Monday, December 23, 2019
O RUI PINTO AINDA VAI VIRAR UM NOVO ARISTIDES DA SOUSA MENDES...
Entrevista com Rui Pinto de vazamentos de futebol
'Tem sido a mesma merda há anos'
Rui Pinto, o rosto do Football Leaks, passou os últimos nove meses na prisão. Pela primeira vez, ele está falando sobre as 147 acusações contra ele e seu tempo gasto em prisão preventiva.
Entrevista conduzida por Rafael Buschmann e Christoph Winterbach
Rui Pinto
20 de dezembro de 2019 às 16:05ImpressãoComentáriosComente
A prisão onde está atualmente o promotor mais difícil da indústria do futebol está localizada no centro da cidade de Lisboa. Um caminho entre prédios cinza de vários andares termina em frente ao muro alto das instalações policiais, coberto com arame farpado em espiral. O silêncio domina aqui nesta segunda-feira de manhã, interrompido apenas pelos anúncios dos guardas pelos alto-falantes.
Há cerca de nove meses, esta prisão abriga Rui Pinto, o homem por trás do Football Leaks. No período desde 2016, Pinto forneceu ao DER SPIEGEL mais de 70 milhões de documentos, que a revista analisou junto com seus parceiros na rede de jornalistas da European Investigative Collaborations (EIC). Os documentos foram as fontes de mais de 1.000 artigos, muitos dos quais desencadearam procedimentos legais.
Até agora, porém, Pinto é a única pessoa que foi colocada na prisão como resultado das revelações. As autoridades prenderam o nacional português de 31 anos em Budapeste em janeiro passado e o extraditaram para Lisboa em março. O promotor nacional acusou Pinto de 147 delitos, incluindo tentativa de extorsão, cibercrime e violação das leis de sigilo postal.
Após meses de recusa, o judiciário português concedeu recentemente permissão para uma entrevista. Pinto está agora falando pela primeira vez sobre as acusações, seu tempo na prisão e o julgamento que se aproxima.
O artigo que você está lendo apareceu originalmente em alemão na edição 52/2019 (21 de dezembro de 2019) de DER SPIEGEL.
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Quando entraram para conduzir a entrevista, os jornalistas do DER SPIEGEL tiveram que passar por um portão de segurança e trancar qualquer objeto de metal, incluindo telefones celulares e dispositivos de gravação, em um armário. Os funcionários apenas permitiram que os jornalistas levassem blocos de notas e canetas com eles. A entrevista com Pinto ocorreu em uma sala de conferências. Cortinas cobriam as barras em frente às janelas.
Pinto usava uma camiseta preta e jeans folgado. Ele parecia muito mais magro do que na época de sua prisão e seu rosto perdeu muito de sua cor.
Der Spiegel: Você já imaginou que o Football Leaks poderia acabar em uma prisão de Lisboa para você?
Pinto: Eu sabia que tudo poderia acontecer. Eu sabia que as autoridades portuguesas processavam denunciantes, então eu tinha que estar pronto para isso.
Der Spiegel: Como os guardas estão te tratando?
Pinto: Eu realmente não tenho motivos para reclamar deles. Eles são extremamente educados. Conversamos muito. Dizem que a prisão não é o lugar certo para mim e que o país precisa de mais pessoas como eu, dispostas a combater a corrupção e os conflitos de interesses.
Der Spiegel: Você ficou em isolamento por mais de seis meses. Agora você tem contato com outros presos?
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Pinto: Sim, eu me mudei no início de outubro e agora estou passando meu tempo em uma área com detidos que podem trabalhar na prisão. Eles cozinham, lavam roupas e até administram uma pequena loja. Posso sair do meu celular e passar um tempo com eles, mas não tenho permissão para trabalhar. Também não posso ir para o grande quintal do lado de fora. Essa foi uma ordem específica do diretor da prisão.
Der Spiegel: O que você sabe sobre os outros prisioneiros?
Pinto: A maioria deles está em prisão preventiva, como eu, mas alguns deles já foram condenados. Há muitos sul-americanos, alguns dos quais foram pegos no narcotráfico.
Der Spiegel: Quando o entrevistamos em janeiro, você tinha medo de ser exposto à violência nas prisões portuguesas. Essa preocupação foi justificada?
Pinto: Até agora, eu não testemunhei nenhum comportamento violento. Mas os guardas também me dizem que esta prisão é como o céu, em comparação com outras prisões do país.
Der Spiegel: Como você passou seus dias isoladamente?
Pinto: Eu mudei entre o meu celular e um quintal muito pequeno. Andei em círculos e joguei futebol sozinho. No meu celular, eu malhei, li muito e escrevi no meu caderno.
