O triunfo dos porcos revisitado
Por Alfredo Barroso
Senhores trabalhadores e senhores desempregados dos países ainda democráticos, batam a bola baixinho, não façam reivindicações nem exigências
A lógica de raciocínio dos crânios neoliberais e eurofundamentalistas da nossa e de muitas outras praças europeias é, passe o diabo que os carrega, absolutamente infernal e mais ou menos como se segue.
As economias e as empresas, para sobreviverem, têm de ser concorrenciais. Para um produto ser concorrencial, tem de ser barato. Para ser barato, o custo do trabalho incorporado nesse produto tem de ser o mais baixo possível. Nos países ditatoriais ou semiditatoriais da Ásia e de outras paragens pouco ou nada democráticas, os trabalhadores não têm voto na matéria, o seu poder reivindicativo é quase nulo, os direitos sociais são praticamente inexistentes, e eles trabalham por tuta e meia, se não como escravos, pelo menos como quem faz a tropa numa companhia disciplinar. Como as fronteiras comerciais foram escancaradas pelo GATT, os grandes grupos económicos transnacionais podem deslocalizar empresas a seu bel-prazer, fechando-as nos países onde os trabalhadores vivem em liberdade, auferem melhores salários e beneficiam de mais direitos sociais, e reabrindo-as noutros países onde os trabalhadores pouco mais são do que números, sofrem a repressão dos exércitos e das polícias, comem e calam; muitas vezes, são crianças famintas em idade escolar e custam, portanto, bastante pouco aos grandes empórios que dominam o mundo com a conivência dos tecnocratas e políticos "esclarecidos" que governam, não só as chamadas "democracias musculadas", mas também muitas ditaduras encapotadas com os rabos de palha mais ou menos ao léu.
A outra face desta lógica infernal nunca é proclamada pelos distintos crânios de que estou a falar. Mas subentende-se. E caricatura-se assim: senhores trabalhadores e senhores desempregados dos países ainda democráticos, batam a bola baixinho, não façam reivindicações nem exigências, aceitem a inevitável precariedade do trabalho, a desregulação do maior número possível de actividades produtivas, as taxas de desemprego suficientemente altas para que o capitalismo selvagem funcione, a redução das regalias sociais que conquistaram e a diminuição dos salários e das reformas a que têm direito. Mais: se já não vão a tempo de aprender outros ofícios e mudar de profissão, se olham para os computadores como bois para um palácio e não sabem navegar na internet, se já passaram dos 40 anos e não são competitivos, então não chateiem, vão dar uma curva ao bilhar grande, fiquem em casa ou num lar manhoso de terceira idade a ver telenovelas, joguem à bisca lambida nos jardins, rezem à virgem santíssima e preparem-se para fazer tijolo na quinta das tabuletas. Em suma e em bom calão: deixem-se mas é de merdas!
Num mundo assim concebido - onde é forçoso que a chamada realidade mercantil se sobreponha a todas as outras realidades sobretudo humanas, que os empresários se sobreponham aos trabalhadores, que os robôs se sobreponham aos desempregados, que os tecnocratas se sobreponham aos políticos, que o determinismo económico se sobreponha a quaisquer alternativas, que o império do lucro se sobreponha ao bem--estar, ao prazer, ao lazer e à cultura -, não se percebe lá muito bem para que é que a democracia, os direitos, liberdades e garantias fundamentais, os sindicatos, as associações representativas dos cidadãos, os partidos políticos e, sobretudo, as eleições e os referendos são para aqui chamados. E o que é que andam para aqui a fazer um punhado de políticos lunáticos, líricos e voluntaristas que se comprazem na "retórica" e mostram tão pouco respeito pelas multinacionais de grande porte e gigantesco poder, as tais que "encostam" os países e as pessoas à parede, tratam os governos democráticos com arrogância, fazem chantagem com a deslocalização das suas empresas e preferem a paz podre das ditaduras, pura e simplesmente porque, nestas, quem protesta vai de cana ou vai desta para pior!
É este o "admirável mundo novo" que concebem - sem pecado, porque tudo está só na cabeça deles - os prodigiosos encéfalos neoliberais. E o mais curioso é que alguns deles são oriundos de movimentos totalitários de extrema-esquerda, estalinistas e maoistas. Converteram--se há duas ou três décadas às delícias do capitalismo e da tecnocracia, mas são mais papistas que os papas do neoliberalismo. De onde vieram, não passavam de "little brothers". Mas, viradas as casacas, comportam-se como "big brothers". Lá bem no fundo dos seus crânios - porque se julgam iluminados e se consideram vocacionados para exercer o poder e policiar as consciências alheias -, nunca deixaram de pensar que "todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros". Por mais profissões de fé que façam em contrário, lá bem no fundo das suas massas encefálicas (dantes eram as massas populares), são a favor do "triunfo dos porcos". Aliás, agora lêem pela cartilha neoliberal do mesmo modo que dantes liam pelo "pequeno livro vermelho". Não passam de aprendizes de feiticeiro. Um dia destes ou um ano destes - sabe-se lá quando -, a realidade laboral ainda se sobrepõe à realidade mercantil e é capaz de lhes estoirar nas ventas, com inesperada "violência revolucionária". E a suprema ironia desta história seria vê-los à rasca, a lutar como possessos contra a fúria das massas populares!
NO NOSSO CASO ONDE TUDO É DEMOCRATA E CONSTITUI A CHAMADA MAIORIA SOCIOLÓGICA DE ESQUERDA QUE EU DIGO ADEPTA DO TUDO E DO SEU CONTRÁRIO DEPOIS DAS ENTREGAS DE TUDO O QUE TINHA PRETO E NÃO ERA NOSSO COM O FUZILAMENTO DOS "ASSIMILADOS", A EXPULSÃO EM MASSA DOS BRANCOS A EITO E O CONFISCO DOS SEUS BENS JÁ VAMOS OU NÃO EM CERCA DE UM MILHÃO DE AFRICANOS EM VÁRIOS ESTÁDIOS DE "INTEGRAÇÃO" QUE A GLORIOSA CONSTITUIÇÃO E A LEI DA NACIONALIDADE MANDAM PAGAR IRMÃMENTE COMO SE FOSSEM MAIS VALIAS COMO DIZIA O OUTRO?
OLHA QUE DAR CASA A UM MILHÃO, SNS, EDUCAÇÃO TENDO COMO CONTRAPARTIDA LAVADORES DE PRATOS É MESMO UM MILAGRE QUE O INDIGENATO BRANCO DEVE AGRADECER UM DIA À TAL MAIORIA SOCIOLÓGICA...