La victoire de Trump fait ressurgir brutalement cet oublié : le peuple
Le vote Trump témoigne d'un sentiment de dépossession, évidemment radicalisé par la fragilisation de l'empire américain.
TRIBUNE - L'élection de Donald Trump à la Maison-Blanche a des causes identitaires, culturelles et sociales, explique le sociologue Mathieu Bock-Côté, figure de la vie intellectuelle québécoise.
TENHAM MEDO, MUITO MEDO PORQUE AS VOSSAS ACÇÕES TRAIÇOEIRAS SERÃO UM DIA JULGADAS PELOS POPULISTAS E DE FORMA NADA AGRADÁVEL...
Tuesday, November 15, 2016
AINDA BEM QUE NÃO SE FALA EM IMIGRAÇÃO E O MUNDO É UM SÓ.POR ACASO DEVIDAMENTE INDIGENADO EM ÁFRICA...
Eles falaram. Mas insistem em não os ouvir.
José Manuel Fernandes
14/11/2016, 15:04701
Trump venceu e vêm aí novas tempestades, agora na Europa. Assim, que tal deixar de insultar e menosprezar os seus eleitores e começar a tentar perceber as (muitas) razões de quem vota nos populistas?
Lixo branco. “White trash”. Aqui chegámos. De uma forma ou outra, quem votou em Donald Trump não presta. São velhos. Incultos. Pobres. Vivem longe do cosmopolitismo dos centros urbanos. E, claro, são racistas. Machistas. Xenófobos. E por aí adiante.
Uma parte do que escrevi atrás foi escrito em letra de forma nos mais consagrados órgãos de informação, dito por doutorados de ciências políticas no prime time dos mais sisudos canais de televisão. A outra parte foi acrescentada nas redes sociais e nas caixas de comentários pelo exército de militantes do costume (aliás as redes sociais, que Obama tão “brilhantemente” usara, passaram agora a ser as responsáveis pela vitória de Trump, apesar de serem mais utilizadas pelos novos do que pelos velhos e pelos letrados do que pelos iletrados, mas isso é só um dos sinais de como a eleição norte-americana toldou demasiado os espíritos).
Talvez seja altura de, em vez de batermos com a cabeça na parede, tentarmos perceber o que se passou – e darmos ouvidos à mensagem dos eleitores. Fazermos, no fundo, aquilo que há muito devíamos estar a fazer, nomeadamente nesta Europa onde, nas últimas eleições europeias, todos os sinais vermelhos se acenderam e depois tudo continuou na mesma, como se nada tivesse ocorrido.
Talvez seja altura de perceber que a coligação que elegeu Trump inclui mulheres (a maioria das mulheres brancas, apesar das boçalidades que lhe ouvimos), inclui latinos (um terço deles), inclui muçulmanos (que tal lerem este artigo, por exemplo?), inclui muita gente das classes altas e ilustradas (votou nela a maioria dos que ganha mais de 100 mil dólares por ano, por exemplo). Nessa altura abandonaremos a caricatura e poderemos começar a perceber as razões da vitória populista, algo que não se consegue insistindo nas ideias feitas e nos preconceitos.
Eu sei que é difícil fazer este exercício. Como escrevi ainda antes das eleições, a América está profundamente dividida e já nem sequer se ouve uma à outra. Mas agora não é possível deixar de fazê-lo. Ou seja, não é possível deixar de responder afirmativamente à pergunta deixada na Pensilvânia profunda por um eleitor de Trump à reportagem do Observador: “Agora já nos ouvem?”
Um grito: “Basta!”
A mensagem que esses eleitores enviaram é forte e pode ser sintetizada em poucas palavras: sentem-se estranhos na sua própria terra. Primeiro, porque muitos deles têm a percepção que ficaram do lado dos derrotados da globalização. Depois, porque se sentem abandonados pelas elites políticas, que pedem o seu voto e depois fazem o que entendem. Finalmente, porque não suportam mais a ditadura do politicamente correcto, as imposições sobre o que se tem de pensar e o que se pode ou não pode dizer.
Comecemos pelo fim. Na maior parte dos jornais e televisões o mundo divide-se em “bons” – os que são tolerantes e solidários – e “maus” – os que não abdicam da sua identidade e da sua cultura. Os “bons”, que por regra são mais educados e vivem do lado certo das nossas cidades, são os que saem à rua em solidariedade com os imigrantes e depois vão dormir descansados; os “maus”, que por regra têm piores empregos e vivem (ou viviam) junto dos imigrantes ou dos seus “acampamentos”, são os que de vez em quando explodem e dizem “Basta!”. Nessa altura passam a ser xenófobos sem salvação.
No discurso dominante, os “maus” são extremistas. Na prática, ao mesmo tempo que há reais extremistas a explorar este mal-estar, do lado dos “bons” ninguém repara como estes, por exemplo, baniram a liberdade de expressão dos campus universitários norte-americanos e em muitas universidades europeias. Os “bons”, os tolerantes, os cosmopolitas, são os mesmos que impediram apoiantes de Hillary Clinton de falar, até mesmo de dizerem que o eram, quando esta ainda disputava a nomeação com Bernie Sanders, os que em Madrid silenciaram o histórico socialista Felipe Gonzalez na Universidade Complutense, para já não falar nos que desconvidaram o Papa Bento XVI da Universidade La Sapienza, de Roma, onde este iria ler uma das mais brilhantes e estimulantes palestras do seu Pontificado.
O sectarismo da Fox News teve nos Estados Unidos o sucesso que teve – e que não é de agora – por causa desta duplicidade que domina os grandes jornais e as grandes cadeias de televisão. De resto quem tivesse seguido, como eu segui, a CNN nas horas e dias que se seguiram à surpreendente vitória de Trump perderia qualquer ilusão e perceberia porque muitos a conhecem como “Clinton News Network”. A Fox é o espelho aberrante deste mal disfarçado facciosismo.