Der Spiegel: Como o isolamento afetou você mentalmente?
Pinto: No começo, foi muito difícil. Somos todos seres humanos e precisamos de contato com outras pessoas. Mas eu tive que aceitar a situação e me adaptar. Foi muito importante para mim não perder o foco.
Der Spiegel: Concentre-se em quê?
Cronograma de vazamentos de futebol
DER SPIEGEL
Cronograma de vazamentos de futebol
Pinto: As autoridades portuguesas têm medo do que eu sei e é por isso que é importante que eu não enlouqueça. No começo, escrevi anotações relacionadas ao caso no meu caderno, mas depois foram tiradas de mim. Meu advogado estava presente quando eles revistaram meu celular e disseram que era ilegal tirar minhas anotações de mim. Não foram os guardas da prisão que fizeram isso, mas os promotores portugueses. Eles fazem o que querem. Passou um mês antes de me devolverem o caderno.
Der Spiegel: Olhando para a sua situação agora, você acha que tudo valeu a pena?
Pinto: Houve alguns resultados. Você teve processos tributários contra astros do futebol como Cristiano Ronaldo, José Mourinho, Radamel Falcao e Ángel Di María. Existem investigações na Bélgica e na França. Por fim, você terá que ter paciência para julgar se tudo valeu a pena.
Os dados do Football Leaks revelaram um sistema de sonegação de impostos usado pelos principais jogadores de futebol para transferir partes de seus direitos de imagem para paraísos fiscais. Como consequência das revelações, Ronaldo teve que aceitar uma sentença suspensa de dois anos e pagar cerca de 19 milhões de euros.
Os vazamentos de futebol também revelaram o quão difundido é o dinheiro sujo nos negócios e as maneiras como oligarcas e xeques exploram o futebol para seu próprio ganho. A federação européia de futebol UEFA está atualmente investigando o Manchester City, um dos principais clubes ingleses que obteve infusões em dinheiro da ordem de milhões de Abu Dhabi. O clube parece ter quebrado as regras financeiras internas da associação, assinando contratos de patrocínio falsos. Medidas punitivas podem até incluir a exclusão do clube da Liga dos Campeões.
Os dados do Football Leaks também revelaram como o presidente da FIFA, Gianni Infantino, deu presentes a um promotor sênior da Suíça, através do qual ele obteve acesso a um promotor federal que estava investigando o órgão mundial do futebol .
Der Spiegel: Você acha que suas revelações conseguiram melhorar alguma coisa no mundo do futebol?
Pinto: No ano passado, o DER SPIEGEL e o EIC revelaram como os principais clubes da Europa planejavam unir forças em uma Super Liga exclusiva. Após a publicação, todos negaram as notícias. Mas dê uma olhada nas notícias recentes: Florentino Perez, presidente do Real Madrid, estabeleceu uma nova associação internacional de clubes que competirá com a UEFA e a ECA. Eles querem fazer a Super Liga acontecer. Tem sido a mesma velha por anos. Apenas continua. Enquanto sua equipe estiver ganhando, nada mais importa para as pessoas, mesmo que elas saibam sobre irregularidades, crimes e falhas sistêmicas. Eu não posso lutar contra isso. O futebol é intocável. E as autoridades protegem o setor apenas porque é de alto interesse público.
Der Spiegel: Por que você acha que é isso?
Pinto: Se você tomar o Benfica, o clube mais popular de Portugal, verá que eles são como um polvo de influência entre a elite do país. O clube está bem conectado com a polícia, os promotores e os políticos e regularmente oferece ingressos VIP gratuitos para os jogos do Benfica. Seria um enorme conflito de interesses se eles tivessem que investigar seriamente o Benfica.
Der Spiegel: Espera-se que seu julgamento comece no início do próximo ano. Por que você tem que permanecer detido até então?
Pinto: Não faz sentido. É irracional e injusto. Pedi permissão ao juiz para voltar para casa até o julgamento começar, mas o promotor insistiu que existe o risco de que eu possa interferir na investigação - que eu possa participar de atividades ilícitas junto a potências estrangeiras. É ridículo.
Der Spiegel: A quem o procurador está se referindo?
Pinto: Acho que ela se refere a promotores de outros países que estão dispostos a cooperar comigo e a trabalhar com os dados que reuni para investigar crimes no mundo do futebol. Não é incrível? Em Portugal, não apenas os denunciantes são criminalizados, mas também as pessoas que desejam proteger os denunciantes.
Der Spiegel: As autoridades portuguesas não têm interesse em cooperar com você?
