Quinta-feira, Junho 10, 2010
Os Bastardos de Íxion
Não escolhemos a hora, nem o sítio, nem os progenitores. Nascemos, pura e simplesmente. Mais puro e simples, de resto, não existe. Acontecemos, assim, enquanto lugar - no tempo, na humanidade e na terra. Chamo Pátria a esse lugar, à síntese desse tríptico vital. A Pátria não se elege, não se compra, não se troca, nem, ainda menos, se vende: honra-se. Na medida em que se cumpre.
Dir-me-ão que o que não falta para aí é gente que vende a pátria, ou que a troca por outra mais gratificante e vantajosa. Gente dessa, aliás, se é que gente se pode chamar, foi mesmo o que nunca faltou por estas bandas. Por estas e por outras - por todas as bandas de todos os tempos. Todavia, todo esse comércio não passa de vão simulacro, contrabando de pechisbeque e contrafacção. Não pode vender quem não tem; como, tão pouco, se pode comprar aquilo que não se adquire por transacção monetária. Dupla e recíproca vigarice, portanto. Mútuo embuste. Mercado do vácuo.
Não somos livres quando o preço da nossa emancipação consiste na escravidão e na prostituição da nossa própria mãe. Quem assim pensa, compreende-se: é filho de puta nem sequer real . A nuvem que Íxion tomou por amante, tomam eles, agora, por mãe. Pobre Nefele! Sobrignóbil sina na velhice: depois de parir semi-cavalos, ver-se na contingência de dar à luz asnos completos!...