Depois há essa percepção de que a democracia foi esvaziada de propósito, que já não se controla quem está nos governos, que nem sequer se compreende como as decisões são tomadas. Nos Estados Unidos o ressentimento vai para o que se passa no interior do “beltway”, o grande anel de autoestradas que rodeia Washington DC. Lá dentro é outro mundo – e é mesmo: Trump só conseguiu 5% dos votos nessa “ilha” onde, a oriente, vivem as minorias (sobretudo negros) e, a ocidente, os poderosos. Na Europa o centro do ressentimento é “Bruxelas”, o coração do poder da União Europeia.
Tomemos o que nos está mais perto. Desde pelo menos 2005 que os eleitorados europeus têm vindo a dizer que não querem “mais Europa”. Foi nesse ano que, em França e na Holanda, o projecto de Tratado Constitucional foi chumbado em referendo. O que fizeram então os líderes europeus? Deram-lhe outro nome (Tratado de Lisboa) e prosseguiram assegurando-se que não haveria mais referendos (excepto na Irlanda, onde os referendos seriam repetidos até que deles saísse o resultado “certo”). Em 2014, nas eleições europeias, os partidos eurocépticos tiveram os melhores resultados de sempre. O que fizeram os líderes europeus? Escolheram para presidir à Comissão Europeia um desequilibrado federalista (Juncker) e para presidor ao Parlamento Europeu um outro federalista que nunca foi sequer eleito para um lugar de relevo no seu próprio país (Schulz). Não surpreende que ambos tenham estado entre os que reagiram de forma mais agreste e sectária aos resultados do referendo britânico que decidiu o Brexit.
Os erros de Jorge Sampaio
Este desprezo pela vontade dos eleitores é próprio dos que se julgam iluminados, dos que acreditam terem uma utopia redentora que devem prosseguir a todo o custo e se vêem como uma vanguarda que conduz os povos na boa direcção. Mesmo quando lhes dá um rebate de consciência, é de curta duração.
Tomemos, por exemplo, o ensaio de Jorge Sampaio no Público. Ao mesmo tempo que se reconhece estarmos a caminho do desastre, antevendo até “as próximas etapas prováveis desta corrida para o abismo”, ao mesmo tempo que se escreve “que nada poderá continuar a ser business as usual”, todos os caminhos que se propõem revelam que não se está a escutar os eleitores que votam nos populistas.
A prudência e a humildade deviam obrigar-nos a rever posicionamentos. Jorge Sampaio prefere antes fazer “um exercício de militantismo europeu”. Susto, penso eu. Maior susto ainda quando se sugere “uma outra Europa” ainda mais integrada do que a actual. Por exemplo: “não havendo progressos na união orçamental e mantendo-se a situação actual, não há forma de o orçamento comunitário (ou da zona euro, aliás, inexistente) poder absorver os choques assimétricos que se fazem sentir em países particulares”.
O que aqui está sugerido pode parecer inócuo mas não é. Primeiro: mais “união orçamental” significará sempre mais poder de Bruxelas na definição dos orçamentos nacionais, logo mais choques entre as escolhas dos parlamentos nacionais e as escolhas da Comissão Europeia e dos seus burocratas. O exercício do verdadeiro poder ficaria mais longe dos cidadãos. A sensação de que tudo é decidido por gente sem rosto agravar-se-ia. Querem melhor para que o populismo medre, sobretudo no sul da Europa, onde as divergências com Bruxelas são maiores?
E depois repare-se na proposta de um orçamento comunitário reforçado. Quem o pagaria? Os países do norte. Para onde iria o dinheiro destinado a “absorver os choques assimétricos”? Para os países do sul. Querem melhor receita para impulsionar os nacionalistas radicais em países como a Alemanha?
Já escrevi inúmeras vezes e repito de novo: a Europa tem de saber fazer marcha-atrás quando percebe que está a ir contra uma parede. O Brexit pode ser uma oportunidade para alguma “desconstrução” da União Europeia, algo que Jorge Sampaio equipara a “destruição” mas que os eleitorados claramente desejam. Será muito difícil de perceber?
Cabeça fria e humildade democrática
Mais: da mesma forma que defendo esta necessidade de prudência na União Europeia, defendo que também não se pode ignorar o sentimento de deserdados da globalização de muitos destes eleitores.
A globalização trouxe-nos enormes benefícios – sobretudo aos mais pobres dos países mais pobres, mas também a quase todos no mundo desenvolvido. Como escreveu este fim-de-semana no Financial Times Francis Fukuyama, “entre 1970 e a crise financeira de 2008, a produção global de bens e serviços quadruplicou, libertando da pobreza centenas de milhões de seres humanos, não apenas na China e na Índia, mas também na América Latina e na África subsaariana”. O reverso desta medalha foi a desindustrialização de regiões inteiras, como o agora famoso “rust belt” (a “cintura da ferrugem”) nos estados que antes votavam democrata e agora votaram republicano, elegendo Trump.
O clamoroso falhanço da esquerda moderada, que se mostrou incapaz de representar estes novos deserdados – ocupada que estava com as minorias e as causas fracturantes – criou o caldo de cultura dos populismos nacionalistas nos Estados Unidos e na Europa do Norte e dos populismos de esquerda na Europa do Sul. Fingir que o problema não existe ou que pode desaparecer por si é uma perigosa ilusão. Por isso, também nesta frente teremos de, pelo menos, ir mais devagar. Não será bom para o crescimento económico, mas será melhor que o regresso puro e simples dos protecionismos. E pode ser uma grande oportunidade – para ver políticos a, finalmente, defenderem o comércio livre.
O Brexit e a eleição de Trump podem, se não cairmos no histerismo que por aí medra, ser uma oportunidade para encontrar melhores soluções do que as actuais. Mas essas soluções nunca passarão por acelerar o passo, pelo contrário.
Ponham lá umas pedras de gelo nos pulsos a ver se dominam os ânimos, se têm um pouco mais de humildade democrática, se baixam o tom dos insultos e se deixam de tratar todos os que pensam de outra forma como “white trash”.