Pinto: O promotor me disse que a única cooperação que ela espera de mim é incriminar-me voluntariamente. Eles não querem usar os dados que reuni, que contêm muitas evidências de crimes cometidos por pessoas poderosas no mundo do futebol. Eu revelei irregularidades no interesse do bem comum. Mas o único que é processado sou eu, o denunciante. Eles me retratam como um perigo para a segurança pública.
A investigação contra Pinto também decorre de uma queixa legal apresentada pela agência de marketing esportivo Doyen e seu gerente Nélio Lucas. Pinto entrou em contato com Lucas em 2015 e exigiu uma grande quantia em dinheiro por não publicar documentos confidenciais na internet sobre as negociações de Doyen. Lucas então contatou a polícia e agiu como se estivesse entrando em negociações com o advogado de Pinto. Mas antes da conclusão de qualquer acordo, Pinto e o advogado se retiraram sem nunca receber dinheiro.
Dado que a agência representa todas as coisas desprezíveis sobre a indústria do futebol que Pinto queria combater, parece algum tipo de piada de mau gosto que é Doyen, de todas as partes, que agora está levando o homem do Football Leaks a tribunal. A família que esteve atrás da empresa por muitos anos, os Arifs do Cazaquistão, recebeu apoio de oligarcas duvidosos e ganhou seu dinheiro com hotéis, imóveis e transações de mercadorias. Doyen lidou com acordos de milhões de dólares nos negócios de futebol por meio de uma rede opaca de empresas, colocou clubes sob pressão e vinculou os jogadores a contratos que permitiam que eles fossem comprados e vendidos como escravos. A promotoria pública espanhola abriu uma investigação neste verão contra Doyen e vários de seus gerentes sobre suspeitas de fraude fiscal e lavagem de dinheiro.
Der Spiegel: Você tem algum arrependimento?
Pinto: Lamento o primeiro contato que tive com Doyen em 2015. Na época, eu era ingênuo e era claramente um erro abordá-los. As autoridades dizem que houve tentativa de extorsão e estão usando isso para me manter na cadeia. Na minha opinião, não cometi um crime. Eu os aproximei para testar o valor das informações que reuni. Eu nunca pretendi pegar o dinheiro deles.
Der Spiegel: Você não foi apenas acusado de tentativa de extorsão. Os promotores acusaram você de um total de 147 crimes, incluindo invasão e quebra de leis referentes ao sigilo de correspondência. Como você responde a essas alegações?
Pinto: Eu sei que parece um alto número de crimes e provavelmente serei acusado de crimes que não cometi. Mas preciso ressaltar que toda a investigação foi completamente tendenciosa e contém enormes falhas. O acesso à infraestrutura de servidores do escritório de advocacia PLMJ, por exemplo, deve ser considerado um crime único. Em vez disso, eles contaram todos os endereços de e-mail, totalizando mais de 70 crimes. Isso é extremamente estranho.
Der Spiegel: Mas eles estão certos ao dizer que foi você quem acessou o servidor?
Pinto: Isso é discutível. Vou discutir isso no tribunal. É prematuro falar sobre isso agora.
DER Spiegel: Isso faz parecer que você pode finalmente admitir hackear, depois de sempre nos dizer que não é um hacker.
Pinto: Aceito plenamente que, do ponto de vista da lei portuguesa, alguns dos meus atos possam ser considerados ilegais e eu vou falar sobre isso. Eu sustento que muitas coisas mencionadas não foram feitas ilegalmente. E não me considero um hacker.
Der Spiegel: O que hackers significa para você, então?
Pinto: Para mim, hackear significa invadir um sistema com força bruta e explorá-lo. Eu nunca fiz coisas assim.
Der Spiegel: Mas a acusação diz que o software de hackers foi encontrado no seu laptop.
Pinto: É verdade, mas antes de tudo, esse computador não foi usado apenas por mim. Segundo, só porque o software está lá não significa que eu realmente o usei. E terceiro, a acusação nunca diz que nenhum desses programas foi utilizado para acessar dados.
Der Spiegel: Você não apenas insistiu continuamente que não era um hacker, mas também que não estava agindo sozinho. Desde a sua prisão, no entanto, o Football Leaks ficou em silêncio. O que aconteceu com seus supostos companheiros?
Pinto: Você tem que ser paciente. É verdade que eu era o rosto do projeto, mas veremos o que acontece no futuro próximo.
Der Spiegel: No seu apartamento em Budapeste, as autoridades apreenderam mais de uma dúzia de dispositivos de armazenamento de dados. Alguns discos rígidos nem sequer foram criptografados. Isso foi descuidado?
Pinto: Um desses discos estava meio que quebrado. E o outro foi criado por outra pessoa em Sarajevo. Infelizmente, estava no meu apartamento na época, porque eu estava usando para fazer cópias.
Der Spiegel: O disco rígido continha material que outra pessoa havia coletado?
