RECOMEÇAR, DE MÃOS VAZIAS
Joana estava a par do que se passava. Há um ano que a TAP tinha aumentado os voos para Angola. Nesse Verão de 1974, trinta mil portugueses residentes nessa colónia abandonaram-na. No Verão de 1975 mais duzentos mil saíram de Angola e agora, a meio do mês de Outubro ainda era necessário retirar cerca de oitenta mil pessoas. O pessoal de longo-curso andava fatigado, a TAP estava a esgotar as suas capacidades e agora era hora de mobilizar toda a gente para um último esforço com previsão para acabar até dia 11 de Novembro, quando fosse declarada a data de independência de Angola.
A instabilidade que se vivia nas colónias ultramarinas no pós-25 de Abril, com os grupos de libertação a voltarem à guerrilha armada, lutando pela independência, ganhava contornos mais alarmantes. O governo de Lisboa tinha baixado as armas, a confusão política que se vivia em Portugal não deixava grande discernimento para a resolução do problema das ex-colónias.
Os milhares de militares portugueses que desde 1961 começaram a ser mobilizados para combater o terrorismo em Angola, regozijavam-se agora com o fim do Estado Novo e o fim da guerra no Ultramar. Queriam regressar depressa e em força, da mesma maneira que o regime de Salazar os tinha mandado para lá.
O General Spínola, presidente da República, tentou o consenso, defendeu uma federação de estados em Angola num plano alargado aos grupos de libertação e a Portugal. Mas outros líderes na voragem dos acontecimentos que se estavam a viver depois de uma revolução feita com cravos e sem armas, defendiam a independência total e o fim da tutela portuguesa sobre os povos africanos, que era considerada opressora. Não abdicavam do fim imediato do drama de milhares de militares e familiares que durante mais de uma década tinham sofrido com uma guerra que custara muitas vidas.
Mário Soares, líder do PS e já ministro dos Negócios Estrangeiros, e Álvaro Cunhal, líder do PCP, ambos regressados do exílio logo após o 25 de Abril, eram a voz da revolta contra a guerra no, Ultramar e serviam de bandeira para os movimentos africanos. MPLA, UNITA e FNLA, que defendiam uma independência firme e total sem ainda se terem entendido quanto aos contornos do processo de passagem de testemunho.
No terreno e nomeado para alto-comissário em Angola, Rosa Coutinho, defendia também a independência total de Angola. Talvez por isso estes três nomes ficaram indelevelmente ligados a uma descolonização considerada, por muitos, desastrosa. E sem perdão durante muitos anos para os muitos milhares de pessoas que tiveram de abandonar África à pressa e foram despojadas da vida que tinham construído.
Cada um dos movimentos de libertação procurava marcar o seu território o que levou a constantes conflitos armados e a violentos ataques a tropas portuguesas. Perante este cenário de guerra, a população portuguesa sentia-se entrincheirada e o estado de pânico generalizou-se. O regresso a Portugal era inevitável e tinha de ser feito a todo o momento e de qualquer maneira.
Os homens começaram então a mandar as mulheres e os filhos para a metrópole. Eles ficavam por lá a ver no que dava, com duas possibilidades: a estabilidade regressar e com ela os familiares voltarem a Angola, ou abandonarem de vez o país e salvarem todos os bens materiais e afectivos que tinham construído por terras africanas.
Estava hipotecado um processo de independência que satisfizesse todas as partes: os grupos de libertação, o governo português e os cidadãos residentes em África. Mas sobretudo estava definitivamente contaminado o futuro de Angola e do seu povo.
O regresso a Lisboa de quase meio milhão de portugueses, feito de forma precipitada, era bem a imagem daquilo que foi o processo de descolonização: confuso e desastrado. Regressaram apenas com o que tinham vestido, deixaram tudo para trás. Como Portugal, que após cinco séculos de presença em terras africanas, a única coisa que conseguiu trazer de verdadeiramente útil foi jogadores de futebol.
Mas se Joana estava a par do que se passava, a atitude que tinha perante o problema era a mesma que se vivia em Portugal: indiferença. O país estava mergulhado em problemas infinitos acumulados por um atraso económico e social resultante de uma política totalitária e já sem grande sentido na Europa.
A questão do Ultramar era, por isso, algo que devia ser resolvido nas colónias. Ninguém se tinha apercebido da verdadeira dimensão que iria provocar a debandada de quase meio milhão de pessoas, oriundas das ex-colónias.
Joana também só deu conta da verdadeira dimensão do problema quando chegou ao aeroporto de Luanda. As ordens eram chegar, reabastecer de combustível, encher o avião de gente e regressar a Lisboa.
Não podia ser de outra maneira.
Joana preparou-se psicologicamente para o que aí vinha. Sabia que não ia ser fácil, mas não sonhou que tudo o que imaginara era pouco para o que realmente iria presenciar.
QUEM CALOU CONSENTIU.QUEM CONTINUOU A VOTAR NOS "MESTRES" DESTA DESCOLONIZAÇÃO APROVOU.DERAM AINDA A OUTRA FACE RECEBENDO E NACIONALIZANDO CENTENAS DE MILHAR DE EX-COLONIZADOS QUE EM DEVIDO TEMPO NOS AJUDARAM A "SAIR DE LÁ".PORTANTO O QUE ESTÁ A ACONTECER, A MISÉRIA A QUE SÃO SUJEITOS, NOMEADAMENTE PARA MANTER OS SEUS ANTIGOS E COMO PROVADO MAL AGRADECIDOS CONCIDADÃOS É MERECIDA.NÃO QUERIAM GUERRAS FORA MAS AGORA TÊM-NA DENTRO DE PORTAS.ASSASSINADOS POR DÁ CÁ AQUELA PALHA, COMO LIXO, COMO DEMONSTRAM SER.SEM VERGONHA.PIOLHOSOS COMO DIZIA O OUTRO.