A longa viagem de Muhammad
ANA GOMES FERREIRA e MIGUEL MANSO
Na Grécia foi fechado num sítio sem janelas; no Mediterrâneo foi lançado num bote apinhado; em Turim foi deixado com fome no meio da neve. Muhammad está em Portugal desde Dezembro e quando vê tanta gente a morrer no Mediterrâneo, pensa: qual foi o erro destas pessoas, o que fizemos de errado?
Tenho 27 anos e sou de Peshawar, uma cidade do Paquistão, junto à fronteira do Afeganistão. Estudei sistemas de computadores na faculdade. No meu país há poucos empregos e, por isso, decidi abrir a minha própria loja. Vendia computadores, laptops, fazia arranjos... e tinha um grupo musical, tocávamos em casamentos e em festas, as pessoas dançavam e divertiam-se. Peshawar é uma cidade perigosa. A qualquer momento entra um bombista suicida numa loja e rebenta-se e mata toda gente. Um dia estava numa padaria quando entrou um e fez-se explodir, mas só fiquei um pouco ferido. Nós, os paquistaneses, já consideramos isto normal. Ou melhor, já é “normal” isto acontecer.
Um dia de Setembro do ano passado, entraram umas pessoas na minha loja. Apresentaram-se, disseram-me que eram do Tehrik-i-Taliban [os taliban do Paquistão, que têm ligações à Al-Qaeda] e que tinha de fechar a loja. Disseram-me que tinha de abrir outro tipo de negócio e ameaçaram-me. Eu disse-lhes que não tinha muito dinheiro nem muita experiência para abrir outro negócio. Então eles disseram-me que, se não fizesse isso, tinha de ir com eles, combater o exército [paquistanês] e o exército americano. [Os taliban do Paquistão lutam contra o Estado e contra a presença de forças americanas no Afeganistão e querem impor a sua interpretação da sharia, a lei islâmica; são islamistas radicais.]
Eles dizem que a religião não nos permite vender computadores, CD. São extremistas e estão a criar problemas no Paquistão. Não querem que as pessoas construam um bom futuro, só querem que as pessoas se juntem a eles para combater contra o exército. Querem que [os homens] se juntem a eles e combatam e por isso vão atrás dos mais jovens.
Quando eu recusei, eles disseram: “Não te vamos deixar vivo. Vamos matar-te.”
Em casa, a minha mãe disse-me: se fores com eles, o exército mata-te, se recusares a oferta, matam-te eles. “É melhor saíres deste país.”
Falei com o meu tio, que encontrou um homem para me tirar do Paquistão.
"No mar, pensámos que esta era a última viagem das nossas vidas" VERA MOUTINHO
Não sei quanto é que [a minha família] pagou ao homem para me levar [para a Europa]. O meu tio é que falou com ele. Fui com ele, ele é que me deixou em Itália. Não fui sozinho, éramos um grupo de dez ou 12, mas que foi aumentando no percurso, no Irão juntou-se a nós um grupo do Afeganistão.
Primeiro fomos levados para Carachi, que fica na outra ponta do Paquistão. De Carachi, que não é longe da fronteira, atravessámos para o Irão. Atravessámos a pé, pela região montanhosa, e depois atravessámos o Irão para Norte. Viajámos numa carrinha pequena e demorámos entre dez e 20 dias. Do Irão, passámos a fronteira e entrámos na Turquia, onde ficámos dois dias até sermos metidos num barco pequeno em direcção à Grécia; a viagem durou duas horas.
Dez horas. Na Grécia estivemos dez horas, metidos dentro de um quarto, um sítio sem janelas. Como não sabia onde estava, perguntei. “Não sei o nome da terra, mas aqui é a Grécia”, disseram-me quando fiz a pergunta. E só por isso, porque perguntei, sei por onde passei.
Ao fim das dez horas no quarto sem janelas, [os traficantes] apareceram para nos dizerem que já tinham arranjado um barco e que íamos seguir para Itália.
Pelo caminho telefonei para casa. Não sou casado, não tenho filhos, deixei no Paquistão a minha mãe e a minha irmã. Disseram-me que os taliban andavam à minha procura e fiquei preocupado. Não sabia — não sei — se iriam fazer mal à minha família se não me encontrassem. Decidi parar de os contactar para não correr o risco de os taliban os matarem. Se já os contactei desde que cheguei a Portugal? Já telefonei... mas não responderam. Não sei se se foram embora...
