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Saturday, August 29, 2009

JPP DÁ UMA COÇA AO MISSIONÁRIO LOUÇÃ

09:13 (JPP)


COISAS DA SÁBADO: MALAGRIDA ENCARNADO


O precedente português (embora fosse italiano) de Louçã é o padre jesuíta Gabriel Malagrida. O jesuíta tinha fama de santo e conheceu altos e baixos na sua carreira de pregador entre Portugal e o Brasil, entre um rei e outro. Só quando chegou ao Marquês é que tudo acabou mal, na fogueira. Malagrida notabilizou-se por um texto que escreveu sobre o terramoto de 1755, em resposta a um panfleto explicativo das causa naturais do fenómeno, encomendado pelo Marquês que era homem das Luzes. Anote-se desde já, que não foi esse texto que motivou a sua execução, apenas o seu desterro, mas sim outros escritos considerados de “lesa-majestade“.

Hoje, um Malagrida moderno teria muitos votos pelas suas pregações, se em vez do terramoto, se tratasse de “explicar” a “crise”. E, em vez do cadafalso, teria o prime-time da televisão, onde os jornalistas babados pela sua oratória lhe dão o papel ímpar de ser o julgador moral do PS e do PSD. Ele não está lá no ecrã para dizer o que pretende o Bloco de Esquerda, mas sim para, sempre com os mesmos trejeitos, flamejar de ameaças os infames que causaram o tremor de terra. Por trejeitos refiro-me a capacidade histriónica de Louça de conseguir não só falar como sublinhar com um traço facial e uma inflexão de voz, as sua próprias palavras, não vá a gente não as perceber.

Também Malagrida apelava a ideias simples, embora erradas, a fés que não se questionam, a medos comuns, aos traumatizados pelo desastre e aos crédulos de sempre, aos zangados pela vida e aos que esperam por milagres, acima de tudo aos que procuram em tempos difíceis uma ilusão a que se agarrar, porque o real é demasiado pobre e fraco e mau. Malagrida propunha-lhes práticas salvíficas e imediatas, procissões e devoções. O mundo de Malagrida era simples e os maus e os bons estavam separados por um abismo fundo. Os maus mandavam na terra e os bons sabiam como se ia para o Céu. Os maus propunham “causas naturais” para os desastres para iludir a sua responsabilidade, os bons acreditavam que um Deus feroz tinha que ser aplacado na sua vingança, pela restituição das coisas mundanas a uma “ordem natural” que tinha sido rompida pela incredulidade. Para Malagrida, as causas do terramoto eram divinas:

Sabe Lisboa, que os únicos destruidores de tantas casas e palácios, assoladores de tantos templos e conventos, homicidas de tantos habitantes, os incêndios devoradores de tantos tesouros não são cometas, não são estrelas, não são vapores ou exalações, não são fenómenos, não são contingências ou causas naturais, mas são unicamente os nossos intoleráveis pecados.
O discurso de Louçã tem a mesma lógica do de Malagrida. O mal, os “intoleráveis pecados”, é uma coisa a que ele chama de “ganância” dos ricos e poderosos, ou seja, o capitalismo, embora ele prefira a classificação moral à política, porque esta última podia ser muito reveladora na sua genealogia. Para restaurar a Jerusalém divina, é necessário que se entre no reino da “Justiça”, ou seja, da igualdade, da solidariedade, onde todos os homens são felizes. Quem é que ousa contestar a “justiça”? Só os maus. Quem é que ousa questionar a ira divina? Só os ímpios.

A experiência histórica tem precedentes para estas palavras de Louça. Elas só são novas porque a memória é muito curta. É que se as tomarmos como elas são, desnudadas da sua ganga retórica, trata-se de um discurso de extrema-esquerda assente numa visão comunista da sociedade, onde há um brutal intervalo entre a “justiça” exigida e a “justiça” realizada. Esse intervalo é o de uma sociedade totalitária, de uma ditadura do Bem sobre o Mal. Malagrida perceberia muito bem este mundo.