Pinto: Repito: as autoridades me atribuem muitos crimes que não cometi. Mas não vou denunciar ninguém.
Der Spiegel: Qual você acha que será o resultado de sua acusação?
Pinto: Duvido que tenha um julgamento justo. Penso que, eventualmente, este caso terminará no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, porque Portugal não dá a mínima para a proteção de denunciantes.
Der Spiegel: Você tem medo de alguma coisa?
Pinto: Não, eu não tenho medo.
Na quarta-feira passada, dois dias após esta entrevista, Rui Pinto teve uma idéia do que pode acontecer depois, quando ele se encontrou pela primeira vez com promotores e os autores da ação em um tribunal. A nomeação no centro de justiça em Lisboa serviu como uma audiência de pré-julgamento, onde as partes tiveram a primeira oportunidade de convencer o juiz de seus argumentos. Ele abordou amplamente as formalidades legais, como se Lisboa tem jurisdição legal sobre o caso quando um ataque cibernético suspeito ocorreu no exterior.
Na manhã do processo preliminar, a juíza Cláudia Pina teve que mudar a sala de audiência em pouco tempo para dar espaço a todos os espectadores. Pinto entrou na sala de audiência por último, acompanhado por cinco policiais armados usando coletes à prova de balas. Eles tiraram as algemas e permaneceram perto dele. Do outro lado da sala estavam 14 advogados representando os autores da ação, incluindo a Associação Portuguesa de Futebol, o escritório de advocacia PLMJ, o clube de futebol Sporting, a Ordem dos Advogados e Doyen. As partes supostamente feridas e a promotoria nacional apresentaram seus argumentos. Eles explicaram por que o escopo da ação é justificado e por que consideram necessário abordar todas as 147 alegadas ofensas em um julgamento. Enquanto os queixosos falavam, Pinto acariciou o rosto repetidamente e mastigou pedaços de pele dos dedos.
Seus advogados de defesa, Francisco Teixeira da Mota e sua filha Luisa, estavam a poucos metros dele. Eles declararam como consideram inadmissível que o promotor nacional tenha estendido o mandado de prisão europeu emitido em janeiro de seis para 147 crimes.
A audiência pré-julgamento durou várias horas. O advogado que representa Doyen foi a única pessoa a pronunciar a palavra "denunciante" - e apenas no contexto de tentar negar a Pinto esse status. Pinto assistiu em silêncio enquanto o palco estava montado para procedimentos complicados. A juíza Pina adiou a audiência no final da tarde, dizendo que anunciará sua decisão sobre se, onde e com quantos crimes Pinto será acusado em 13 de janeiro.
Der Spiegel: Consideramos você um denunciante por causa da relevância das informações que você coletou diante de riscos pessoais significativos. Outros, como os promotores, por exemplo, veem você apenas como criminoso. Qual a sua resposta para isso?
Pinto: Todos os debates são totalmente válidos. Se um editor de jornal escrever que eu sou um criminoso, não vou reclamar disso; é a liberdade de imprensa. A única coisa que exijo é um debate honesto sobre o que o Football Leaks alcançou. E até agora, não tem sido uma discussão justa, porque, no momento, ela está focada apenas em mim como pessoa, e não no erro que descobri.
Der Spiegel: Até o final de 2018, você decidiu deixar de viver no anonimato e cooperar com as autoridades francesas como denunciante. Eles ofereceram a você a possibilidade de ingressar em um programa de proteção a testemunhas para que você possa ajudar nas investigações sobre crimes no mundo do futebol. Essa oferta ainda está em cima da mesa?
Pinto: Eu estava planejando me mudar para Paris até o final de janeiro. Alguns dias antes, fui preso. Depois disso, não entrei em contato com as autoridades francesas.
Der Spiegel: Você ainda estaria disposto a cooperar com os promotores estaduais?
Pinto: Sim, claro. Eu sempre levarei isso em consideração. Mas não enquanto eu estiver trancado aqui. Isso não é justo.
DER SPIEGEL: No início deste ano, a Eurojust, uma agência da UE que facilita a cooperação entre os promotores, lançou uma investigação conjunta no mundo do futebol com base em seus dados. Promotores de nove países declararam interesse em trabalhar juntos. Você esperava mais apoio deles?
Pinto: Sim, eu esperava muito mais ajuda. Sei que a Eurojust é uma estrutura altamente burocrática, mas não me sinto suficientemente respeitada. Eles queriam que eu cooperasse totalmente sem me dar nada em troca. Se Portugal me sentenciasse a 25 anos de prisão, a Eurojust diria apenas: Ok, azar. Ainda queremos seus dados.
Der Spiegel: Os promotores franceses têm 27 terabytes de dados seus. Eles são capazes de acessá-lo?