Atravessámos o Mediterrâneo num barco pequeno, tipo pneumático, e com um motor pequeno que mais parecia uma ventoinha. O barco tinha capacidade para 40 ou 50 pessoas, mas entrámos lá 100. Sei isto porque quando [os traficantes] nos estavam a embarcar, disseram que nunca levavam mais de 100 pessoas por barco. Antes de embarcarmos, disseram-nos que tínhamos de tirar os sapatos e os cintos porque não queriam objectos pesados. Para comer, só nos deram algumas bolachas.
Passámos 18 horas no mar. Não apanhámos tempestades, ondas altas, apenas algum vento forte, às vezes.
Éramos todos homens, a maior parte jovens mas também alguns mais velhos, e vínhamos de países diferentes: do Afeganistão, do Paquistão, do Bangladesh. Íamos falando: de onde és e isso. Na travessia, pensámos no mar. Pensámos que era a nossa última viagem. Pensámos que tínhamos salvo a nossa vida escapando dos taliban mas que esta era a última viagem. Mas havia que continuar.
Quando vejo tanta gente a morrer no Mediterrâneo, penso: qual foi o erro destas pessoas, o que fizemos de errado? Porque acontecem estas coisas connosco? Penso que temos o direito de viver neste mundo, como os outros, e sinto-me triste por tanta gente estar a deixar as suas casas, as suas famílias, os seus países. Sinto-me tão triste.
Dezoito horas no mar. Na Grécia, quando nos foram buscar, disseram-nos que íamos para Itália, para um sítio chamado Sicília.
O barco parou não muito perto da costa e fomos informados de que a partir daí íamos sozinhos e que, quando lá chegássemos, chegariam guardas para nos prender e era a eles que devíamos contar a nossa história. Nadei um bocadinho até aparecerem os guardas que perguntaram quem éramos e o que fazíamos ali. Fomos levados para a esquadra, onde fomos informados de que não tinham espaço para nós. Não nos prenderam, não nos levaram para nenhum sítio. Disseram que devíamos ir para Turim e disseram-nos o que fazer para lá chegar. Os polícias levaram-nos ao autocarro e explicaram ao condutor quem éramos e que queríamos [chegar ao continente] ir para Turim. Lá seguimos, fui num grupo de dez ou 12 pessoas, sem pagar.
Mas quando cheguei a Turim disseram-me o mesmo: não temos mais espaço para refugiados. “Volte amanhã”, diziam os polícias. No dia a seguir diziam a mesma coisa. Dois meses estive eu em Itália.
Eles diziam que eram apenas polícias normais e que nada podiam fazer por nós. Nevava e chovia e eles diziam que não havia lugar, que estavam cheios. Às vezes dormia na estação dos comboios — não, nunca fui expulso —, outras vezes dormia no parque. Íamos às lojas explicar que não tínhamos dinheiro, explicar a situação, e eles davam-nos pão, um pouco de leite... Os sem-abrigo também ajudavam. Uma pessoa está a dormir na rua e não está tranquila, fica a pensar em tudo. E às vezes os sem-abrigo ficavam de vigia enquanto dormíamos, depois acordávamos e dormiam eles enquanto nós vigiávamos.
Também pensei que a minha vida acabava em Turim.
Estava a dormir na estação de comboios de Turim e um homem viu-me e perguntou-me quem era e o que fazia ali. “Durmo aqui. Não tenho comida, não tenho onde dormir.” Contei-lhe a minha história. O homem disse-me que devia ir para Portugal porque as pessoas eram muito humanas e preocupavam-se com os outros seres humanos.
Não sei o nome do português que falou comigo na estação de Turim.
Fui de Itália para França de comboio... e depois aqui apanhei um táxi. O taxista disse que me ia deixar num sítio onde havia muita gente da Ásia, gente do meu país, que sabia a minha língua e a quem eu poderia perguntar o que devia fazer a seguir. Agora já sei que o sítio onde o taxista me deixou se chama Martim Moniz. Às vezes, eu e os outros colegas paquistaneses vamos lá fazer umas compras e fazemos uma refeição paquistanesa.
