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Monday, May 4, 2009

Ó MARIO PÁ NEM EM ANGOLA OS GAJOS TE LIGAM PÁ...

Cultura
Antigos reclusos juntam-se no Tarrafal 35 anos depois

Por Venceslau Mateus

Luanda - Trinta e cinco anos depois do seu encerramento, o Campo de Concentração do Tarrafal, situado na Ilha de Santiago (Cabo Verde), juntou na semana finda velhos conhecidos de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Portugal, todos antigos reclusos que consideram ter ali passado alguns dos"piores momentos de suas vidas".

Desta vez, não na condição de presos políticos, mais com a nobre missão de valorizar verdadeiramente o campo, enquanto património cultural da humanidade.

Em quatro dias de trabalho, angolanos, cabo-verdianos, guineenses e portugueses, que até ao 25 de Abril de 1974 lutaram contra o regime colonial português, recordaram histórias, peripécias e, acima de tudo, o dia-a-dia no Campo de Concentração de Tarrafal que tem nas suas laterais montanhas e o oceano Atlântico.

Com lágrimas perante o enorme "monstro" construído à base de pedras e cercado com arame farpado, os ex-presos políticos tiveram, em quatro dias, a oportunidade de rever amigos e companheiros de semelhantes ideais.

Angola, com uma delegação chefiada pela ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, e integrada ainda pelo vice-ministro da Comunicação Social, Manuel Miguel de Carvalho, saiu de Cabo Verde com o sentimento do dever cumprido: obter o compromisso das autoridades cabo-verdianas para a transformação da cela dos angolanos num espaço cultural angolano.

Idos a Cabo Verde com a lição bem estudada, a delegação angolana, por sinal a mais representativa, conseguiu, nos encontros com as autoridades cabo-verdianas, principalmente com o chefe de Estado, Pedro Pires, e o chefe do Governo, José Maria das Neves, obter o compromisso oficial para a transformação da cela dos angolanos num espaço de cultura e lazer com informações culturais sobre Angola e os "ex-inclinos" da casa.

Dependendo apenas das autoridades angolanas, o espaço que acolheu Agostinho Neto, primeiro Presidente angolano, Mendes de Carvalho, António Jacinto, Luandino Vieira, António Cardoso, Manuel Pedro Pacavira, entre outros notáveis da política e cultura angolana, deverá dar lugar a uma sala de história de Angola.

No seu rescaldo à imprensa angolana, Rosa Cruz e Silva considerou que para se valorizar as conquistas do passado, o esforço e sacrifício consentidos pelos patriotas angolanos, necessário dar-se a conhecer e preservar muito bem todas as conquistas adquiridas como resultado do trabalho deles e de todas as pessoas que lutaram pela liberdade dos africanos.

Para tal, a governante manifestou a disponibilidade do Governo angolano participar do projecto apresentado pelos cabo-verdianos, visando perpetuar a memória de todos os ex-presos políticos do regime colonial português.

O impulso e a vontade de Angola em ver desenvolver o projecto, de acordo com a ministra, foi confirmado ao presidente Pedro Pires, que também manifestou a vontade de Cabo Verde concretizar o mais rápido possível o projecto em causa.

O interesse de Angola neste projecto, segundo a ministra, está relacionado com o facto de as autoridades angolanas estarem interessadas em transformar a cela dos ex-presos políticos angolanos num espaço de cultura e de investigação da história de Angola.

O Campo de Concentração de Tarrafal foi instituído pelo regime fascista português, pela primeira vez, em Abril de 1936, sob o nome de Colónia Penal do Tarrafal/Campo de Trabalho de Chão Bom.

A Colónia Penal do Tarrafal ou “Campo de morte lenta”, nome por que ficou conhecido por aqueles que lá estiveram, visava aniquilar física e psicologicamente os opositores portugueses ao regime fascista de Salazar, colocando-os longe dos olhares do Mundo, em condições desumanas de cativeiro e maus tratos.

De 25 de Fevereiro de 1962, data da chegada dos primeiros presos políticos (o também chamado grupo do processo 50), a 1 de Maio de 1974, data em que foram libertados os últimos presos, o Campo de Concentração de Tarrafal acolheu 121 angolanos que na altura batiam-se contra a presença portuguesa em Angola.