José Manuel Fernandes
14/11/2016, 15:04701
Trump venceu e vêm aí novas tempestades, agora na Europa. Assim, que tal deixar de insultar e menosprezar os seus eleitores e começar a tentar perceber as (muitas) razões de quem vota nos populistas?
Lixo branco. “White trash”. Aqui chegámos. De uma forma ou outra, quem votou em Donald Trump não presta. São velhos. Incultos. Pobres. Vivem longe do cosmopolitismo dos centros urbanos. E, claro, são racistas. Machistas. Xenófobos. E por aí adiante.
Uma parte do que escrevi atrás foi escrito em letra de forma nos mais consagrados órgãos de informação, dito por doutorados de ciências políticas no prime time dos mais sisudos canais de televisão. A outra parte foi acrescentada nas redes sociais e nas caixas de comentários pelo exército de militantes do costume (aliás as redes sociais, que Obama tão “brilhantemente” usara, passaram agora a ser as responsáveis pela vitória de Trump, apesar de serem mais utilizadas pelos novos do que pelos velhos e pelos letrados do que pelos iletrados, mas isso é só um dos sinais de como a eleição norte-americana toldou demasiado os espíritos).
Talvez seja altura de, em vez de batermos com a cabeça na parede, tentarmos perceber o que se passou – e darmos ouvidos à mensagem dos eleitores. Fazermos, no fundo, aquilo que há muito devíamos estar a fazer, nomeadamente nesta Europa onde, nas últimas eleições europeias, todos os sinais vermelhos se acenderam e depois tudo continuou na mesma, como se nada tivesse ocorrido.
Talvez seja altura de perceber que a coligação que elegeu Trump inclui mulheres (a maioria das mulheres brancas, apesar das boçalidades que lhe ouvimos), inclui latinos (um terço deles), inclui muçulmanos (que tal lerem este artigo, por exemplo?), inclui muita gente das classes altas e ilustradas (votou nela a maioria dos que ganha mais de 100 mil dólares por ano, por exemplo). Nessa altura abandonaremos a caricatura e poderemos começar a perceber as razões da vitória populista, algo que não se consegue insistindo nas ideias feitas e nos preconceitos.
Eu sei que é difícil fazer este exercício. Como escrevi ainda antes das eleições, a América está profundamente dividida e já nem sequer se ouve uma à outra. Mas agora não é possível deixar de fazê-lo. Ou seja, não é possível deixar de responder afirmativamente à pergunta deixada na Pensilvânia profunda por um eleitor de Trump à reportagem do Observador: “Agora já nos ouvem?”
Um grito: “Basta!”
A mensagem que esses eleitores enviaram é forte e pode ser sintetizada em poucas palavras: sentem-se estranhos na sua própria terra. Primeiro, porque muitos deles têm a percepção que ficaram do lado dos derrotados da globalização. Depois, porque se sentem abandonados pelas elites políticas, que pedem o seu voto e depois fazem o que entendem. Finalmente, porque não suportam mais a ditadura do politicamente correcto, as imposições sobre o que se tem de pensar e o que se pode ou não pode dizer.
Comecemos pelo fim. Na maior parte dos jornais e televisões o mundo divide-se em “bons” – os que são tolerantes e solidários – e “maus” – os que não abdicam da sua identidade e da sua cultura. Os “bons”, que por regra são mais educados e vivem do lado certo das nossas cidades, são os que saem à rua em solidariedade com os imigrantes e depois vão dormir descansados; os “maus”, que por regra têm piores empregos e vivem (ou viviam) junto dos imigrantes ou dos seus “acampamentos”, são os que de vez em quando explodem e dizem “Basta!”. Nessa altura passam a ser xenófobos sem salvação.
No discurso dominante, os “maus” são extremistas. Na prática, ao mesmo tempo que há reais extremistas a explorar este mal-estar, do lado dos “bons” ninguém repara como estes, por exemplo, baniram a liberdade de expressão dos campus universitários norte-americanos e em muitas universidades europeias. Os “bons”, os tolerantes, os cosmopolitas, são os mesmos que impediram apoiantes de Hillary Clinton de falar, até mesmo de dizerem que o eram, quando esta ainda disputava a nomeação com Bernie Sanders, os que em Madrid silenciaram o histórico socialista Felipe Gonzalez na Universidade Complutense, para já não falar nos que desconvidaram o Papa Bento XVI da Universidade La Sapienza, de Roma, onde este iria ler uma das mais brilhantes e estimulantes palestras do seu Pontificado.
O sectarismo da Fox News teve nos Estados Unidos o sucesso que teve – e que não é de agora – por causa desta duplicidade que domina os grandes jornais e as grandes cadeias de televisão. De resto quem tivesse seguido, como eu segui, a CNN nas horas e dias que se seguiram à surpreendente vitória de Trump perderia qualquer ilusão e perceberia porque muitos a conhecem como “Clinton News Network”. A Fox é o espelho aberrante deste mal disfarçado facciosismo.
Depois há essa percepção de que a democracia foi esvaziada de propósito, que já não se controla quem está nos governos, que nem sequer se compreende como as decisões são tomadas. Nos Estados Unidos o ressentimento vai para o que se passa no interior do “beltway”, o grande anel de autoestradas que rodeia Washington DC. Lá dentro é outro mundo – e é mesmo: Trump só conseguiu 5% dos votos nessa “ilha” onde, a oriente, vivem as minorias (sobretudo negros) e, a ocidente, os poderosos. Na Europa o centro do ressentimento é “Bruxelas”, o coração do poder da União Europeia.
Tomemos o que nos está mais perto. Desde pelo menos 2005 que os eleitorados europeus têm vindo a dizer que não querem “mais Europa”. Foi nesse ano que, em França e na Holanda, o projecto de Tratado Constitucional foi chumbado em referendo. O que fizeram então os líderes europeus? Deram-lhe outro nome (Tratado de Lisboa) e prosseguiram assegurando-se que não haveria mais referendos (excepto na Irlanda, onde os referendos seriam repetidos até que deles saísse o resultado “certo”). Em 2014, nas eleições europeias, os partidos eurocépticos tiveram os melhores resultados de sempre. O que fizeram os líderes europeus? Escolheram para presidir à Comissão Europeia um desequilibrado federalista (Juncker) e para presidor ao Parlamento Europeu um outro federalista que nunca foi sequer eleito para um lugar de relevo no seu próprio país (Schulz). Não surpreende que ambos tenham estado entre os que reagiram de forma mais agreste e sectária aos resultados do referendo britânico que decidiu o Brexit.
Os erros de Jorge Sampaio
Este desprezo pela vontade dos eleitores é próprio dos que se julgam iluminados, dos que acreditam terem uma utopia redentora que devem prosseguir a todo o custo e se vêem como uma vanguarda que conduz os povos na boa direcção. Mesmo quando lhes dá um rebate de consciência, é de curta duração.
Tomemos, por exemplo, o ensaio de Jorge Sampaio no Público. Ao mesmo tempo que se reconhece estarmos a caminho do desastre, antevendo até “as próximas etapas prováveis desta corrida para o abismo”, ao mesmo tempo que se escreve “que nada poderá continuar a ser business as usual”, todos os caminhos que se propõem revelam que não se está a escutar os eleitores que votam nos populistas.
A prudência e a humildade deviam obrigar-nos a rever posicionamentos. Jorge Sampaio prefere antes fazer “um exercício de militantismo europeu”. Susto, penso eu. Maior susto ainda quando se sugere “uma outra Europa” ainda mais integrada do que a actual. Por exemplo: “não havendo progressos na união orçamental e mantendo-se a situação actual, não há forma de o orçamento comunitário (ou da zona euro, aliás, inexistente) poder absorver os choques assimétricos que se fazem sentir em países particulares”.
O que aqui está sugerido pode parecer inócuo mas não é. Primeiro: mais “união orçamental” significará sempre mais poder de Bruxelas na definição dos orçamentos nacionais, logo mais choques entre as escolhas dos parlamentos nacionais e as escolhas da Comissão Europeia e dos seus burocratas. O exercício do verdadeiro poder ficaria mais longe dos cidadãos. A sensação de que tudo é decidido por gente sem rosto agravar-se-ia. Querem melhor para que o populismo medre, sobretudo no sul da Europa, onde as divergências com Bruxelas são maiores?
E depois repare-se na proposta de um orçamento comunitário reforçado. Quem o pagaria? Os países do norte. Para onde iria o dinheiro destinado a “absorver os choques assimétricos”? Para os países do sul. Querem melhor receita para impulsionar os nacionalistas radicais em países como a Alemanha?
Já escrevi inúmeras vezes e repito de novo: a Europa tem de saber fazer marcha-atrás quando percebe que está a ir contra uma parede. O Brexit pode ser uma oportunidade para alguma “desconstrução” da União Europeia, algo que Jorge Sampaio equipara a “destruição” mas que os eleitorados claramente desejam. Será muito difícil de perceber?
Cabeça fria e humildade democrática
Mais: da mesma forma que defendo esta necessidade de prudência na União Europeia, defendo que também não se pode ignorar o sentimento de deserdados da globalização de muitos destes eleitores.
A globalização trouxe-nos enormes benefícios – sobretudo aos mais pobres dos países mais pobres, mas também a quase todos no mundo desenvolvido. Como escreveu este fim-de-semana no Financial Times Francis Fukuyama, “entre 1970 e a crise financeira de 2008, a produção global de bens e serviços quadruplicou, libertando da pobreza centenas de milhões de seres humanos, não apenas na China e na Índia, mas também na América Latina e na África subsaariana”. O reverso desta medalha foi a desindustrialização de regiões inteiras, como o agora famoso “rust belt” (a “cintura da ferrugem”) nos estados que antes votavam democrata e agora votaram republicano, elegendo Trump.
O clamoroso falhanço da esquerda moderada, que se mostrou incapaz de representar estes novos deserdados – ocupada que estava com as minorias e as causas fracturantes – criou o caldo de cultura dos populismos nacionalistas nos Estados Unidos e na Europa do Norte e dos populismos de esquerda na Europa do Sul. Fingir que o problema não existe ou que pode desaparecer por si é uma perigosa ilusão. Por isso, também nesta frente teremos de, pelo menos, ir mais devagar. Não será bom para o crescimento económico, mas será melhor que o regresso puro e simples dos protecionismos. E pode ser uma grande oportunidade – para ver políticos a, finalmente, defenderem o comércio livre.
O Brexit e a eleição de Trump podem, se não cairmos no histerismo que por aí medra, ser uma oportunidade para encontrar melhores soluções do que as actuais. Mas essas soluções nunca passarão por acelerar o passo, pelo contrário.
Ponham lá umas pedras de gelo nos pulsos a ver se dominam os ânimos, se têm um pouco mais de humildade democrática, se baixam o tom dos insultos e se deixam de tratar todos os que pensam de outra forma como “white trash”.
O OBAMA NÃO QUER QUE NENHUM PRETO MOLHE SEQUER O PÉ NO MEDITERRÂNEO.E QUE A NATO ACTUE NOS PRIMEIROS 20 METROS DA COSTA AFRICANA...
Obama garante que Trump vai apoiar NATO
POR CÁ JÁ TEMOS HERÓIS SALVADORES COM PEITO FEITO PARA DIVIDIREM COM OS SALVOS...E COMO O BOLO É CADA VEZ MENOR IMAGINEM NO QUE DÁ...