Cheguei a Lisboa no dia 30 de Dezembro, de manhã, entre as onze e o meio-dia. No Martim Moniz conheci umas pessoas do Bangladesh a quem expliquei a minha situação e perguntei onde era a esquadra da polícia, mas eles disseram-me que tinha de ir ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e mostraram-me o caminho. Quando lá cheguei eram 18h e já estava fechado, mas as pessoas foram simpáticas, ouviram a minha história e mandaram-me para o CPR [Centro de Acolhimento do Conselho Português para os Refugiados, na Bobadela].
No CPR acolheram-me, deram-me de comer e perguntaram-me se queria pedir asilo político.
Aqui acordamos às dez, temos aula de português... à tarde conversamos, há outras pessoas do Paquistão aqui no centro. Normalmente fica-se aqui entre três e quatro meses, eu já cá estou há três meses e meio e espero que a minha situação fique regularizada. Talvez este mês consiga a documentação e saia para procurar uma vida melhor.
De que sinto falta? Da minha família. Dos meus amigos. Da minha loja. Mas a situação é esta: estou em Portugal, a minha vida agora é Portugal. Gosto de Portugal, gosto do clima... e gosto do comportamento das pessoas.”
PORTANTO ANDAMOS A SUBSIDIAR PAQUISTANESES QUE TÊM A BOMBA ATÓMICA E UM GRANDE EXÉRCITO, UM PAÍS DEMOCRÁTICO COM ELEIÇÕES E TUDO.MAS DONDE NOS SAEM REFUGIADOS QUE IMAGINE-SE ATRAVESSAM O MUNDO PARA VIR PARA O CANTINHO DOS INTERNACIONALISTAS MANDANTES...E ACIMA DE TUDO QUE DIVIDEM PELO PLANETA.
A HISTÓRIA TEM CAPÍTULOS NÃO EDITADOS.NEM CONVINHA.A NÍVEL DE "PAPÉIS" SOMOS OS CAMPEÕES.PASSAPORTE PARA TODOS EM MENOS DE UM FÓSFORO ARDER.COM O CONSEQUENTE CUSTO SALVADOR.DEPOIS VÃO PARA ONDE PAGAM MELHOR...
OS NOSSOS INTERNACIONALISTAS SALVADORES DO PLANETA FAZEM-NO ÀS CUSTAS DA IDEIA PEREGRINA DA "RAÇA MISTA" DEPOIS DE TEREM ENTREGUE TUDO O QUE TINHA PRETO E NÃO ERA NOSSO.AS ESCOLAS NÃO SÃO SEF.SÓ MINISTÉRIO DAS FINANÇAS.MESMO LÁ FORA COM AS "ESCOLAS PORTUGUESAS" CLARO.FOI GASTAR E CONTINUAM A GASTAR COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃS.E VAI CHEGAR O DIA EM QUE NÃO HAVERÁ PARA MUITOS.AÍ OS INTERNACIONALISTAS QUE SE CUIDEM POIS POR MAIS PAPÉIS QUE QUEIMEM DEIXAM RASTO SEMPRE VISÍVEL DAS SUAS TRAIÇÕES.QUE É DISSO QUE SE TRATA PELA FORMA LIGEIRA COM QUE NOS DESGOVERNAM.E BASTA OLHAR QUANDO SE ANDA NA RUA...SEM TER NECESSIDADE DE IR AOS IMENSOS BAIRROS SOCIAIS MULTICULTURAIS SUBSIDIADOS PELA CLASSE MÉDIA...OS REAÇAS MODERNOS!OS XENÓFOBOS MALDITOS.ENFIM PARA OS FILHOS DOS QUE EXPULSARAM OS PORTUGUESES DE ÁFRICA, RACISTAS!
OS PORTUGUESES LEGÍTIMOS TÊM QUE SE LIBERTAR DA CANGA INTERNACIONALISTA QUE LHES FORAM METENDO EM CIMA E NUMA DE TODOS IGUAIS, TODOS DIFERENTES MAS SÓ CÁ DENTRO E POR NOSSA CONTA...QUE LÓ FORA NINGUÉM TEM DIREITO A NADA DE NADA...