Pinto: Está tudo criptografado, e eu sou o único com as senhas - memorizadas na minha cabeça.
Der Spiegel: Esses dados pertencem apenas ao mundo do futebol?
Pinto: Não, definitivamente não. Mas não devo falar sobre pessoas ou entidades específicas. Caso contrário, os promotores podem tentar ir atrás deles e me pedir, por exemplo, por mais violações do sigilo de correspondência.
Der Spiegel: Você ainda sente vontade de combater pessoalmente a injustiça e o crime no mundo do futebol?
Pinto: Sim, com certeza. Sairei da prisão um dia e depois falarei em conferências e escreverei artigos. Precisamos de mais regulamentação; precisamos que a Comissão Europeia intervenha. Somente este ano, o negócio do futebol foi adicionado à lista de observação da UE para lavagem de dinheiro. Há muito que precisa ser feito.
Der Spiegel: Você ainda assiste a jogos de futebol na prisão?
Pinto: É difícil, porque não temos muitos canais disponíveis, por isso não podemos ver muitos jogos. Eu costumo ouvi-lo no rádio.
Der Spiegel: Depois de tudo isso, você ainda segue o futebol?
Pinto: Sim, claro! É o melhor jogo do mundo. Eu apenas desprezo os negócios obscuros que o cercam.
Der Spiegel: Em nossa última entrevista com você, você citou seu pai, que lhe disse quando você era jovem que o futebol iria arruinar sua vida um dia. Ele estava certo?
Pinto: Veremos. Essa luta está longe de terminar. No momento, minha vida é menos sobre futebol do que sobre o desequilíbrio do sistema político e judicial português e a maneira como ele protege a criminalidade.
Der Spiegel: Como será o Natal na prisão?
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Pinto: Vai ser difícil. Não só para mim, mas para todos aqui. Tenho certeza de que os prisioneiros e eu tentaremos nos divertir e esquecer a triste realidade por um tempo. Mas você deve passar o Natal com seus entes queridos. Ainda assim, às vezes você precisa fazer sacrifícios.
Der Spiegel: Sr. Pinto, muito obrigado por esta entrevista.
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Interview with Rui Pinto of Football Leaks
'It Has Been the Same Shit for Years'
Rui Pinto, the face of Football Leaks, has spent the last nine months in prison. For the first time, he is now speaking out about the 147 charges against him and his time spent in pre-trial detention.
Interview Conducted by Rafael Buschmann and Christoph Winterbach
Rui Pinto
December 20, 2019
The prison where the football industry's toughest prosecutor is currently being held is located in Lisbon's city center. A path between gray multistory buildings ends in front of the high wall of the law enforcement facility, which is topped with spiral barbed wire. Silence dominates here on this Monday morning, broken only by announcements from the guards over the loudspeakers.
For around nine months now, this prison has been home to Rui Pinto, the man behind Football Leaks. In the period since 2016, Pinto has provided DER SPIEGEL with more than 70 million documents, which the newsmagazine has analyzed together with its partners in the European Investigative Collaborations (EIC) network of journalists. The documents have been the sources of over 1,000 articles, many of which have triggered legal proceedings.
So far, though, Pinto is the only person to have been placed in prison as a result of the revelations. The authorities arrested the 31-year-old Portuguese national in Budapest last January and extradited him to Lisbon in March. The national prosecutor has accused Pinto of 147 criminal offenses, including attempted extortion, cybercrime and breach of postal secrecy laws.
After months of refusing, the Portuguese judiciary recently granted permission for an interview. Pinto is now speaking out for the first time about the accusations, his time in jail and the upcoming trial.
The article you are reading originally appeared in German in issue 52/2019 (December 21st, 2019) of DER SPIEGEL.
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Seven Decades of Quality Journalism: The History of DER SPIEGEL
Reprints: How To License SPIEGEL Articles
As they entered to conduct the interview, journalists with DER SPIEGEL had to go through a security gate and lock any metal objects, including mobile telephones and recording devices, in a locker. Officials only allowed the journalists to bring notepads and pens with them. The interview with Pinto took place in a conference room. Curtains covered the bars in front of the windows.
Pinto wore a black T-shirt and baggy jeans. He looked much thinner than he did at the time of his arrest and his face has lost much of its color.
DER SPIEGEL: Did you ever imagine that Football Leaks could end in a Lisbon prison for you?
Pinto: I was aware that anything could happen. I knew that Portuguese authorities prosecute whistleblowers, so I had to be ready for that.
DER SPIEGEL: How are the guards treating you?
Pinto: I really have no reason to complain about them at all. They're extremely polite. We talk a lot. They say that prison is not the right place for me and that the country needs more people like me, who are willing to fight corruption and conflicts of interest.