CLARO QUE SOMOS POPULISTAS DE DIREITA QUE NÃO PERCEBEM BEM A ELEVAÇÃO ESPIRITUAL DE DAR A OUTRA FACE AOS FILHOS DA MÃE ÁFRICA QUE COM AS NOSSAS VANGUARDAS A COMANDAR DESCOLONIZARAM OS BRANCOS E SEM BENS MAS AGORA SÓ LHES TÊM CÁ AFECTOS QUE NUNCA MAIS ACABAM...AO PONTO DE SEM EMENDAREM AS ROUBALHEIRAS QUE FIZERAM AOS BRANCOS DEFENDEREM AGORA QUE O MUNDO É UM SÓ E NINGUÉM É ILEGAL E É UMA VERGONHA NÃO TEREM DIREITO À NACIONALIDADE NA HORA...O QUE FACILITA MUITO O ACESSO AO MANÁ DA SEGURANÇA SOCIAL PARA A QUAL DESCONTAM, OS QUE DESCONTAM, UM CHOURIÇINHO MAGRO MAS DONDE QUEREM UM PORCO BEM GORDO...SENÃO RACISMO PARA CIMA DO DIABO BRANCO QUE COMO SE VÊ PECA EM TODO O LADO.PECAVA EM ÁFRICA APESAR DE A AFRICANIDADE AINDA NÃO TER ATINGIDO LÁ E INDEPENDENTE O NÍVEL DE VIDA QUE TINHA NO SEU TEMPO E AGORA CÁ DENTRO POR COLOCAR TANTOS ENTRAVES AO NOSSO ENRIQUECIMENTO COM "ELES" E A SUA "KULTURA"...
A RAPAZIADA DO TUDO E DO SEU CONTRÁRIO NOS SEUS POSTOS DE CONTROLEIRO DA RAÇA MISTA NOS MEIOS DE PROPAGANDA TUDO FAZEM PARA ENGANAR OS POPULISTAS DE DIREITA QUE ALEGADAMENTE SÃO UMA MINORIA MAS QUE SE DEMONSTRA CONSTITUÍREM MAIORIAS QUANDO LHES DÃO A OPORTUNIDADE.SEM "INTERPRETAÇÃO" E MUITA AFRICANIDADE A TRABALHAR NOS BACK OFFICE PAGOS POR NÓS ACONTECEM OS DESASTRES QUE TANTO DEIXAM SEM SONO OS QUERIDOS JUDEUS, EX-TRAIDORES, INTERNACIONALISTAS CONVICTOS E DEMAIS PARTICIPANTES DA RAÇA MISTA QUE QUEREM CONSTRUIR COM BASE NOS NOSSOS IMPOSTOS
QUEM NÃO É PELOS POPULISTAS É CONTRA OS POPULISTAS E PORTANTO NA DEVIDA ALTURA NÃO VENHAM COM O HABITUAL VIRAR DA CASACA. FODEM-SE TODOS A EITO...
POR CÁ JÁ TEMOS HERÓIS SALVADORES COM PEITO FEITO PARA DIVIDIREM COM OS SALVOS...E COMO O BOLO É CADA VEZ MENOR IMAGINEM NO QUE DÁ...
CLARO QUE SOMOS POPULISTAS DE DIREITA QUE NÃO PERCEBEM BEM A ELEVAÇÃO ESPIRITUAL DE DAR A OUTRA FACE AOS FILHOS DA MÃE ÁFRICA QUE COM AS NOSSAS VANGUARDAS A COMANDAR DESCOLONIZARAM OS BRANCOS E SEM BENS MAS AGORA SÓ LHES TÊM CÁ AFECTOS QUE NUNCA MAIS ACABAM...AO PONTO DE SEM EMENDAREM AS ROUBALHEIRAS QUE FIZERAM AOS BRANCOS DEFENDEREM AGORA QUE O MUNDO É UM SÓ E NINGUÉM É ILEGAL E É UMA VERGONHA NÃO TEREM DIREITO À NACIONALIDADE NA HORA...O QUE FACILITA MUITO O ACESSO AO MANÁ DA SEGURANÇA SOCIAL PARA A QUAL DESCONTAM, OS QUE DESCONTAM, UM CHOURIÇINHO MAGRO MAS DONDE QUEREM UM PORCO BEM GORDO...SENÃO RACISMO PARA CIMA DO DIABO BRANCO QUE COMO SE VÊ PECA EM TODO O LADO.PECAVA EM ÁFRICA APESAR DE A AFRICANIDADE AINDA NÃO TER ATINGIDO LÁ E INDEPENDENTE O NÍVEL DE VIDA QUE TINHA NO SEU TEMPO E AGORA CÁ DENTRO POR COLOCAR TANTOS ENTRAVES AO NOSSO ENRIQUECIMENTO COM "ELES" E A SUA "KULTURA"...
A RAPAZIADA DO TUDO E DO SEU CONTRÁRIO NOS SEUS POSTOS DE CONTROLEIRO DA RAÇA MISTA NOS MEIOS DE PROPAGANDA TUDO FAZEM PARA ENGANAR OS POPULISTAS DE DIREITA QUE ALEGADAMENTE SÃO UMA MINORIA MAS QUE SE DEMONSTRA CONSTITUÍREM MAIORIAS QUANDO LHES DÃO A OPORTUNIDADE.SEM "INTERPRETAÇÃO" E MUITA AFRICANIDADE A TRABALHAR NOS BACK OFFICE PAGOS POR NÓS ACONTECEM OS DESASTRES QUE TANTO DEIXAM SEM SONO OS QUERIDOS JUDEUS, EX-TRAIDORES, INTERNACIONALISTAS CONVICTOS E DEMAIS PARTICIPANTES DA RAÇA MISTA QUE QUEREM CONSTRUIR COM BASE NOS NOSSOS IMPOSTOS
QUEM NÃO É PELOS POPULISTAS É CONTRA OS POPULISTAS E PORTANTO NA DEVIDA ALTURA NÃO VENHAM COM O HABITUAL VIRAR DA CASACA. FODEM-SE TODOS A EITO...
Monday, November 14, 2016
ENTÃO E OS CURSOS OBRIGATÓRIOS A SEREM FREQUENTADOS PELOS BANQUEIROS?
Mesmo sem condenação, processo judicial pode limitar ascensão a banqueiros
A idoneidade é um dos aspectos avaliados pelo BCE para aceitar a nomeação de um administrador bancário e as acções judiciais serão tidas em conta. Mesmo que não tenha havido condenação, pode haver problemas.
