Homens das estepes e novos mistérios. A Península Ibérica à luz da genética
Maior amostra genética de sempre da Península, que abrange os últimos oito milénios, revela movimentos populacionais e dá uma nova perspetiva à história desta zona da Europa, abrindo portas a outras visões
Alguns dos esqueletos antigos de onde provieram as amostras © Guillermo Pascual Berlanga
A marca das estepes no cromossoma Y da Península Ibérica
Foi numa questão de 500 anos, mas nesse período relativamente curto, há cerca de quatro mil anos, entre 2500 e 2000 a.C. as linhagens masculinas que então existiam na Península Ibérica sofreram uma mudança radical, e foram totalmente substituídas pela linhagem dos povos das estepes da Europa Central, região onde hoje é a Ucrânia.
Este é um dos resultados mais marcantes de um estudo publicado esta quinta-feira na revista Science, que usou a maior amostra genética de sempre das populações da Península Ibérica e que, atravessando os milénios, desde há oito mil anos, até 1600 d.C, (há apenas 400 anos) traça a sua história genética, identificando os movimentos populacionais que foram chegando até cá, e que influenciaram a história da península.
O grupo que realizou o estudo conta com vários investigadores portugueses das universidades do Minho, Coimbra e Lisboa.
Um estudo anterior, do investigador português Rui Martiniano (que não participa agora neste trabalho), do Instituto Sanger, no Reino Unido, já tinha revelado esta mesma particularidade em relação a Portugal, da substituição completa, há cerca de quatro mil anos, das linhagens masculinas aqui existentes pela dos homens das estepes, como o próprio investigador explicou ao DN. Na altura fez o seu estudo a partir de 14 amostras, O estudo agora publicado utiliza muitas mais (403), de diferentes zonas de Portugal e Espanha, e confirma que o mesmo aconteceu na generalidade da Península Ibérica.
Ao todo, a equipa, que conta com dezenas de investigadores de vários países, incluindo de Portugal, e que é coordenada por David Reich, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos - um dos líderes mundiais dos estudos de genética populacional e do passado -, analisou os genomas de 403 indivíduos que viveram na Península Ibérica ao longo dos últimos oito mil anos. E depois fez comparações com dados genéticos de outras 975 amostras do passado, mas exteriores à Península Ibérica, e 2900 da população atual.
Entre as amostras do passado há algumas dezenas de Portugal, das regiões da Estremadura, do Alentejo e do Algarve.
Olhar de novo para o passado
A mudança genética ocorrida na Península há quatro milénios é total no que diz respeito aos homens, e chega aos 40% quando considerada a totalidade da população. "É um dos caso mais evidentes em ADN antigo de uma diferença tão grande entre os dois sexos no período pré-histórico", diz Iñigo Olalde, o principal autor do estudo, que integra a equipa de David Reich em Harvard, nos Estados Unidos.
Como explicar estes dados? Não há uma resposta taxativa para a questão e a única certeza, como sublinham os próprios investigadores no seu artigo, é a de que a genética, só por si, não pode contar a história toda, pelo que os arqueólogos e antropólogos terão agora de reinterpretar os seus achados à luz da nova informação, e de voltar para o terreno, em busca de novos dados.
Na prática, podem ter sucedido muitas coisas como já sublinhava Rui Martiniano, a propósito dos seus próprios dados. "A substituição completa das linhagens anteriores no cromossoma Y, indica que esses homens do leste tiveram mais sucesso reprodutivo do que os homens do Neolítico que já cá estavam", disse o investigador, sublinhando que "é difícil" ir além desta interpretação.
A superioridade tecnológica dos povos das estepes pode ter-lhes dado vantagem, que por sua vez se traduziu no seu sucesso reprodutivo. Ou as mulheres preferiram os recém-chegados num contexto social mais estratificado - não se sabe. Uma coisa é certa, "nada nos registos arqueológicos disponíveis indicia qualquer episódio de violência naquele período na Península", como sublinha por seu turno Carles Lalueza-Fox, da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, e um dos coordenadores do trabalho. "A arqueologia e a antropologia têm agora de tentar perceber o que conduziu a estes padrões genéticos", diz Lalueza-Fox.
O arqueólogo português António Valera, da ERA, Arqueologia Oeiras, e um dos coautores do estudo, concorda e já está, precisamente, a fazer isso, na zona de Perdigões, no Alentejo, de onde são, aliás, algumas das amostras que foram usadas neste trabalho para a Península Ibérica.
A arqueologia mostra que há cerca de quatro mil anos, naquele mesmo período em que se concretizou a mudança genética agora posta em evidência, "houve alterações importantes na Península, mais no sudoeste, que abrange a região do Algarve, do que no sudeste, com um colapso das sociedades do neolítico, que tinham florescido até aí, durante o anterior milénio e meio", conta António Valera. E sublinha: "Vários trabalhos estão já a mostrar que existe uma relação entre esse colapso e uma grande alteração do clima que ocorreu na altura, com aquecimento da temperatura, na Península".
Essa mudança climática, pode ter contribuído para um desequilíbrio no interior dessas sociedades de então, levando ao seu colapso, na mesma altura em que os povos oriundos das estepes já tinham também chegado. "Estes dados genéticos obrigam-nos a olhar de novo para os dados arqueológicos", conclui António Valera.
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El pasado 5 de octubre, Liesau y otro centenar de arqueólogos escribieron a este periódico para criticar el uso del término “invasión”, por estar “totalmente fuera de contexto” en las rudimentarias sociedades de la Edad del Bronce. Hoy, el CSIC ha emitido un comunicado asegurando que las investigaciones de sus científicos “muestran una invasión de descendientes de poblaciones esteparias que reemplazó a casi todos los hombres hace 4.000 años”.
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Há 4500 anos 40% da população ibérica era do leste
PORTANTO PODE-SE CONCLUIR-SE QUE A MALTA GOSTA DAS UCRANIANAS POR ALGUMA COISA...
PS
NÃO HAVENDO MOTORES A GASÓLEO HÁ 4000 ANOS O QUE TERÁ MOTIVADO AQUELE AQUECIMENTO GLOBAL?
PS1
PELA JOANA GORJÃO HENRIQUES E SUAS AMIGAS LÁ NO PÚBLICO O HOMEM BRANCO DEVERIA SER SUBSTITUÍDO HOJE PELO SEU QUERIDO HOMEM AFRICANUS...
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