Friday, May 4, 2007

TEMOS "QUALIDADE DE VIDA"

Droga: Portugal tem o haxixe mais barato da Europa

Portugal é o país da União Europeia com cannabis mais barata, média de 2,3 euros por grama, longe dos 12 euros na Noruega, ou dos 5 a 10 mencionados na maioria dos Estados-membros, segundo a agência europeia das drogas.

ORA COM TÃO BONS CONTROLOS DE FRONTEIRA, COM TANTAS AJUDAS DA "PESCA" A SEREM APROVEITADOS PARA "PESCAR", COM TANTO CRESCIMENTO DE "DROGADOS" SOMOS OS MAIORES DA EUROPA... O GOVERNO DEVE ESTAR ORGULHOSO...

RETIRADO DO "ALMA LUSÍADA"

O 25 DE ABRIL E A HISTÓRIA

Se alguém quisesse acusar os portugueses de cobardes, destituídos de dignidade ou de qualquer forma de brio, de inconscientes e de rufias, encontraria um bom argumento nos acontecimentos desencadeados pelo 25 de Abril.

Na perspectiva de então, havia dois problemas principais a resolver com urgência. Eram eles a descolonização e a liquidação do antigo regime. Quanto à descolonização, havia trunfos para a realizar em boa ordem e com vantagem para ambas as partes: o Exército Português não fora batido em campo de batalha; não havia ódio generalizado das populações nativas contra os colonos; os chefes dos movimentos de guerrilha eram em grande parte homens de cultura portuguesa; havia uma doutrina, a exposta no livro «Portugal e o Futuro», do general Spínola, que tivera a aceitação nacional, e poderia servir de ponto de partida para uma base maleável de negociações. As possibilidades eram ou um acordo entre as duas partes, ou, no caso de este não se concretizar, uma retirada em boa ordem, isto é, escalonada, ordenada e honrosa.

Todavia, o acordo não se realizou, e retirada não houve, mas sim uma debandada em pânico, um salve-se-quem-puder. Os militares portugueses, sem nenhum motivo para isso, fugiram como pardais, largando armas e calçado, abandonando os portugueses e africanos que confiavam neles. Foi a maior vergonha de que há memória desde Alcácer Quibir.

Pelo que agora se conhece, este comportamento inesquecível e inqualificável deve-se a duas causas. Uma foi que o PCP, infiltrado no Exército, não estava interessado num acordo, nem numa retirada em ordem, mas num colapso imediato, que fizesse cair esta parte da África na zona soviética. O essencial era não dar tempo de resposta às potências ocidentais. De facto, o que aconteceu nas antigas colónias portuguesas insere-se na estratégia africana da URSS, como os acontecimentos subsequentes vieram mostrar.

Outra causa foi a desintegração da hierarquia militar a que a insurreição dos capitães deu início e que o MFA explorou ao máximo, quer por cálculo partidário, quer por demagogia, para recrutar adeptos no interior das Forças Armadas. Era natural que os capitães quisessem voltar depressa para casa. Os agentes do MFA exploraram e deram cobertura ideológica a esse instinto das tripas, justificaram honrosamente a cobardia que se lhe seguiu. Um bando de lebres espantadas recebeu o nome respeitável de «revolucionários».

E nisso foram ajudados por homens políticos altamente responsáveis, que lançaram palavras de ordem de capitulação e desmobilização, num momento em que era indispensável manter a coesão e o moral do exército, para que a retirada em ordem ou o acordo fossem possíveis. A operação militar mais difícil é a retirada; exige, em grau elevadíssimo, o moral da tropa. Neste caso, a tropa foi atraiçoada pelo seu próprio comando e por um certo número de políticos inconscientes ou fanáticos, e em qualquer caso destituídos de sentimento nacional. Não é ao soldadinho que se deve imputar esta fuga vergonhosa, mas aos que desorganizaram, conscientemente, a cadeia de comando, aos que lançaram palavras de ordem que, nas circunstâncias do momento, eram puramente criminosas.

Isto quanto à descolonização, que, na realidade, não houve. O outro problema era o da liquidação do regime deposto.

Os políticos aceitaram e aplaudiram a insurreição dos capitães, que vinha derrubar um governo, que, segundo eles, era um pântano de corrupção e que se mantinha graças ao terror policial: impunha-se, portanto, fazer o seu julgamento, determinar as responsabilidades, discriminar entre o são e o podre, para que a nação pudesse começar uma vida nova. Julgamento dentro das normas justas, segundo um critério rigoroso e valores definidos.

Quanto aos escândalos da corrupção, de que tanto se falava, o julgamento simplesmente não foi feito. O povo português ficou sem saber se as acusações que se faziam nos comícios e nos jornais correspondiam a factos ou eram simplesmente atoardas. O princípio da corrupção não foi responsavelmente denunciado, nem na consciência pública se instituiu o seu repúdio. Não admira por isso que alguns homens políticos se sentissem encorajados a seguir pelo mesmo caminho, como se a corrupção impune tivesse tido a consagração oficial. Em qualquer caso, já hoje não é possível fazer a condenação dos escândalos do antigo regime, porque outros talvez piores os vieram desculpar.

Quanto ao terror policial, estabeleceu-se uma confusão total. Durante longos meses, esperou-se uma lei que permitisse levar a tribunal a PIDE-DGS. Ela chegou, enfim, quando uma parte dos eventuais acusados tinha desaparecido e estabelecia um número surpreendentemente longo de atenuantes, que se aplicavam praticamente a todos os casos. A maior parte dos julgados saiu em liberdade. O público não chegou a saber, claramente, as responsabilidades que cabiam a cada um. Nem os acusadores ficaram livres da suspeita de conluio com os acusados, antes e depois do 25 de Abril.

Havia, também, um malefício imputado ao antigo regímen, que era o dos crimes de guerra, cometidos nas operações militares do Ultramar. Sobre isto, lançou-se um véu de esquecimento. As Forças Armadas Portuguesas foram alvo de suspeitas que ninguém quis esclarecer e que, por isso, se transformaram em pensamentos recalcados.

Em resumo, não se fez a liquidação do antigo regímen, como não se fez a descolonização. Uns homens substituiram outros, quando os mesmos não substituiram os mesmos; a um regímen monopartidário substituiu-se um regímen pluripartidário. Mas não se estabeleceu uma fronteira entre o passado e o presente. Os nossos homens públicos contentaram-se com uma figura de retórica: «a longa noite fascista».

Com estes começos e fundamentos, falta ao regime que nasceu do 25 de Abril um mínimo de credibilidade moral. A cobardia, a traição, a irresponsabilidade, a confusão, foram as taras que presidiram ao seu parto e, com esses fundamentos, nada é possível edificar. O actual estado de coisas, em Portugal, nasceu podre nas suas raízes. Herdou todos os podres da anterior, mais a vergonha da deserção.

E, com este começo, tudo foi possível depois, como num exército em debandada: vieram as passagens administrativas, sob capa de democratização do ensino; vieram «saneamentos» oportunistas e iníquios, a substituir o julgamento das responsabilidades; vieram os bandos militares, resultado da traição do comando, no campo das operações; vieram os contrabandistas confessos e os falsificadores de moeda em lugares de confiança política ou administrativa; veio o compadrio quase declarado, nos partidos e no Governo; veio o controlo da Imprensa e da Radiotelevisão, pelo Governo e pelos partidos, depois de se ter declarado a abolição da censura; veio a impossibilidade de se distinguir o interesse geral dos interesses dos grupos de pressão, chamados partidos, a impossibilidade de esclarecer um critério que joeirasse os patriotas e os oportunistas, a verdade e a mentira; veio o considerar-se o endividamento como um meio «honesto» de viver. Os cravos do 25 de Abril, que muitos, candidamente, tomaram por símbolo de uma primavera, fanaram-se sobre um monte de esterco.

Ao contrário das esperanças de alguns, não se começou vida nova, mas rasgou-se um véu que encobre uma realidade insuportável. Para começar, escreveu-se na nossa história uma página ignominiosa de cobardia e irresponsabilidade, página que, se não for resgatada, anula, por si só, todo o heroísmo e altura moral que possa ter havido noutros momentos da nossa história e que nos classifica como um bando de rufias indignos do nome de nação. Está escrita e não pode ser arrancada do livro.

É preciso lê-la com lágrimas de raiva e tirar dela as conclusões, por mais que nos custe. Começa por aí o nosso resgate. Portugal está hipotecado por esse débito moral, enquanto não demonstrar que não é aquilo que o 25 de Abril revelou. As nossas dificuldades presentes, que vão agravar-se no futuro próximo, merecemo-las, moralmente.

Mas elas são uma prova e uma oportunidade. Se formos capazes do sacrifício necessário para as superar, então poderemos considerar-nos desipotecados e dignos do nome de povo livre e de nação independente. »

( António José Saraiva in Diário de Notícias_26-01-1979 )

Fim de transcrição dos artigos de AJS


# posted by António Viriato @ 01:29 0 comments
1.5.07


O PRINCIPAL TRABALHO POLÍTICO DAS ESQUERDAS FOI DE FACTO MINAR A DISCIPLINA, PROVOCAR OS SANEAMENTOS NA HIERARQUIA,PARTIDARIZAR EM SUMA.
SOU TESTEMUNHA DISSO E É BOM RECORDAR QUE SÓ EXISTIAM CERCA DE DUAS DEZENAS DE OFICIAIS SUBALTERNOS DO QUADRO PERMANENTE PARA ENQUADRAR TODO O EXÉRCITO PELO QUE ESTAVAM FUNDAMENTALMENTE REMETIDOS ÀS FUNÇÕES DE INSTRUÇÃO DOS OFICIAIS E SARGENTOS MILICIANOS.MESMO NA GUERRA ERAM JÁ CAPITÃES MILICIANOS FEITOS A "MARTELO" QUE ASSEGURAVAM UMA BOA PARTE DOS EFECTIVOS.
FACE A TAL SITUAÇÃO EM QUE OS OFICIAIS MILICIANOS JÁ VINHAM DAS UNIVERSIDADES DEVIDAMENTE "DOUTRINADOS" PARA O BOTA-ABAIXO OS PARTIDOS DE ESQUERDA DEITARAM GASOLINA.TODOS ELES.ATÉ ME LEMBRO QUE ASSISTI DEPOIS DO 25 À PRIMEIRA "REVOLTA" DE CADETES POR NÃO QUEREREM MAIS RECEBER INSTRUÇÃO DO "ASSALTO À CUBATA".MAIS TARDE APARECEU O NOME DO ORGANIZADOR NUM JORNAL:JOÃO SOARES.
QUE O ACTUAL REGIME CONCORDOU COM TUDO O QUE FOI FEITO ESTÁ ESPELHADO NA "RECONSTRUÇÃO DE CARREIRAS" DE TODOS OS OFICIAIS AFASTADOS AO LONGO DO PROCESSO, EM ESPECIAL A SEGUIR AO 25 DE NOVEMBRO.SÓ FALTA PROMOVER O OTELO SARAIVA DE CARVALHO.
OUTROS ADERIRAM À MAÇONARIA, SEMPRE À ESPERA DE MAIS UMA PREBENDA COMO BOBOS DO REGIME.
O POVO ESTÁ MAL POIS TEM O QUE PEDIU...MAS OS SEUS PATRÕES ANDAM NO BEM BOM...

Thursday, May 3, 2007

HOT LIVE SEX? NO... ONLY OVERVIEW...



PORTUGAL : PAÍS 50%

Quase metade das empresas portuguesas não pagou imposto sobre os rendimentos (IRC) em 2005, divulgou esta quinta-feira a Direcção-geral dos Impostos (DGI).

METADE DAS EMPRESAS NÃO PAGA IRC
METADE DOS CONTRIBUINTES NÃO PAGA IRS
METADE DOS ACTIVOS EMIGRADOS
METADE DOS LISBOETAS EM CASAS SOCIAIS

COM TUDO A 50% OS POLÍTICOS TAMBÉM DEVIAM ANDAR A 50% OU NÃO? NOS VENCIMENTOS E NOS LUGARES...

PRESIDENTE SARKOZI



A FRANÇA TEM PRESIDENTE POIS QUE MARIANAS HÀ MUITAS E ENTÃO POUCO VIRTUOSAS...

Wednesday, May 2, 2007

E NÃO TÊM UM ALTO COMISSÁRIO?GOVERNO RACISTA...