POR CÁ QUALQUER UM PODE SER BANQUEIRO QUE DEPOIS SE A COISA CORRER MAL O CONTRIBUINTE ENTRA COM O SEU.
A idoneidade é um dos aspectos avaliados pelo BCE para aceitar a nomeação de um administrador bancário e as acções judiciais serão tidas em conta. Mesmo que não tenha havido condenação, pode haver problemas.
POR CÁ QUALQUER UM PODE SER BANQUEIRO QUE DEPOIS SE A COISA CORRER MAL O CONTRIBUINTE ENTRA COM O SEU.
DEBAIXO DO COLCHÃO O DINHEIRO NÃO É COMIDO PELOS ÁCAROS...
Expresso
Portugueses tiraram €3400 milhões dos bancos em 2015
E A COISA AINDA VAI MELHORAR...
MARCELO UMA AJUDINHA AO BRÂMANE GOÊS CAÍDO EM DESGRAÇA NO REINO UNIDO PÁ...
Três mulheres no programa de visitas de Marcelo em Londres
AFINAL ELE SÓ QUERIA IR TOMAR NO CU E FAZER UMA BELA VIDA COMO REFORMADO EM GOA...
AFINAL ELE SÓ QUERIA IR TOMAR NO CU E FAZER UMA BELA VIDA COMO REFORMADO EM GOA...
AS CÉLULAS NA "JUSTIÇA" EM FRANÇA AINDA VÃO ACTUAR.COMO CÁ...
Depois dos deploráveis, os sem dentes
Helena MatosSeguir
14/11/2016, 6:49
O mediatismo esclarecido primeiro escarneceu e depois irritou-se com os deploráveis de Trump. Mas os sem dentes de Le Pen já estão à nossa espera. Fazer de conta que eles não existem não funciona.
Já temos encontro marcados com eles. Vai ser a 23 de Abril e a 7 de Maio do próximo ano. Eles, os sem dentes, estão à nossa espera nas primeira e segunda volta das presidenciais francesas. E convém que não se repita o mesmo exercício de mediatismo esclarecido que marcou a cobertura das eleições norte-americanas.
Recordemos: o mediatismo esclarecido, com os seus “robespierres”, primeiro escarneceu e depois irritou-se com os deploráveis de Trump. Mas os sem dentes de Le Pen já estão à nossa espera. É melhor ouvi-los. Perceber o que são as suas vidas. Os seus medos. Ou a insistirmos na atitude do “medático esclarecido” mais uma vez, diante dos resultados eleitorais, acabaremos na choradeira incrédula do costume, nas patéticas manifestações de “democratas tão democratas que não aceitam os resultados das urnas” e com a CML a mandar fazer novos cartazes que, pelo menos, se espera não tenham erros gramaticais, matéria em que os franceses seja qual for a sua área política não têm qualquer sentido de humor.
É a Hollande que devemos a expressão “Os sem dentes” para designar os pobres. Para sermos honestos, mais do que a Hollande é à sua por assim dizer atribulada vida conjugal que devemos ter ficado a conhecer a forma por que o actual presidente francês se refere àquelas pessoas que não têm sobre a segurança, a família e o multiculturalismo as mesmas ideias que ele, Hollande, ex-messias da esquerda europeia. Para cúmulo estas pessoas são pobres, vestem-se mal, não têm charme e, ao contrário dos árabes, dos negros ou da “gens du voyage”, estão do lado errado da História: nenhum sociólogo os considera vítimas de uma qualquer fobia ou ismo. As vidas deles são apenas o resultados da sua própria ignorância.
O que tem a vida conjugal de Hollande a ver com isto? Com os sans dents nada. Mas com Valérie Trierweiler muito. Conhecemos Valérie Trierweiler como “companheira” ou “mãe dos filhos” de Hollande quando este chegou ao Eliseu (as designações para as pessoas que retiram todas as vantagens do casamento mas nunca se casam são sempre tão pirosas quanto imperfeitas). Um dia Valérie foi trocada por Julie Gayet mas Valérie vingou-se à grande e à francesa escrevendo um livro em que revelou a intimidade de François Hollande. Mas a revelação que mais perturbou os franceses não remetia para a vida sexual do actual presidente – na prática uma relativa pasmaceira quando comparada com a de Miterrand invariavelmente a expensas do contribuinte francês! – mas sim o facto de este, uma vez longe dos jornalistas, reservar o epíteto “sans dents” para se referir a boa parte daqueles de que também é Presidente e que, lendo, por exemplo, a imprensa portuguesa, acreditaríamos serem também os seus eleitores: operários, trabalhadores, desfavorecidos…
Na verdade não são. Eles, os sans dents, são aqueles que raramente se vêem, menos vezes ainda são entrevistados mas acabam a fazer Marine Le Pen subir nas sondagens. E podem fazer dela presidente da França – aquela mania do “pela primeira vez uma mulher” também se aplica neste caso? – caso se mantenha esta espécie de síndroma de alienação da realidade que atravessa presentemente o discurso de jornalistas, comentadores e analistas. Por exemplo, quantas notícias lemos sobre as agressões acontecidas em Outubro deste ano em Viry-Châtillon? Nem se pedem reportagens no local. Uma chamada telefónica chegava. Pois é, não soubemos nada ou quase nada. E contudo em Viry-Châtillon quatro polícias foram atacados e sovados. Dois ficaram com queimaduras gravíssimas. Note-se, não estamos na Síria mas sim a 20 quilómetros de Paris. Mas se estivessem na Síria talvez fossem alvo de maior interesse.
