GARCIA DOS SANTOS CHEFE DA CASA MILITAR DE EANES:
“Ao longo destes quatro anos de reuniões, há uma coisa que salta à vista: ninguém estava muito interessado em discutir os problemas do país; o permanente jogo palaciano entre os partidos abria um abismo entre o sistema partidário e a realidade financeira, económica e social de Portugal. É como se a nação concreta fosse uma questão secundária para os partidos. Perante este divórcio quase cómico entre partidos e realidade, confesso que apanhei uma espécie de susto retroactivo: o país andava ao deus dará, em roda livre, porque ninguém queria assumir o ónus das escolhas governativas que poderiam evitar o colapso. As raras conversas sobre a governação concreta eram rapidamente remetidas para slogans vagos. Cunhal não era o único a usar a cassete. Estes primeiros anos criaram assim o absurdo paradoxo que marcou até hoje a vida da III República: aqueles que deviam ser os primeiros a percepcionar os problemas concretos são, na verdade, os primeiros a recusar ver esses problemas. Em consequência, a entrada do FMI em 1977 (e depois em 1983) foi apenas a conclusão óbvia deste estado de coisas. O país tornou-se ingovernável, porque a governação não era o business dos partidos. O seu business era a sobrevivência eleitoral, a conquista da posição-charneira dentro do sistema partidário»
QUALQUER DIA SÓ VÃO VOTAR OS ELEITOS EM SI PRÓPRIOS...PORQUE P ZÉ POVINHO NÃO É ESTÚPIDO...