"Pedro Arroja deixou de acreditar que o fato liberal vista substancialmente melhor no corpo luso do que o fato socialista que tem servido de indumentária nas últimas décadas. É que ambos os trajes foram confecionados por estrangeiros, um por calvinistas e outro por luteranos, e não é fácil que encaixem bem num esqueleto cultural marcadamente católico. Os intelectuais portugueses, caracterizados por Arroja, com alguma graça, como comerciantes de ideologias estrangeiras em segunda mão, deviam era dedicar-se ao estudo da nossa tradição, do nosso espírito comunitário, da nossa sabedoria prática (e respectiva falta de jeito para abstrações), da nossa vivência familiar e do nosso profundo catolicismo - que não deve, de maneira nenhuma, ser confundido com "o ir à missa" pois até o mais convicto dos ateus desta ocidental praia lusitana se encontra, mesmo que não o deseje e não se aperceba, fortemente condicionado pelo catecismo do Vaticano. Dessa forma estariam os intelectuais portugueses aptos a propor soluções ideológicas que não nos ficassem curtas nas mangas ou largas na cintura" (cf. aqui, ênfases meus).
Neste parágrafo do seu recente livro "A blogosfera portuguesa" (cf. aqui), o Sérgio Barreto Costa resume de forma precisa o meu pensamento.
Gostaria agora de acrescentar que, de todos os partidos políticos portugueses, aquele que, no seu programa, melhor se ajusta ao que está dito em cima - isto é, que parte das tradições e do modo de ser português para propor soluções para o país - é o Chega (cf. aqui).
Julgo que está aí parte da explicação para o seu sucesso fulgurante.