Já lá vai tempo em que estas agressões aconteciam no âmbito de intervenções policiais. Agora multiplicam-se os casos em que polícias que estão a fazer ronda são agredidos ou atraídos a ciladas, como aconteceu em Viry-Châtillon: os agentes acabaram cercados em pleno dia por um bando de encapuçados que partiram os vidros dos carros policiais e em seguida lançam lá para dentro cocktails Molotov. Quando os polícias saíram dos carros para se libertarem das chamas foram o espancados…
Pouca sou nenhumas notícias tivemos em Portugal sobre Viry-Châtillon. Tal como pouco ou nada ouvimos sobre as manifestações de polícias em protesto contra com o calvário judicial que em França aguarda os agentes que recorrem às armas já nem tanto para defender as populações mas apenas a si mesmos. E o que soubemos sobre o surto de agressões extremamente violentas a professores e funcionários em vários liceus franceses, isto apenas em Outubro deste ano? Não faltam cocktails Molotov, rostos tapados, maxilares partidos (de professores ou funcionários, naturalmente), instalações destruídas… mas nada.
Igual vazio imperou sobre Calais: durante três anos, Calais, com pouco mais de 75 mil habitantes, viu chegar milhares de imigrantes que, na impossibilidade de passarem para o Reino Unido, por ali ficaram amontoados, com os problemas inerentes a uma concentração anárquica de homens jovens, desligados das suas famílias e sem ocupação. Escrevia-se sobre as más condições desses acampamentos. Denunciava-se a falta de apoios para esses homens a quem não tardou se passou a chamar refugiados. Criticavam-se as autoridades (francesas e inglesas, claro, porque as dos países desses homens não existem para efeitos de responsabilidade) por nada fazerem. A Calais chegavam autocarros com manifestantes que faziam declarações repletas de referências a leis, tratados e convenções sobre os direitos dos migrantes.
No fim do dia os manifestantes entravam de novo nos autocarros, regressavam às suas universidades e associações. Os habitantes de Calais esses ficavam com as suas casas e bens desvalorizados, sem as receitas do turismo e a ver os investimentos fugir da zona. Falar da economia ainda era possível mas de insegurança parecia mal. Quando os acampamentos de Calais começaram a ser desmantelados lá tivemos as reportagens emotivas sobre os imigrantes agora refugiados. Já os habitantes de Calais continuaram sem suscitar curiosidade nos jornalistas. E quando dias depois as tendas começaram a florescer em Paris o desinteresse pela opinião dos residentes naqueles quarteirões manteve-se.
Podia continuar a dar exemplos. Sigo regularmente a imprensa francesa e casos destes são quotidianos. Há dias em que me interrogo se já ninguém sabe francês, se é má fé, preconceito ou simplesmente ignorância. Porque algo terá de explicar esta fuga da realidade cujo momento épico acontece quando, perante os resultados eleitorais naquele país, começam com os transes da indignação e os exorcismos do racismo e da xenofobia para explicar o voto na Frente Nacional. O que tem distinguido a Frente Nacional não são as sua soluções para os problemas mas sim o falar dos problemas. Porque os problemas, existem embora mal se vejam dos bairros privilegiados em que se movem políticos, jornalistas, universitários, tecnocratas… Ou seja a nova aristocracia.
Apesar de a eleição de Trump ser vista como uma boa notícia para Marine Le Pen essa conclusão não é necessariamente óbvia. Para já porque é de esperar desde logo uma maior mobilização do eleitorado, inclusivé do que está zangado com Hollande. Depois talvez muitos leitores façam uma avaliação mais cuidadosa das consequências no voto em candidatos que se dizem fora do sistema. E por fim, perante o falhanço estrondoso do mundo da comunicação no acompanhamento das eleições norte-americanas, é de esperar que dentro de meses não se repita o mesmo erro. Ou não sendo isso possível, que pelo menos sejamos poupados às manifestações de incredulidade e espanto perante os resultados eleitorais.
Aqui só não vê quem não quer.
O "SISTEMA" CASEIRO TEM QUE SER PURA E SIMPLESMENTE DEITADO ABAIXO.NINGUÉM DEFENDE JÁ OS OPERÁRIOS E CAMPONESES CASEIROS...
Helena MatosSeguir
14/11/2016, 6:49
O mediatismo esclarecido primeiro escarneceu e depois irritou-se com os deploráveis de Trump. Mas os sem dentes de Le Pen já estão à nossa espera. Fazer de conta que eles não existem não funciona.
Já temos encontro marcados com eles. Vai ser a 23 de Abril e a 7 de Maio do próximo ano. Eles, os sem dentes, estão à nossa espera nas primeira e segunda volta das presidenciais francesas. E convém que não se repita o mesmo exercício de mediatismo esclarecido que marcou a cobertura das eleições norte-americanas.
Recordemos: o mediatismo esclarecido, com os seus “robespierres”, primeiro escarneceu e depois irritou-se com os deploráveis de Trump. Mas os sem dentes de Le Pen já estão à nossa espera. É melhor ouvi-los. Perceber o que são as suas vidas. Os seus medos. Ou a insistirmos na atitude do “medático esclarecido” mais uma vez, diante dos resultados eleitorais, acabaremos na choradeira incrédula do costume, nas patéticas manifestações de “democratas tão democratas que não aceitam os resultados das urnas” e com a CML a mandar fazer novos cartazes que, pelo menos, se espera não tenham erros gramaticais, matéria em que os franceses seja qual for a sua área política não têm qualquer sentido de humor.
É a Hollande que devemos a expressão “Os sem dentes” para designar os pobres. Para sermos honestos, mais do que a Hollande é à sua por assim dizer atribulada vida conjugal que devemos ter ficado a conhecer a forma por que o actual presidente francês se refere àquelas pessoas que não têm sobre a segurança, a família e o multiculturalismo as mesmas ideias que ele, Hollande, ex-messias da esquerda europeia. Para cúmulo estas pessoas são pobres, vestem-se mal, não têm charme e, ao contrário dos árabes, dos negros ou da “gens du voyage”, estão do lado errado da História: nenhum sociólogo os considera vítimas de uma qualquer fobia ou ismo. As vidas deles são apenas o resultados da sua própria ignorância.