DER SPIEGEL: You were held in isolation for more than six months. Do you now have contact with other inmates?
Pinto: Yes, I got to move in early October and I'm now spending my time in an area with detainees who are allowed to work in prison. They cook, do laundry, even run a little shop. I can leave my cell and spend time with them, but I'm not allowed to work myself. I can't go to the big yard outside either. That was a specific order from the prison director.
DER SPIEGEL: What do you know about the other prisoners?
Pinto: Most of them are in pre-trial detention, like me, but some of them have already been convicted. There are lots of South Americans, some of whom were caught in drug trafficking.
DER SPIEGEL: When we interviewed you in January, you were afraid of being exposed to violence in Portuguese jails. Was that concern justified?
Pinto: So far, I have not witnessed any violent behavior whatsoever. But the guards also tell me that this prison is like heaven compared to other jails in the country.
DER SPIEGEL: How did you spend your days in isolation?
Pinto: I moved between my cell and a very small yard. I walked in circles and played some football by myself. In my cell, I worked out, read a lot and wrote in my notebook.
DER SPIEGEL: How did being in isolation affect you mentally?
Pinto: At first, it was very difficult. We're all human beings and we need contact with other people. But I had to accept the situation and adapt. It was very important for me not to lose focus.
DER SPIEGEL: Focus on what?
Pinto: The Portuguese authorities are afraid of what I know and that's why it is important that I not lose my mind. In the beginning, I wrote notes related to the case in my notebook, but then it was taken from me. My lawyer was present when they searched my cell and said it was illegal to take my notes from me. It wasn't the prison guards who did it, but the Portuguese prosecutors. They do anything they want. It was a month before they returned the notebook to me.
DER SPIEGEL: Looking at your situation right now, do you think it was all worth it?
Pinto: There have been some results. You had the tax cases against football superstars like Cristiano Ronaldo, José Mourinho, Radamel Falcao and Ángel Di María. There are investigations in Belgium and France. Ultimately, you'll have to be patient to judge if it was all worth it.
The Football Leaks data revealed a system of tax evasion that top football players used to shift parts of their image rights to tax havens. As a consequence of the revelations, Ronaldo had to accept a two-year suspended sentence and pay around 19 million euros.
Football Leaks also revealed just how widespread dirty money is in the business and the ways oligarchs and sheikhs alike exploit football for their own gain. European football association UEFA is currently investigating Manchester City, a top English club that has obtained cash infusions to the tune of millions from Abu Dhabi. The club appears to have broken the association's internal financial rules by signing bogus sponsorship contracts. Punative measures could even include the club's exclusion from the Champions League.
The Football Leaks data also revealed how FIFA President Gianni Infantino gave gifts to a senior Swiss prosecutor, through whom he gained access to a federal prosecutor who was investigating the global football body.
DER SPIEGEL: Do you think your revelations have managed to improve anything in the world of football?
Pinto: Last year, DER SPIEGEL and the EIC revealed how major clubs in Europe were planning on joining forces in an exclusive Super League. After publication, they all denied the news. But take a look at the recent news: Florentino Perez, president of Real Madrid, has established a new international club association that will compete with UEFA and the ECA. They want to make the Super League happen. It has been the same old shit for years. It just keeps on going. As long as their team is winning, nothing else matters to people, even if they know about wrongdoings, crimes and systemic flaws. I can't fight against that. Football is untouchable. And the authorities protect the sector just because it is of high public interest.
DER SPIEGEL: Why do you think that is?
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Pinto: If you take Benfica, the most popular club in Portugal, you see that they're like an octopus of influence among the nation's elite. The club is well connected with the police, the prosecutors and politicians and regularly give them free VIP tickets for Benfica games. It would be a huge conflict of interest if they ever had to seriously investigate Benfica.
DER SPIEGEL: Your trial is expected to start at the beginning of next year. Why do you have to remain in detention until then?
Pinto: It doesn't make sense. It's unreasonable and unfair. I asked the judge for permission to go home until the trial starts, but the prosecutor insisted that there is a risk that I might interfere with the investigation - that I might engage in illicit activities together with foreign powers. It's ridiculous.
DER SPIEGEL: Who is the prosecutor referring to?
Pinto: I guess she means prosecutors from other countries who are willing to cooperate with me and work with the data that I gathered in order to investigate crimes in the football world. Isn't it incredible? In Portugal, not only are whistleblowers criminalized, but so too are people who want to protect whistleblowers.
DER SPIEGEL: The Portuguese authorities have no interest in cooperating with you?