NORTE A crise
nunca bateu tão fundo
JN faz retrato de uma região que já foi motor económico do país e que é agora a quarta mais pobre da Europa. Última década marcada por mais desemprego, menos riqueza e menor qualidade de vida. Apatia de políticos e empresários e excessivo centralismo de Lisboa justificam cenário negro. Verbas do próximo orçamento de Bruxelas são a última oportunidade

RETIRADO DO "ALMA LUSÍADA"

1.5.07

Releituras Amargas

Relendo António José Saraiva, por épocas políticas tão desgraçadas, como as que estamos vivendo, fui dar com um artigo seu, intitulado «O Salazarismo», escrito para o Expresso, em Abril de 1989, há 18 anos, por conseguinte.

Recordo-me da perturbação que senti, quando na altura o li. Se ele não tivesse sido saído da pena de AJS, decerto não o haveria de tomar tão a sério. Mas, vindo dele, intelectual perspicaz, corajoso, espírito rebelde, indomável, como poucos e homem traquejado pelas cruezas da vida, profundo conhecedor do mundo e do homens, ele mesmo antiga vítima da política repressiva de Salazar, aquelas contundentes asserções causaram-me uma impressão duradoura.

O artigo polémico, como muitos outros que AJS escreveu, antes e depois do 25 de Abril, contém algumas passagens que merecem transcrição literal, para que se perceba bem o seu carácter inesperado, justamente porque emanadas de quem foi por Salazar afastado do Ensino oficial, politicamente perseguido, de tal forma que acabou por ter de se exilar em França.

Neste país, sobretudo, mas também na Holanda, exerceu a sua vocação de investigador de temas da Cultura Portuguesa, em acção profícua de que nos deixou notáveis documentos, com bibliografia importante, de fino recorte literário, sempre reveladora de pensamento original, de grande agudeza de interpretação dos nossos principais factos histórico-culturais.

Nos artigos políticos que abundantemente produziu, em particular depois de 1974, essas mesmas características de pensador original, ousado e independente, se haveriam de profusamente manifestar, na Comunicação Social em que regularmente colaborava.

Ainda o ano passado aqui coloquei um dos seus mais famosos textos «O 25 de Abril e a História», publicado no Diário de Notícias de 26 de Janeiro de 1979, que causou imenso furor. Ainda hoje nos custa lê-lo, pela virulência de algumas das suas declarações.

Imagine-se, por um momento, se o DN actual poderia abrigar um artigo de semelhante desenvoltura. Desde logo, pela sua extensão, tal se tornaria impossível, uma vez que os modernos artigos de opinião dos nossos periódicos foram significativamente reduzidos, talvez baseados no pressuposto de que os leitores de hoje não têm tempo, nem frescura mental, para ler textos demasiados intelectuais, absorvidos que andam por entre as palpitações dos colunáveis e a excruciante ansiedade pela condição dos ligamentos de Ronaldo ou do joelho do Simão, que a TV depois se encarrega de explicar ad nauseam, apesar do tempo em televisão ser precioso, como sempre nos inculcaram.

Na altura, sugeri que a Bertrand reeditasse essa luminosa colectânea dos artigos de intervenção social de AJS, que em tempos esta editora publicou sob o título de «Filhos de Saturno». Poucas vezes se terá escrito em tão bom português, com tanta originalidade de pensamento, como nesses preciosos artigos.
Só um espírito tão lúcido, penetrante e original, servido num estilo literário de rara perfeição, como era timbre de AJS, poderia ter produzido tais escritos. São verdadeiras chapadas de inteligência que ali recebemos, fazendo-nos ver claro aquilo que outros, de ordinário, conseguem obscurecer.

Numa época em que se edita de mais, sobre tudo e sobre nada, não se compreende como esse livro não apareça de novo nas bancas, para nos provar que aqui, entre nós, houve quem visse, a quase 30 anos de distância, os males que nos ameaçavam e para onde estávamos todos a ser subrepticiamente conduzidos.

