Pouco depois de se saber que Vítor Aguiar e Silva era o vencedor do Prémio Camões de 2020, um professor catedrático reformado da Universidade de Coimbra, José Oliveira Barata, escreveu num post na sua página de Facebook, segundo informa o PÚBLICO, que Aguiar e Silva fora um “delfim do regime”, por ter sido deputado da Assembleia Nacional durante a ditadura e por ter colaborado “com a PIDE na denúncia dos estudantes da sua própria Faculdade”. A PIDE deu para muito e já dava antes do 25 de Abril: quando nos meios progressistas se pretendia destruir a reputação de alguém lá vinha a história da PIDE, aí não na versão informador mas com o bizarro “ter falado na PIDE”. O episódio que envolveu Mário Dionísio, escritor e pintor que politicamente estava do lado oposto ao de Aguiar e Silva, é um caso exemplar de como essa insinuação foi utilizada. O boato terá sido lançado em 1953, quando num curso sobre pintura que Mário Dionísio estava a leccionar, um dos presentes disse sobre o professor: “Um tipo bestial. É pena como se portou enquanto esteve preso. Meteu muita gente dentro.” Acontece que Mário Dionísio nunca tinha sido preso pela PIDE, logo não era nem deixava de ser responsável pela prisão de quem quer que fosse.