República Centro-Africana. Milicías anti-Balaka abandonam processo de desarmanento
14.12.2018 às 23h56
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https://expresso.pt/internacional/2018-12-14-Republica-Centro-Africana.-Milicias-anti-Balaka-abandonam-processo-de-desarmanento
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Criadas em 2013, depois da tomada de poder pelos rebeldes da Séléka, as milícias anti-Balaka pegaram em armas, invocando interesses dos cristãos e promovendo represálias pelos ataques dos grupos armados considerados sob orientação muçulmana. Portugal participa na Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana
Lusa
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Dois dos principais movimentos das milícias designadas anti-Balaka, da República Centro-Africana (RCA), decidiram hoje sair do processo de desarmamento criado em 2017, depois da detenção de um dos seus líderes em França, Patrice-Edouard Ngaïssona.
"Constatamos que só os anti-Balaka são julgados e condenados", escreveu-se num comunicado do grupo de Ngaissona, que também questionou: "Por que são só os anti-Balaka a serem visados pela justiça?". Em comunicado separado, um outro ramo dos anti-Balaka, dirigido por Maxime Mokom, denunciou "uma caça às bruxas".
Em consequência, as duas fações apelaram aos seus representantes para que abandonassem o processo de desarmamento, desmobilização e reintegração, cuja primeira fase foi instituída em 2017, com o apoio da Organização das Nações Unidas. Patrice-Edouard Ngaissona foi detido na quarta-feira, depois de ter sido emitido em mandado de detenção em seu nome pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), pela sua alegada responsabilidade em crimes de guerra e contra a humanidade, praticados no oeste da RCA, entre setembro de 2013 e dezembro de 2014.
Ex-coordenador dos anti-Balaka, Ngaissona foi também um dirigente do futebol centro-africano e de outros clubes em outros países de África. A sua detenção ocorreu menos de um mês depois da de um outro antigo chefe miliciano anti-Balaka, Alfred Yekatom, também por ordem do TPI.
"Fizemos prova de boa vontade. Dialogámos. Não percebemos", afirmou o coordenador das operações dos anti-Balaka, Dieudonné Ndomate, à AFP. Acentuou ainda que "as pessoas nos bairros [de Bangui] estão em cólera".
Um outro líder anti-Balaka, Sébastien Wenezoui, porta-voz de Ngaissona, apelou, contudo, à contenção. "Vamos continuar no processo de paz da União Africana", garantiu, mas realçando que "o movimento anti-Balaka foi uma resposta aos abusos da Séléka", designação do antigo movimento rebelde associado aos muçulmanos. Considerou que a detenção de Ngaissona "é um incentivo ao levantamento contra o regime atual", razão pela qual disse que apelava "à contenção de todos os anti-Balaka".
Apesar deste apelo à calma, houve manifestações de anti-Balaka em pelo menos dois bairros de Bangui, em particular contra a França, antiga potência colonial acusada de ter abandonado a RCA, segundo várias fontes. Criadas em 2013, depois da tomada de poder pelos rebeldes da Séléka, as milícias anti-Balaka pegaram em armas, invocando interesses dos cristãos e promovendo represálias pelos ataques dos grupos armados considerados sob orientação muçulmana. Depois da queda do Presidente Michel Djotodia, que veio das fileiras da Séléka, em 2014, os anti-Balaka lançaram-se numa caça aos muçulmanos na capital da RCA e arredores, provocando centenas de mortos.
Portugal participa na Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da República Centro-Africana (MINUSCA, comandada pelo tenente-general senegalês Balla Keita, que já classificou as forças portuguesas como os seus 'Ronaldos'.
"Ronaldo é o melhor jogador do mundo e quando as nossas tropas são classificadas de 'Ronaldos' isso tem uma leitura muito clara. Sentimos orgulho pela forma como o seu trabalho é reconhecido", disse o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, à agência Lusa.
Portugal tem atualmente 214 militares empenhados em missões na RCA, dos quais 159 na MINUSCA - uma companhia de paraquedistas e elementos de ligação -, e 45 na missão da União Europeia de formação e assessoria às Forças Armadas da RCA.
A República Centro-Africana caiu no caos e na violência em 2013, depois do derrube do ex-Presidente François Bozizé por vários grupos juntos na designada Séléka (que significa coligação na língua franca local), o que suscitou a oposição de outras milícias, agrupadas sob a designação anti-Balaka.
O conflito neste país, com o tamanho da França e uma população que é menos de metade da portuguesa (4,6 milhões), já provocou 700 mil deslocados e 570 mil refugiados, e colocou 2,5 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda humanitária. O Governo do Presidente Faustin-Archange Touadéra, um antigo primeiro-ministro que venceu as presidenciais de 2016, controla cerca de um quinto do território.
O resto é dividido por 18 milícias que, na sua maioria, procuram obter dinheiro através de raptos, extorsão, bloqueio de vias de comunicação, recursos minerais (diamantes e ouro, entre outros), roubo de gado e abate de elefantes para venda de marfim.
VAMOS LÁ MAS É A ENTREGAR MAIS A RCA...