: ficar à frente de Ana Gomes.
E isto terá acontecido por duas razões: por ter radicalizado excessivamente a campanha, agredindo alguns adversários de forma gratuita e deselegante, e porque Ana Gomes beneficiou do voto útil da esquerda, exatamente para impedir que Ventura ficasse em segundo lugar.
E COMO DIZ O ARROJA TEMOS ESTADO DE DIREITO MAS NÃO ESTADO DE JUSTIÇA...
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