Também no tal texto de AJS sobre «O Salazarismo» colheríamos seguramente idêntica impressão de aturdimento e de estimulação intelectual, na incisão das suas frases, como na clareza do pensamento que as elaborou. Atente-se, por exemplo em dois extractos desse polémico artigo de AJS, O Salazarismo :

«… Segundo a nova constituição (a de 1933), a soberania não residia no “povo”, entidade quantitativa e informe, mas sim “em a Nação” e a Nação era uma entidade orgânica, com os seus órgãos próprios, competentes cada um para resolver os seus problemas. Por isso, o regime instituído pela Constituição de 1933 foi chamado de “democracia orgânica”, designação que o próprio Salazar não inventou, pois que Oliveira Martins, na geração anterior, a tinha aplicado a um sistema semelhante, que só existiu no papel (opúsculo “As Eleições”, 1872). O que Salazar contestava, como Oliveira Martins já o fizera, era a capacidade de o sistema “um homem-um voto” para resolver os problemas concretos do País. O que a sua Constituição (a de 1933) pretendia era o voto qualificado e representativo das estruturas ou órgãos do País.»



« … Na intenção, a União Nacional era uma organização que devia permitir a todos os Portugueses participarem na vida política independentemente dos Partidos, e não um “partido único”, como os factos vieram a fazê-lo.

Salazar foi, sem dúvida, um dos homens mais notáveis da História de Portugal e possuía uma qualidade que os homens notáveis nem sempre possuem : a recta intenção.

A sua Constituição é, sem dúvida, lógica e geometricamente exemplar… Mas o sistema constitucional óptimo, ou antes melhor, só existe subjectivamente; coincide com a vontade do criador. E é evidente que, por isso mesmo, é impraticável. Uma Constituição Ideal é sempre uma utopia. Enquanto Salazar foi vivo disse eu (AJS) duas ou três coisas que me pareciam evidentes. Uma, era sobre o regime corporativo: pensava eu (AJS) que as corporações eram uma instituição medieval, incompatível com o século XX. Estava enganado, porque vemos, cada vez mais os problemas serem resolvidos por métodos corporativos, por acordos entre patrões e operários ou por greves, também entre corporações. Por negociação entre entidades cada vez mais poderosas; “lobbies ou alianças sindicais. O problema agrava-se com as concentrações maciças de indivíduos e de capital.

Outra parece-me cada vez mais evidente e por isso mesmo põe problemas cada vez mais graves. A abolição dos Partidos Políticos supõe a criação de instrumentos que impeçam o seu aparecimento e crescimento, isto é : uma censura dos meios de comunicação e uma polícia que mantenha dentro de certos limites a faculdade de associação e de reunião. A repressão é inevitável num regime de liberdade vigiada, mesmo que seja para impedir o Partido Único.

… Por isso, as constituições precisam de ser feitas por homens medianos, intelectual e moralmente, e não podem ser entregues a homens rigorosos e muito competentes.

Era essa, possivelmente, a grande virtude e o grande defeito de Salazar : o rigor talvez excessivo consigo mesmo e com os outros. Quem lê os seus “ Discursos e Notas” fica subjugado pela limpidez e concisão de estilo, a mais perfeita e cativante prosa doutrinária que existe em Língua Portuguesa, atravessada por um ritmo afectivo poderoso. Por esse lado, a prosa de Salazar merece um lugar de relevo na História da Literatura Portuguesa ( e só considerações políticas até agora a têm arredado do lugar que lhe compete). É uma prosa que guarda a lucidez da da grande prosa do século XVII, e donde é banida toda a nebulosidade, toda a distracção, toda a frouxidão, tudo o que frequentemente torna obscura ou despropositadamente ofuscante a prosa dos nossos doutrinadores.

Essa prosa vem das melhores fontes do século XVII, o século lúcido entre todos, o século de Pascal. Do mesmo século herdou Salazar a sua utopia política. A sua utopia política foi o que se chama o “despotismo esclarecido”, de que é exemplo em Portugal o reinado de D. José, com o Ministro Pombla. Salazar não disputou o Governo, não adulou eleitores. Recebeu o Governo de quem o podia dar, isto é, do soberano. Nesse momento, o soberano era o poder militar saído de uma sublevação triunfante. Salazar tornou-se seu Ministro, como Pombal se tornou Ministro de D. José. O poder militar teve sucessivos protagonistas – Carmona, Craveiro Lopes, Almirante Tomaz – formalmente legítimos, e Salazar, recebendo deles a investidura, considerava-se um Primeiro-Ministro legítimo. “ A soberania é um facto, não é um direito” – escreveu uma vez, numa carta, Alexandre Herculano. É um facto a soberania hereditária dos Reis, como a soberania revolucionária das Juntas Militares.