Pinto: The prosecutor told me that the only cooperation she expects from me is to voluntarily incriminate myself. They don't want to use the data that I gathered, which contains a lot of evidence of crimes committed by powerful people in the football world. I revealed wrongdoing in the interest of the common good. But the only one who gets prosecuted is me, the whistleblower. They portray me as a danger to public safety.
The investigation against Pinto also stems from a legal complaint filed by the sports marketing agency Doyen and its manager Nélio Lucas. Pinto had contacted Lucas in 2015 and demanded a large sum of money in exchange for not publishing sensitive documents on the internet about Doyen's dealings. Lucas then contacted the police and acted as though he was entering into negotiations with Pinto's lawyer. But before the conclusion of any deal, Pinto and the lawyer withdrew without ever receiving any money.
Given that the agency represents all the contemptible things about the football industry that Pinto wanted to fight, it seems like some kind of bad joke that it is Doyen, of all parties, which is now taking the Football Leaks man to court. The family that was behind the company for many years, the Arifs of Kazakhstan, received backing from dubious oligarchs and earned their money from hotels, real estate and dealings in commodities. Doyen handled million-dollar deals in the football business through an opaque network of companies, placed clubs under pressure and bound players with contracts that allowed them to be bought and sold like slaves. The Spanish public prosecutor's office opened an investigation this summer into Doyen and several of its managers on suspicions of tax fraud and money laundering. Those suspicions were triggered by Football Leaks.
DER SPIEGEL: Do you have any regrets?
Pinto: I regret the first contact I had with Doyen in 2015. I was naive back then, and it was clearly a mistake to approach them. The authorities say that it was attempted extortion and they are using that to keep me in jail. In my opinion, I didn't commit a crime. I approached them to test the value of the information I gathered. I never intended to take their money.
DER SPIEGEL: You haven't only been charged with attempted extortion. Prosecutors have accused you of a total of 147 crimes, including hacking and breaking laws pertaining to the secrecy of correspondence. How do you respond to those allegations?
Pinto: I know it sounds like a high number of crimes and I'll probably be accused of crimes that I didn't commit. But I need to point out that the entire investigation was completely biased and contains huge flaws. Accessing the server infrastructure of the law firm PLMJ, for example, should be counted as a single crime. Instead, though, they counted every single email address, for a total of more than 70 crimes. That's extremely strange.
DER SPIEGEL: But are they right in saying that it was you who accessed the server?
Pinto: This is debatable. I will discuss it in court. It's premature to talk about it now.
DER SPIEGEL: That makes it sound as though you might ultimately admit to hacking, after always telling us that you're not a hacker.
Pinto: I fully accept that, from the standpoint of Portuguese law, some of my acts may be considered illegal and I will speak out on that. I maintain that many things that are mentioned were not illegally done. And I don't consider myself a hacker.
DER SPIEGEL: What does hacking mean to you then?
Pinto: To me, hacking means breaking into a system with brute force and exploiting it. I never did stuff like that.
DER SPIEGEL: But the indictment says that hacking software was found on your laptop.
Pinto: It's true but first of all, that computer was not only used by me. Second, just because the software is there doesn't mean that I actually used it. And third, the indictment never actually says that any of these programs were utilized to access data.
DER SPIEGEL: You not only continually insisted that you weren't a hacker, but also that you weren't acting alone. Since your arrest, however, Football Leaks has gone silent. What happened to your supposed companions?
Pinto: You have to be patient. It's true that I was the face of the project, but we'll see what happens in the near future.
DER SPIEGEL: In your Budapest apartment, the authorities seized more than a dozen data storage devices. Some hard drives weren't even encrypted. Was that careless?
Pinto: One of those drives was actually kind of broken. And the other one was created by another person in Sarajevo. It unfortunately happened to be in my apartment at that time, because I was using it to make copies.
DER SPIEGEL: The hard drive contained material that somebody else had collected?
Pinto: I'll say it again: The authorities will attribute many crimes to me that I didn't commit. But I won't snitch on anyone.
DER SPIEGEL: What do you think will be the outcome of your prosecution?
Pinto: I doubt I'll get a fair trial. I think eventually this case will end up at the European Court of Human Rights, because Portugal doesn't give a damn about whistleblower protection.
DER SPIEGEL: Are you afraid of anything?
Pinto: No, I'm not afraid.
Last Wednesday, two days after this interview, Rui Pinto got a sense of what may come next when he met for the first time with prosecutors and the joint plaintiffs in a courtroom. The appointment at the justice center in Lisbon served as a pre-trial hearing where the parties were provided with the first opportunity to convince the judge of their arguments. It largely addressed legal formalities, like whether Lisbon has legal jurisdiction over the case when a suspected cyberattack has taken place abroad.
