23 Julho 2013
Benfeitores e esmoleres com dinheiro dos outros
Guterres e o verboso Bensaúde Sampaio são apóstolos de todas as causas que inflamam os ardores generosos. Guterres dava, abusava do dar e como só tinha duas mãos, transformou-se numa espécie de Shiva multi-braços, servindo-se nesses assomos das mãos suplentes de Ferro Rodrigues e do Padre Melícias (que raio de nome, para além de erro ortográfico), mais o ministro da solidariedade Pedroso, do espantado divergente Gago e da Belém Roseira. Das 5597 pessoas que o governo de António Guterres nomeou entre Outubro de 1995 e Junho de 1999, 5000 estariam lá para dar, subsidiar, distribuir, presentear. Tamanho era o afã esmoler que Guterres, ao sair do posto, ambicionou grande: quis transformar o mundo num enorme Portugal.
Sampaio, o homem de todas as causas justas, o curador dos aflitos, dos perseguidos, dos injustiçados - só não fez justiça a um governo legítimo, liderando um putsch palaciano miserável que ficará na história deste regime com uma canalhice absolutamente escabrosa, atirando borda fora um primeiro-ministro no exercício - esse, nos vinte mil discursos sem história que proferiu e continua a proferir (basta ligar o microfone e sai uma tempestade palavrosa sem um átomo de tino) esse também se fez pregoeiro das cruzadas e demais causas justas. Os dois, em tandem, tiveram agora a peregrina, fantasista e delirante ideia de trazer para Portugal "cem estudantes sírios fugidos à guerra que assola aquele país". Como reza uma tonta louvaminhice que circula na net(1), os dois salomões andam em frenesim merit making. Que eu saiba - penitencio-me se estiver errado - nunca o dito Sampaio das fundações ou o António das rosas se destacaram nas labutas do banco alimentar, no apoio aos nossos sem-abrigo e às mil misérias escondidas como expostas com que nos cruzamos diariamente num país trazido ao descalabro pela turbamulta despesista.
Talvez, o movimento que exprimem não passe de simples compensação pelo apoio declarado que ambos têm dado aos terroristas que invadiram a Síria, destruindo cidades, aterrorizando populações, degolando, dinamitando hospitais, escolas, mercados, templos e bibliotecas. Enganam-se, porém, no diagnóstico que lavram. As universidades sírias, não obstante a magnitude dos estragos causados pelos libertadores incensados pelo tandem generoso, continuam a funcionar, prova maior da coragem tremenda daquele povo exposto à mais infame e injusta das guerras. A Síria não precisa da solidariedade dos dois generosos figurões. A Síria precisa de ser deixada em paz.
(1) "de facto, com um pais que entrou totalmente em colapso, e por isso com as universidades encerradas sine die, e toda uma geração que se vai perder para a reconstrução do presente e a preparação do futuro, se nada for feito. Se a iniciativa de Jorge Sampaio for para a frente e tiver êxito – e difícil encontrar quem não a aprove, creio, pela sua natureza altruística – Portugal poderia receber entre cinquenta e cem estudantes, perspectiva a realçar ainda mais, como expressão de solidariedade, por parte de um pais em crise profunda, como o nosso".
No comments:
Post a Comment