Em defesa do cliente nº 58 e de todos os perseguidos por terem o dinheiro a recato
12.09.2020 às 1h00
Com a mania da devassa, chega-se ao ponto de saber quanto deve ao Novo Banco o cliente número 58. Ora, isto é muito intolerável!
onham-se na pele (ou nos sapatos, como dizem os camones) do cliente nº 58 do Novo Banco. Acham razoável que todos os jornais o deem como exemplo do caloteiro, da pessoa que gerou mais perdas ao NB, devendo 904 milhões de euros em participações de capital? Já para não falar do 130, ou seja o BES Angola, segundo um jornal económico que tem Negócios no título e que eu, nem que me enforquem, direi que é o “Jornal de Negócios”. Este 123 deve 2,9 mil milhões de euros! É intolerável, porque a coberto do anonimato se vão desprestigiando números, nomes e carreiras sem qualquer critério. Este desprezo pelos números (que não se vislumbra pelas letras) é um mal social que deve ser combatido com o mesmo empenho com que o PCP defendeu a Festa do “Avante!”. É um ataque soez e vergonhoso ao capitalismo, ao espírito de risco e à vontade de progredir.
Dir-me-ão que o 58, o 123 e outros são culpados. Que se não quisessem ver as suas contas e respetivos números de ordem devassados não deveriam ter ficado a dever tanto dinheiro. Poder-vos-ia dar razão, mas também posso contrapor que os motivos concretos do 58 ou do 123, ou de outro qualquer, podem ser ponderosos. Quem nunca? Quem nunca sentiu uma vontade indomável de comprar um iate de 60 metros, devidamente equipado e com uma tripulação atenta e decidida a concretizar todos os nossos caprichos? Ou um avião a jato, daqueles pequenos de 12 ou 15 lugares, mas capaz de ir diretamente daqui aos EUA ou Caraíbas? Sim, porque para alguns seres, que sendo minorias devem ser protegidos, trata-se de necessidades básicas.