Pedro Arroja, gestor de fortunas, está de volta, com direito a duas páginas no caderno
Economia do
Expresso: “
Habituou-se a ser olhado como excêntrico, antes mesmo das suas ideias desconcertantes, ‘fora da caixa’ liberal, como as privatizações até do ar ou dos rios, um mercado de venda de votos ou órgãos humanos ou a defesa de um regime autoritário, colidirem com o pensamento dominante. Ficou vacinado contra rótulos ou dichotes.”
Mesmo vacinado, a vida não está para brincadeiras: “
Há poucas fortunas, aceitamos poupanças a partir dos €5000. É um negócio em crise, como todo o negócio financeiro.” Talvez por isso, “
regressa à luta das ideias com o lançamento no outono de um livro em que explica a tendência dos portugueses para os défices pela ‘cultura feminina’ reinante.”
Há mais na “
doutrina” de Arroja (para além da atribuição da responsabilidade dos “
défices” à “
cultura feminina”) que o
Expresso faz o favor de desvendar: “
a sua doutrina sofisticou-se, extremando sempre posições. Defende uma democracia sem partidos, é contra a massificação do ensino superior, uma ideia importada dos países do norte. Quem não aceder à universidade ‘pode desenvolver outros talentos’.”
Mas a principal “
luta das ideias” que o gestor de fortunas se dispõe a empreender é contra o sistema político: “
a instituição mais danosa e adversa que importámos são os partidos.” Por isso, “
[a] proibição dos partidos será a primeira medida para restaurar Portugal.” Uma vez com a mão na massa, Arroja aproveitaria a oportunidade para dar mais uns retoques na restauração do país, abolindo “
o Ministério Público, o Estado-providência e a própria instituição da liberdade de expressão”. Deixou aparentemente saudades a Arroja o Estado Novo (e as colónias): “
A única fase de prosperidade económica, estabilidade e unidade nacional foi quando os partidos estiveram proibidos.”
Não se pense no entanto que ele é contra a democracia: “
Há muitas soluções, mas há uma à vista de todos: a eleição de um Papa. É um exercício democrático, a comunidade de seis mil milhões sente-se representada e mantém-se unida há dois mil anos. O colégio representativo, com pessoas que se distinguem pelo mérito e sabedoria, com autoridade que emana do povo é uma via possível.” Uma vaga suspeita do
Expresso sobre a democraticidade do método proposto é desfeita num ápice: “
Tem democracia, sim, mas não votam todos. O voto não é universal, os seminaristas de 18 anos não votam. Seria uma elite seleccionada em função da idade e mérito, assente em homens maduros, homens de julgamento.”
Homens, claro, para prevenir a contaminação dos “
défices” pela “
cultura feminina” — e seleccionados provavelmente pelo próprio Arroja na “
bela moradia na Foz com vista para o mar, já despojada do ostensivo placard de néon que não resistiu à humidade atlântica”, onde consta que gere fortunas.