O que tem a vida conjugal de Hollande a ver com isto? Com os sans dents nada. Mas com Valérie Trierweiler muito. Conhecemos Valérie Trierweiler como “companheira” ou “mãe dos filhos” de Hollande quando este chegou ao Eliseu (as designações para as pessoas que retiram todas as vantagens do casamento mas nunca se casam são sempre tão pirosas quanto imperfeitas). Um dia Valérie foi trocada por Julie Gayet mas Valérie vingou-se à grande e à francesa escrevendo um livro em que revelou a intimidade de François Hollande. Mas a revelação que mais perturbou os franceses não remetia para a vida sexual do actual presidente – na prática uma relativa pasmaceira quando comparada com a de Miterrand invariavelmente a expensas do contribuinte francês! – mas sim o facto de este, uma vez longe dos jornalistas, reservar o epíteto “sans dents” para se referir a boa parte daqueles de que também é Presidente e que, lendo, por exemplo, a imprensa portuguesa, acreditaríamos serem também os seus eleitores: operários, trabalhadores, desfavorecidos…
Na verdade não são. Eles, os sans dents, são aqueles que raramente se vêem, menos vezes ainda são entrevistados mas acabam a fazer Marine Le Pen subir nas sondagens. E podem fazer dela presidente da França – aquela mania do “pela primeira vez uma mulher” também se aplica neste caso? – caso se mantenha esta espécie de síndroma de alienação da realidade que atravessa presentemente o discurso de jornalistas, comentadores e analistas. Por exemplo, quantas notícias lemos sobre as agressões acontecidas em Outubro deste ano em Viry-Châtillon? Nem se pedem reportagens no local. Uma chamada telefónica chegava. Pois é, não soubemos nada ou quase nada. E contudo em Viry-Châtillon quatro polícias foram atacados e sovados. Dois ficaram com queimaduras gravíssimas. Note-se, não estamos na Síria mas sim a 20 quilómetros de Paris. Mas se estivessem na Síria talvez fossem alvo de maior interesse.
Já lá vai tempo em que estas agressões aconteciam no âmbito de intervenções policiais. Agora multiplicam-se os casos em que polícias que estão a fazer ronda são agredidos ou atraídos a ciladas, como aconteceu em Viry-Châtillon: os agentes acabaram cercados em pleno dia por um bando de encapuçados que partiram os vidros dos carros policiais e em seguida lançam lá para dentro cocktails Molotov. Quando os polícias saíram dos carros para se libertarem das chamas foram o espancados…
Pouca sou nenhumas notícias tivemos em Portugal sobre Viry-Châtillon. Tal como pouco ou nada ouvimos sobre as manifestações de polícias em protesto contra com o calvário judicial que em França aguarda os agentes que recorrem às armas já nem tanto para defender as populações mas apenas a si mesmos. E o que soubemos sobre o surto de agressões extremamente violentas a professores e funcionários em vários liceus franceses, isto apenas em Outubro deste ano? Não faltam cocktails Molotov, rostos tapados, maxilares partidos (de professores ou funcionários, naturalmente), instalações destruídas… mas nada.
Igual vazio imperou sobre Calais: durante três anos, Calais, com pouco mais de 75 mil habitantes, viu chegar milhares de imigrantes que, na impossibilidade de passarem para o Reino Unido, por ali ficaram amontoados, com os problemas inerentes a uma concentração anárquica de homens jovens, desligados das suas famílias e sem ocupação. Escrevia-se sobre as más condições desses acampamentos. Denunciava-se a falta de apoios para esses homens a quem não tardou se passou a chamar refugiados. Criticavam-se as autoridades (francesas e inglesas, claro, porque as dos países desses homens não existem para efeitos de responsabilidade) por nada fazerem. A Calais chegavam autocarros com manifestantes que faziam declarações repletas de referências a leis, tratados e convenções sobre os direitos dos migrantes.
No fim do dia os manifestantes entravam de novo nos autocarros, regressavam às suas universidades e associações. Os habitantes de Calais esses ficavam com as suas casas e bens desvalorizados, sem as receitas do turismo e a ver os investimentos fugir da zona. Falar da economia ainda era possível mas de insegurança parecia mal. Quando os acampamentos de Calais começaram a ser desmantelados lá tivemos as reportagens emotivas sobre os imigrantes agora refugiados. Já os habitantes de Calais continuaram sem suscitar curiosidade nos jornalistas. E quando dias depois as tendas começaram a florescer em Paris o desinteresse pela opinião dos residentes naqueles quarteirões manteve-se.
Podia continuar a dar exemplos. Sigo regularmente a imprensa francesa e casos destes são quotidianos. Há dias em que me interrogo se já ninguém sabe francês, se é má fé, preconceito ou simplesmente ignorância. Porque algo terá de explicar esta fuga da realidade cujo momento épico acontece quando, perante os resultados eleitorais naquele país, começam com os transes da indignação e os exorcismos do racismo e da xenofobia para explicar o voto na Frente Nacional. O que tem distinguido a Frente Nacional não são as sua soluções para os problemas mas sim o falar dos problemas. Porque os problemas, existem embora mal se vejam dos bairros privilegiados em que se movem políticos, jornalistas, universitários, tecnocratas… Ou seja a nova aristocracia.
Apesar de a eleição de Trump ser vista como uma boa notícia para Marine Le Pen essa conclusão não é necessariamente óbvia. Para já porque é de esperar desde logo uma maior mobilização do eleitorado, inclusivé do que está zangado com Hollande. Depois talvez muitos leitores façam uma avaliação mais cuidadosa das consequências no voto em candidatos que se dizem fora do sistema. E por fim, perante o falhanço estrondoso do mundo da comunicação no acompanhamento das eleições norte-americanas, é de esperar que dentro de meses não se repita o mesmo erro. Ou não sendo isso possível, que pelo menos sejamos poupados às manifestações de incredulidade e espanto perante os resultados eleitorais.
Aqui só não vê quem não quer.
O "SISTEMA" CASEIRO TEM QUE SER PURA E SIMPLESMENTE DEITADO ABAIXO.NINGUÉM DEFENDE JÁ OS OPERÁRIOS E CAMPONESES CASEIROS...
Subscribe to:
Posts (Atom)