Terça-feira, 22 de Janeiro de 2008
A iniciativa presidencial
No País, aumenta a distância entre os políticos e a plebe, entre o Estado e o povo, na exacta medida da corrupção, que desvia recursos para bolsos gulosos e despesas desnecessárias, e da incompetência, formando-se uma perigosa convicção de impossibilidade de regeneração do regime político sem intervenção radical. Como, apesar da sua obsolescência natural (nenhum sistema é válido para sempre), a democracia representativa prevê órgãos de controlo, e essa garantia está expressa na Constituição da República Portuguesa, os seus responsáveis não se podem abster, nem temporariamente, da responsabilidade que o povo lhes confiou porque eles próprios se candidataram aos lugares e aceitaram voluntariamente as nomeações.
O povo está aflito, envergonhado e desconsolado.
O povo está aflito no meio do absurdo do fecho de urgências sem o prévio aumento de recursos nos hospitais que passam a receber esses doentes e a paradoxal disponibilidade para os gastos na promoção do aborto. Após a morte recente de outro no caminho de Carregal do Sal para Viseu, vemos, pasmados, a assistência sem sucesso a um bebé por uma ambulância no parque de estacionamento (local ao que parece sugerido pelo próprio INEM!...) do Hospital de Anadia, cuja urgência acabou de encerrar, acrescido do gozo do ministro Correia de Campos que responde com uma piada sobre "avozinhas e bisavós", gozando com a dor das famílias e a tristeza geral.
O povo está envergonhado pela negação da evidência da pedofilia de Estado e da corrupção de Estado, pelo tratamento desigual na justiça, com impunidades escandalosas em crimes gravíssimos em contraste com a violência da perseguição da liberdade de expressão.
O povo está desconsolado pela perda de bem-estar, enterrado numa crise económica que em Portugal dura há sete anos, e com perspectiva de agravamento, com uma base tecnológica obsoleta, e sem que se conheça uma estratégia consequente de recuperação para além dos negócios de obras públicas faraónicas e do diletantismo do Plano Tecnológico, cheio de protocolos, acordos e convénios, e sem empresas, sem produtos, sem criação de riqueza.
Por isso, mais uma vez - tantas já... -, o povo reclama a intervenção do Presidente da República em vez do seu discurso de conforto ao Governo, do consentimento, do comentário brando, do silêncio, da inacção.
Já é tempo de o dizer: o País precisa de um governo de iniciativa presidencial, chefiado por uma personalidade de prestígio, de preferência independente dos partidos. Creio que, entre outras de outras personalidades qualificadas, o dr. Henrique Medina Carreira seria uma muito boa escolha e teria o apoio popular dado aos homens sérios, prudentes e competentes.
Publicado por António Balbino Caldeira em 1/22/2008 02:43:00 AM