Juvelino estava prestes a fazer 22 anos e tinha ficado desempregado há dois meses
© José Fernandes
Rosa Ramos
17/07/2015 14:15:00
Juvelino prometeu pagar a renda, mas quando o senhorio chegou ao apartamento, matou-o.
Pouco depois das 20h, um homem atravessava, apressado, uma rua da Serra das Minas, em Rio de Mouro. Era quase noite e havia sangue no passeio. Apercebeu-se de que escorria de uma varanda de um prédio e chamou a polícia. Minutos depois, a PSP e os bombeiros arrombavam a porta de um rés-do-chão. Lá dentro havia um cadáver de um homem enrolado num edredão.
Na sala, a Polícia Judiciária (PJ) encontrou um martelo e um haltere azul de cinco quilos, ensanguentados. Em cima de uma mesa estava um envelope selado com a inscrição “600 euros”. E no chão havia roupa e calçado com sangue, ao lado de um balde com água avermelhada. No caixote de lixo da cozinha, os inspectores encontraram um livro de recibos de rendas.
Dois dias depois, Juvelino, o arrendatário do apartamento, confessava tudo na PJ: tinha assassinado António, o procurador da senhoria, para evitar ser despejado. Não pagava os 300 euros de renda há dois meses, desde que tinha ficado desempregado, e o senhorio não parava de reclamar a dívida e tinha ameaçado pô-lo fora.
Era António quem tratava de receber a renda desde Março de 2014, mês em que Juvelino, com 21 anos e educado num centro de acolhimento, assinou o contrato de arrendamento. Era um momento importante: pela primeira vez podia viver sozinho e o rés-do-chão, com apenas um quarto, era a casa perfeita. Só não contava ficar desempregado pouco tempo depois: em Agosto, chateou-se com o patrão e ficou sem trabalho. A renda desse mês ficou por pagar e a de Setembro, que devia entrar na conta de António também até ao dia 8. O senhorio telefonou-lhe várias vezes para saber quando poderia saldar a dívida, que já ia em 600 euros, mas o rapaz insistia que não tinha dinheiro e contava como tinha ido a mais uma entrevista de emprego. Quem sabe se não era desta.
Até que, em meados de Setembro, Juvelino anunciou que já tinha o valor das rendas em atraso. No dia 23 de Setembro, pouco depois das 11h da manhã, enviou um “kolmi” a António, que lhe devolveu a chamada cinco minutos depois. Combinaram que o senhorio passaria no rés-do-chão durante a tarde para receber o dinheiro. Assim que desligou o telefone, conta o acórdão do Tribunal de Sintra lido anteontem, Juvelino “cortou umas folhas de papel, colocou--as dentro de um envelope e fechou-o, escrevendo por fora ‘600 euros’”. Deixou-o em cima de uma mesa da sala.
o crime Pouco depois das 17h, António entrava no apartamento. Cumprimentou o inquilino, viu o envelope e sentou-se no sofá, a folhear o livro de recibos. Juvelino, que estava em pé e tinha um martelo “de orelhas” escondido atrás das costas, atingiu-o sete vezes na cabeça. O senhorio ainda tentou defender-se e o martelo caiu ao chão. Quando se baixou para o apanhar, Juvelino agarrou no haltere azul – que também estava caído no chão – e deu os dois golpes finais. Depois embrulhou o corpo no edredão que tinha em cima da cama de solteiro e arrastou-o até à varanda do quarto. Voltou à sala e limpou o sangue com uma esfregona, água e lixívia. Tomou banho, mudou de roupa e decidiu ir dormir a casa do irmão, no Cacém.
Os juízes ficaram convencidos de que tinha a intenção de voltar ao apartamento no dia seguinte para continuar a limpeza. É que entretanto estava a anoitecer e não havia luz em casa, tinha sido cortada por falta de pagamento. Juvelino trancou a porta à chave, levou o telemóvel do senhorio no bolso e chegou a casa do irmão por volta das 19h. Pelo caminho, ainda telefonou à Galp para pedir a reactivação da electricidade. A bateria do telefone acabou e deitou-o fora.
para não ser despejado O caso foi julgado no Tribunal de Sintra e os juízes consideraram anteontem que Juvelino, prestes a fazer 22 anos, actuou de forma “consciente” para matar o senhorio e “apenas com o intuito de não ser despejado em virtude da falta de pagamento das rendas em atraso, no valor global de 600 euros”. Porque, diz o acórdão, o rapaz se convenceu “de que iria ser despejado da casa”. Além do crime de homicídio qualificado, o Ministério Público acusou-o também de furto, por ter tirado o telemóvel de António. Foi condenado a 18 anos de prisão.
uma história difícil Juvelino teve uma infância difícil. Tem três irmãos, dois deles mais velhos, e já nasceu em Portugal, mas os pais são cabo-verdianos. A família imigrou há quase 20 anos e arranjou espaço para viver numas barracas na zona de Miraflores. O pai empregou--se a limpar cavalariças e a mãe a vender peixe.
Os relatórios sociais pedidos pelo tribunal contam como o rapaz cresceu num ambiente “em que os pais tinham problemas aditivos com o consumo de álcool” e de violência doméstica. Há uns anos, a Comissão de Protecção de Jovens teve de intervir e Juvelino foi retirado aos pais. Mudou-se, com os irmãos, para o Centro de Acolhimento Temporário de Tercena. A mãe acabaria, mais tarde, por ser acolhida na mesma instituição, depois de abandonada pelo marido e de ter feito uma desintoxicação. Ainda lá vive, com a filha mais nova. O pai conseguiu uma casa da câmara na zona de Carnaxide, mas teve um problema de coração e acabou internado num lar da Misericórdia de Lisboa.
Juvelino viveu no centro de acolhimento dos seis aos 18 anos, altura em que se mudou para casa do irmão mais velho. Os técnicos que o acompanharam desde criança garantem que era um rapaz “calmo, muito organizado, arrumado e próximo da família”, ainda que “introvertido”. Na escola, e apesar de faltar muitas vezes às aulas, chegou a ser o melhor aluno da turma. Acabou por tirar um curso de empregado de mesa que lhe deu a equivalência ao 9.o ano e conseguiu o primeiro emprego num café. Serviu ao balcão e às mesas durante dois anos e depois arranjou trabalho na “Padaria Portuguesa”, de onde saiu “incompatibilizado” com o gerente.
Em casa do irmão mais velho, as coisas não correram bem. Os feitios de um e de outro chocavam e Juvelino decidiu arrendar uma casa sozinho. Foi assim que, em Março do ano passado, foi parar ao rés-do-chão do prédio da Serra das Minas.
Juvelino foi levado para o estabelecimento prisional da PJ no dia 25 de Setembro e, em Fevereiro deste ano, mudou-se para a cadeia de Caxias onde, referem os relatórios dos técnicos de reinserção social, tem tido “bom comportamento”. Além dos 18 anos de prisão, o Tribunal de Sintra condenou-o a pagar uma indemnização de 166 670 euros à mulher de António e aos dois filhos, um estudante universitário e uma farmacêutica.
A RAPAZIADA IMPORTADA QUE FICA "PORTUGUÊS" AO FIM DE 6 ANOS DOS QUAIS 3 PODEM SER EM PRISÃO A PARTIR DE 2006 COM A LEI DA NACIONALIDADE ENCONTRARAM O PARAÍSO NA TERRA.POR NOSSA CONTA CLARO...ISTO DEPOIS DE TEREM FICADO COM OS BENS DOS COLONIALISTAS...
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