Guerra colonial
Corpo de militar português deixa Angola quase 60 anos depois
Quase 60 anos depois de chegar a Angola, como militar, os restos mortais do cabo Aquilino Silva Gonçalves foram exumados, esta quinta-feira, do cemitério do Sassa, província do Bengo, onde permaneciam desde outubro de 1961, iniciando finalmente o regresso a Portugal.
A exumação dos restos mortais deste antigo cabo do Exército português, do Batalhão de Artilharia 147, foi concluída esta quinta-feira, conforme a Lusa constatou no cemitério abandonado nos arredores da cidade do Caxito, a mais de 60 quilómetros de Luanda.
No terreno, debaixo de calor tórrido, elementos da funerária, do Serviço de Investigação Criminal, do serviço de Saúde Pública local e da administração municipal do Caxito levaram três horas para concretizar a vontade antiga da irmã do militar, em Portugal.
Às 15 horas, já lacrada e devidamente preparada, a urna deixava o cemitério, no carro funerário, com todas as autorizações legais para o efeito.
Os restos mortais deverão chegar sábado ao aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, seguindo-se as cerimónias fúnebres, 56 anos depois da morte de Aquilino Gonçalves, que fazia parte de uma família de 11 irmãos e que completaria os 78 anos em 2018.
Será sepultado no cemitério de Ponte de São Vicente, no concelho de Vila Verde (distrito de Braga), a sua terra natal, conforme o desejo da irmã, Otília Gonçalves, que durante décadas tentou o regresso dos restos mortais de Aquilino.
Para trás fica um cemitério abandonado, ocupado por capim com mais de um metro de altura e onde permanecem os restos mortais de mais duas dezenas de outros militares portugueses, todos do início dos anos 1960.
O processo do cabo Aquilino Gonçalves foi fechado num tempo recorde de quatro meses, o segundo conduzido por Carlos Rosa, um emigrante português que vive em Angola desde 2009, onde trabalha numa construtora, e que, nos últimos seis anos, também se tem dedicado a seguir o rasto de ex-militares cujos restos mortais nunca chegaram a ser recuperados pelas famílias, em Portugal.
Carlos Rosa explicou à Lusa que foi a "mágoa" que sentiu nos comentários de Otília Gonçalves nas redes sociais, sobre a situação do irmão, que morreu num acidente de viação em Angola, onde estava destacado como militar, no período que eclodiu a guerra colonial, que o levou a envolver-se no segundo processo de trasladação.
"Entrei em contacto com a senhora e prontifiquei-me a ajudar. E foi assim que começou este processo", recordou à Lusa, numa visita ao cemitério do Sassa, tomado pelo abandono.
"Mais um herói que ficou para trás e que agora, esperemos, chegue ao seu destino final e que descanse em paz", desabafa este português, que tomou em mãos o processo de apoiar estas famílias na identificação dos cemitérios, recolha de documentação e, por último, da trasladação, junto da funerária local.
"Veio cá cumprir uma missão, mas infelizmente morreu nessa missão, terá que voltar para a sua casa", conta Carlos Rosa, ele próprio um ex-militar, hoje com 49 anos, que funciona como "elo de ligação" entre Portugal e Angola.
Carlos afirma que tem ajudado a resolver aquela que é uma "obrigação" do Estado português, para com os militares que ficaram em Angola, tombados na guerra colonial: "O Estado português vai ter de explicar aos portugueses o porquê desta situação".
A campa de Aquilino Gonçalves foi descoberta em 2005, no cemitério do Sassa, ano a partir do qual a irmã do militar começou a desenvolver diligências no sentido de repatriar o corpo, junto da Liga dos Combatentes e do Estado português,
Sempre sem consequências, até que Carlos Rosa decidiu ajudar: "O Estado é que tem de resolver isto, com acordos com Angola, que é um país aberto, também. O Estado português é que tem a obrigação de tratar deste problema, nem é o Estado angolano".
O primeiro caso, que, a partir de Luanda, Carlos Rosa ajudou a resolver, foi concluído em dezembro de 2017, com a chegada a Portugal, ao concelho de Tondela (distrito de Viseu), dos restos mortais do soldado paraquedista António da Conceição Lopes da Silva, morto em combate em Angola em 1963.
"Sinto-me em paz, sinto que foi a minha última missão e orgulhoso por ter ajudado mais alguém", contou ainda à Lusa, embora angustiado ao saber que vários outros militares, só naquele cemitério, não tiveram o mesmo destino.
O processo de trasladação de Aquilino Silva Gonçalves custa cerca de oito mil euros, reunidos em parte com donativos, 6.500 dos quais para o Estado angolano e cerca de 1.500 euros para uma funerária, sem qualquer apoio do Estado português, segundo a família.
O REGIME DEMOCRATA TEM ESTA VERGONHA ÀS COSTAS.ISSO E O CONSTANTE JULGAMENTO EM ESTÁTUA DOS NOSSOS ANTEPASSADOS...EM QUE QUALQUER MERDOSO PODE ATIRAR A SUA PEDRA...