Deu-se, graças a este sistema, congeminado e executado por Salazar, uma coincidência entre a Lei e o Legislador que, só ele, sabia a intenção da Lei e para além disso possuía qualidades de administrador miraculosamente raras, junto a uma igualmente rara integridade. Conseguiram-se coisas hoje inconcebíveis como a neutralidade na II Grande Guerra e, passando aos pormenores, a realização de uma extraordinária exposição internacional, a melhor exposição que se fez em Portugal, inaugurada conforme o programa em 1940, apesar de a guerra ter rebentado no Verão anterior, da ocupação de Paris pelos alemães, de estar em curso o bloqueio comercial à Inglaterra, etc. Refiro-me à Primeira Exposição do Mundo Português. Conseguiu-se também, pela primeira vez desde Pombal, pôr fim à tutela inglesa, que fora confirmada com sangue, na 1ª Guerra Mundial. E hoje vemos, com uma dura clareza, como o período da nossa história a que cabe o nome de Salazarismo foi o último em que merecemos o nome de Nação independente. Agora, em plena “democracia” e sendo o Povo “soberano”, resta-nos ser uma reserva de eucaliptos para uso de uma obscura entidade económica que tem o pseudónimo de CEE.»

In “Expresso”, 22 de Abril de 1989.

Transcrevi, assim, uma parte significativa de mais um dos célebres artigos políticos de AJS, para que nos seja possível apreciar o juízo deste denodado intelectual, dos raros que rejeitaram condecorações oficiais do Estado, a quem não reconhecia capacidade de efectuar distinções de carácter moral entre os seus cidadãos, visceralmente avesso a grupos e capelinhas, autónomo até ao limite, pensando sempre pela sua própria cabeça, na razão ou no erro, e que haveria de morrer vagamente anarquista, naquela figura castiça de velho livre-pensador, acompanhado da sua peculiar boininha preta, símbolo supremo da sua marcada austeridade e indomável rebeldia.

Ninguém poderá duvidar que AJS falou de Salazar como de facto ele o via, no balanço de uma vida de frontal oposição política, que a seu tempo lhe havia custado caro, ao contrário do que aconteceu com certas figuras, hoje estridulamente anti-Salazaristas, mas que, com Salazar e Caetano, fizeram toda uma carreira intelectual, académica ou profissional, sem sobressaltos, na sua maior parte ou razoavelmente acomodados, noutras, sem riscos assumidos, pelos ideais alegadamente comungados.

Outros, de facto, conheceram, com Salazar, maiores agruras e foram mesmo presos e torturados, como os Comunistas. Mas estes, pelo que silenciaram das atrocidades cometidas pelos regimes que eles próprios exaltavam, ficaram com o seu testemunho algo desvalorizado, porque sempre nos deram a entender que nunca hesitariam em repetir os exemplos de crueldade que os seus ícones estrangeiros, Estaline, Mao, Enver Hoxa, Ceaucescu, Kim Il Sung, Fidel, etc., praticavam em nome da defesa de um sistema político-filosófico, que, alguns, até filósofos de nome, como Jean-Paul Sartre, designaram de “doutrina inultrapassável do nosso tempo”.

Bem poderíamos exclamar : Aonde pode levar a cegueira de certas ideologias, mesmo a espíritos brilhantes, que tiveram acesso a todas as fontes de saber, em clima de total liberdade, nos anfiteatros da Sorbonne ou nas aprazíveis esplanadas de Saint Germain-des-Près. Que isto nos sirva de prevenção !

Que falta nos fazem hoje intelectuais como António José Saraiva, Jorge de Sena ou Vergílio Ferreira, para só falar nos que mais impressionaram a minha adolescência e juventude de há trinta e poucos anos.

AV_Lisboa, 01 de Maio de 2007, dia consagrado ao Trabalhador, braçal ou intelectual, que ganha honestamente o seu salário, contribuindo com a sua capacidade e com o seu empenho para o bem comum e, naturalmente, também pessoal e, por isso mesmo, merece ser tratado com todo o respeito e dignidade, por todos os Poderes e por todas as Hierarquias da Terra, por mais importantes ou altivas que estas se nos apresentem.


# posted by António Viriato @ 21:56 0 comments