On the morning of the preliminary proceedings, Judge Cláudia Pina had to move the hearing room on short notice to make room for all the spectators. Pinto entered the hearing room last, accompanied by five armed police officers wearing bulletproof vests. They took off his handcuffs and remained close to him. On the other side of the room were 14 lawyers representing the joint plaintiffs, including the Portuguese Football Association, the law firm PLMJ, the football club Sporting, the Bar Association and Doyen. The allegedly injured parties and the national prosecutor's office all presented their arguments. They explained why the scope of the action is justified and why they consider it necessary to address all 147 alleged offenses in a trial. As the plaintiffs spoke, Pinto stroked his face repeatedly and chewed bits of skin off his fingers. Every now and then, he shook his head in disbelief.
His defense attorneys, Francisco Teixeira da Mota and his daughter Luisa, sat just a few meters away from him. They stated how they consider it to be inadmissible that the national prosecutor has extended the European arrest warrant issued in January from six to 147 offenses.
The pre-trial hearing went on for several hours. The lawyer representing Doyen was the only person to utter the word "whistleblower" -- and only in the context of seeking to deny Pinto that status. Pinto watched silently as the stage was set for complicated proceedings. Judge Pina adjourned the hearing late in the afternoon, saying she will announce her decision as to whether, where and with how many crimes Pinto will be charged with on January 13.
DER SPIEGEL: We consider you a whistleblower because of the relevance of the information that you gathered in the face of significant personal risk. Others, such as the prosecutors, for example, see you only as a criminal. What's your response to that?
Pinto: All the debates are totally valid. If a newspaper editor writes that I'm a criminal, I'm not going to complain about it; it's the freedom of the press. The only thing I demand is an honest debate about what Football Leaks achieved. And so far, it hasn't been a fair discussion, because right now, it's only focused on me as a person, and not about the wrongdoing I uncovered.
DER SPIEGEL: By the end of 2018, you decided to give up living in anonymity and to cooperate with the French authorities as a whistleblower. They offered you the possibility of joining a witness protection program so you could assist their investigations into crimes in the world of football. Is that offer still on the table?
Pinto: I had been planning to move to Paris by the end of January. A few days before, I was arrested. After that, I haven't been in touch with the French authorities at all.
DER SPIEGEL: Would you still be willing to cooperate with state prosecutors?
Pinto: Yes, of course. I'll always take that into consideration. But not while I'm locked up here. That's not fair.
DER SPIEGEL: Earlier this year, Eurojust, an EU agency that facilitates cooperation among prosecutors, launched a joint investigation into the football world based on your data. Prosecutors from nine countries declared their interest in working together. Did you expect more support from them?
Pinto: Yes, I expected a lot more help. I know that Eurojust is a highly bureaucratic structure, but I just don't feel respected enough. They wanted me to fully cooperate without giving me anything in return. If Portugal were to sentence me to 25 years in jail, Eurojust would merely say: Ok, bad luck. We still want your data though.
DER SPIEGEL: French prosecutors have 27 terabytes of data from you. Are they able to access it?
Pinto: It's all encrypted, and I'm the only one with the passwords - memorized in my head.
DER SPIEGEL: Does that data only pertain to the world of football?
Pinto: No, definitely not. But I shouldn't talk about specific persons or entities. Otherwise the prosecutors might try to go after them and get me, for instance, for more violations of correspondence secrecy.
DER SPIEGEL: Do you still feel the urge to personally fight injustice and crime in the football world?
Pinto: Yes, for sure. I'll get out of prison one day, and then I'll speak at conferences and write articles. We need more regulation; we need the European Commission to intervene. Only this year, the football business was added to the EU watchlist for money laundering. There's a lot that needs to be done.
The article you are reading originally appeared in German in issue 52/2019 (December 21st, 2019) of DER SPIEGEL.
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DER SPIEGEL: Do you still watch football games in prison?
Pinto: It's difficult because we don't have many channels available, so we can't see many games. I usually listen to it on the radio.
DER SPIEGEL: After all this, you still follow football?
Pinto: Yes, of course! It's the best game in the world. I only despise the shady business surrounding it.
DER SPIEGEL: In our last interview with you, you quoted your father, who told you when you were young that football was going to ruin your life one day. Was he right?
Pinto: We'll see. This fight is far from over. Right now, my life is less about football than about the imbalance of the Portuguese political and judicial system and the way it protects criminality.
DER SPIEGEL: What will Christmas be like in prison?
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Pinto: It will be tough. Not only for me, but for everyone here. I'm sure the prisoners and I will try to have a good time and forget about the sad reality for a while. But you should spend Christmas with your loved ones. Still, sometimes you have to make sacrifices.
DER SPIEGEL: Mr. Pinto, thank you very much for this interview.
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