Showing posts with label OS DONOS DA DEMOCRACIA COM UM GRANDE EGO DE NOBREZA SALOIA. Show all posts
Showing posts with label OS DONOS DA DEMOCRACIA COM UM GRANDE EGO DE NOBREZA SALOIA. Show all posts

Saturday, May 9, 2020

A JUSTIÇA A QUE TEMOS DIREITO.OS POLÍCIAS QUE SE SUICIDEM...ESSES E OUTROS CIDADÃOS INJUSTIÇADOS PELO AMIGUISMO DE QUEM PODE...E É DO CLUBE DOS ADVOGADOS

08 maio 2020
Texas
Na extensa entrevista de sete páginas que o advogado João Nabais concede hoje ao i, e que faz a capa do jornal (cf. aqui), houve um momento em que eu fiquei paralisado. E tive de ler aquela parte da entrevista quatro vezes até compreender o que se tinha passado.

Ainda agora, passadas mais de sete horas, não estou certo de ter compreendido. É essa parte da entrevista que vou reproduzir a seguir, terminando com um comentário que é necessariamente precário e tentativo.

O trecho refere-se a um episódio da vida pessoal do advogado Nabais na altura em que ele namorava com uma juíza identificada na entrevista como Conceição. É um episódio triste porque termina com um suicídio.

Jornalista (J) - Há um caso célebre nessa fase em que vivia com Conceição. Há uma detenção no Cais do Sodré a um polícia que é condenado a três anos de pena efectiva. Que se suicidou depois…

Nabais (N) - Lembro-me desse caso perfeitamente. Aí o que se passa não tem nada a ver com o facto de ela ser juíza e eu ser advogado. Teve a ver com uma passagem de ano. Eu tinha começado a viver com a Conceição há relativamente pouco tempo. Estamos a falar da passagem de ano de 1990 para 1991 ou de 1991 para 1992. Por aí. Em que vamos sair com amigos e acabámos a noite num Cais do Sodré que não era este. E fomos beber um copo ao Texas. Nesse tempo, o Cais do Sodré estava já a viver um processo de mudança, de metamorfose. Já havia o Tokyo e o Jamaica. O Cais do Sodré é um local híbrido e nós fomos para esse local híbrido como toda a gente ia. À saída, eram 3 horas da manhã, havia um polícia completamente bêbado. Fiquei a olhar para ele. E há um outro polícia que vem e me vê a olhar. Acha que não devia estar a olhar para o polícia e começa a meter-se comigo, a empurrar-me, a pedir a minha identificação. Primeiro, começo por lhe dizer que não tinha nada que me identificar porque não estava a praticar nenhum ilícito. E estava com a Conceição. O outro casal tinha ido embora e eu sou conduzido à esquadra. Tiro o meu bilhete de identidade e ele diz para irmos para a esquadra. Aliás, a caminho da esquadra, diz-me que dali vou para a esquadra e só saio para ir para o Hospital de São José. E vai a empurrar-me até à esquadra, que é junto ao elevador da Bica. E a Conceição vem comigo. O que havia de fazer? Entrámos na esquadra e, curiosamente, o indivíduo que me levava, acalmou. Começa a ver a minha identificação, ficou um bocado incomodado com o facto e o graduado de serviço chama a Conceição lá para dentro. E ela vai. Perguntaram-lhe qual era a profissão e ela disse juíza. "E não tem aí o seu cartão de juíza?". Disse que não. "Tenho o meu bilhete de identidade mas se quiser ligue para o piquete da Polícia Judiciária e logo lhe dizem se eu sou juíza ou não". Porque ela era juíza de instrução criminal, que ficava no quarto andar da Polícia Judiciária. E disseram-lhe que não. Mas ela disse que podia ir buscar o cartão a casa, uma vez que morávamos ali perto, na zona de Campo de Ourique. E ele rosna e diz que quem ia lá a casa com a senhora era ele. E ela diz que é um escândalo. Ele sente-se afectado porque ela denuncia que está a ser alvo de uma atitude de assédio e ele não faz mais nada: pega em duas algemas e algema-nos aos dois. Isto foi assim. Não tem nada a ver com o facto de ser advogado.

(J) - Mas a pena para esse polícia, de três anos, foi um bocado insólita, não acha?

(N) - Não, não acho.

(J) - Onde é que um polícia, por agredir pessoas, era condenado a três anos?

(N) - Sim, mas ele começa por ser condenado a três anos com pena suspensa. E, atenção, ele comete vários crimes. Comete um crime em que nos mantém detidos ali, contra a lei, e é gravíssimo. E só somos salvos porque entretanto chega lá um subcomissário que estava a comandar aquela área toda que percebe o que está a acontecer e manda libertar-nos. Nós saímos da esquadra às 9 horas da manhã e demos entrada às 3h30. E depois insultou-a: "Juízas como-as ao pequeno almoço" e outras coisas do outro mundo. Portanto, ele leva uma pena que até me pareceu bastante simpática na primeira instância. A procuradora era Maria José Morgado e o presidente do colectivo era Ricardo Cardoso, que hoje é desembargador. O nosso advogado era o Francisco Teixeira da Mota - a Conceição constituiu-se assistente. E o Francisco Teixeira da Mota recorreu. Na altura, foi o salto directo para o Supremo, que lhe retirou a suspensão. Foram os conselheiros do Supremo que lhe retiraram a suspensão da pena. E depois ele suicidou-se.


Comentário. Vamos, então, ver se eu entendi este trecho da entrevista depois de o ter lido quatro vezes e após uma reflexão de sete horas. O advogado Nabais e a juíza Conceição vão para os copos no Bar Texas do Cais do Sodré, mas, à saída, quem está completamente bêbado é um polícia que ali estava de serviço, e não eles. Fantástico, eles é que beberam mas quem ficou bêbado foi o polícia de serviço.

Mas não apenas isso. A patrulha da PSP de serviço nessa noite no Cais do Sodré era um desastre. Se um dos polícias estava completamente bêbado, o outro era um desordeiro que se começou a meter com o advogado Nabais e a empurrá-lo. O advogado Nabais e a juíza Conceição, que tinham ido para os copos no Texas, é que estavam impecavelmente sóbrios e ter-se-ão comportado com um civismo exemplar.

O caso acabou na esquadra da Bica onde o advogado Nabais e a juíza Conceição, que tinham estado nos copos no Texas do Cais do Sodré, que é um local "híbrido", deverão ter mantido um comportamento exemplar ao ponto de serem ambos algemados.

Depois o assunto foi para tribunal porque o advogado Nabais e a juíza Conceição fizeram queixa ao Ministério Público. O polícia (presume-se que se trata do "graduado" que estava de serviço na esquadra da Bica) foi condenado a três anos de prisão efectiva. Nada disto tem a ver com o facto de Nabais ser advogado e Conceição ser juíza. (Nabais gosta também de se apresentar na entrevista como um sedutor de juízas).

Presume-se que o polícia não conseguiu aguentar a injustiça. E suicidou-se.

A história termina com o nosso sistema de justiça a fazer uma vítima mortal, como no verdadeiro Texas. Lá mata-se com pistolas, aqui com injustiças e safadezas de toda a espécie.

Posted by Pedro Arroja at 19:37
Sem comentários: