Imigrante rouba telemóveis à PJ
30 de Março, 2014por Felícia Cabrita*
A directoria da Polícia Judiciária (PJ) de Lisboa – cujos funcionários da limpeza são contratados a empresas do ramo sem verificar os respectivos cadastros e consultar o SEF quando se trata de cidadãos estrangeiros – foi assaltada em Janeiro por uma empregada.
Maria Sindani, original da Guiné-Bissau, entrou em Portugal ilegalmente e, sob falso nome, trabalhava há já dois anos na casa-mãe da PJ, na rua Gomes Freire, sem levantar suspeitas.
A guineense, de 40 anos, conseguiu furtar 29 telemóveis que tinham sido apreendidos a dois traficantes de droga, que se suspeita terem subornado dois elementos da Unidade Nacional de Combate ao Tráfico de Estupefacientes (UNCT) da Judiciária.
Trata-se de uma das mais sensíveis investigações em curso: um inspector-chefe e um ex-coordenador já reformado estão a ser investigados num inquérito aberto pelo Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), por suspeitas de terem desviado mais de 500 quilos de droga, que desapareceram de um contentor descarregado no porto de Sines, em Julho do ano passado. Os dois homens já foram ouvidos, mas o caso parece ter mais implicações, ameaçando tornar-se devastador para aquela unidade.
A rede de traficantes foi desmantelada e os telemóveis – que estavam sob escuta e revelaram que pelo menos um dos inspectores era pago pelos cabecilhas para lhes facilitar a vida – seguiram para o 2.º piso do edifício antigo da PJ, dois andares abaixo do gabinete do director nacional, Almeida Rodrigues, a fim de serem submetidos a exame técnico pela Unidade de Telecomunicações e Informática.
Aparelhos ainda não tinham sido examinados
Ainda os peritos não tinham analisado as caixas de correio dos telemóveis, quando Maria Sindani – que entrava ao serviço de manhã cedo, na unidade onde é guardado todo o material apreendido a nível nacional pela Judiciária – terá, após dois anos de trabalho sem mancha, sido tentada pela primeira vez. A guineense, apesar de se encontrar ilegal, decidiu arriscar o emprego quando se deparou com o montão de telemóveis afectos àquele processo.
Em pouco tempo, deu-se pela falta da prova e abriu-se uma investigação por furto. A mulher, que se mantinha ao serviço, foi então presa e o material encontrado na casa de um seu familiar.
Os telemóveis foram finalmente analisados e, segundo o SOL apurou, os sms trocados entre os traficantes apontam para ligações perigosas entre a rede de tráfico e inspectores daquela unidade.
Confrontada com o caso pelo SOL, fonte da instituição explicou que o processo de contratação não passou pela Judiciária, uma vez que a funcionária em causa – que pertencia à empresa Number One, do grupo Conforlimpa, cujo dono está a ser julgado por fraude fiscal, sendo suspeito de ter lesado o Estado em cerca de 40 milhões de euros – fora contratada através da unidade de compras do Ministério da Justiça.
A mesma fonte acrescenta que pela PJ “foram feitas as habituais verificações de segurança, mas com base na identidade fornecida à data” pela empregada – ou seja, a falsa. A verdadeira identidade só veio a ser apurada já no âmbito do inquérito ao furto.
O risco de sucederem situações semelhantes no futuro, garante a mesma fonte, é agora “mais reduzido ou praticamente impossível, tendo em conta os dispositivos de segurança do novo edifício da PJ”, inaugurado este mês.
MAIS UNS QUE TRATARAM DA SUA REFORMA PORQUE A LEGAL SABEMOS TODOS QUE NÃO FOI BEM MERECIDA...