Vive-se hoje mundialmente o tempo dos neo-embuçados.
Talvez por força do belo fado de João Ferreira Rosa, temos tendência a romantizar a capa e a máscara. Quem sabe mercê do Zorro da nossa infância, apraz-nos imaginar os embuçados como personagens de mistério que lutam pelo bem, pela justiça e pela verdade. Escondidos, apenas, para se furtarem à perseguição das forças do mal. Não será, também, por acaso que os super-heróis da BD usam habitualmente máscaras. Assim disfarçam a identidade, protegem-se dos vilões e mantêm a discrição da sua vida privada. A realidade, porém, é outra.
Saindo do mundo da BD, os embuçados nada têm de romântico, nem de nobreza. Nem os históricos, nem os actuais. Os embuçados são hoje, como sempre foram, salteadores, difamadores, ladrões, burlões e assassinos. Gente sem dignidade, nem coragem. Meliantes, a soldo dos seus mesquinhos interesses. Com propósitos ignóbeis. Farrapos de humanidade. Facínoras e delinquentes, escondidos por detrás das capas que os autorizam a fazer o que de cara destapada nunca fariam.
O que assusta é que depois de séculos a proscrever os embuçados, se permitiu a partir de 1983 a criação de um espaço totalmente livre de direito, onde reinam os embuçados: a internet!
Talvez a mais brilhante invenção de sempre para o desenvolvimento da comunicação e das relações humanas, criou um espaço de total anomia, onde tudo é permitido aos criminosos. Tudo! E com consequências muito mais nefastas, e globais, do que as vividas nos bosques medievais, nas cidades de oitocentos ou nos guetos controlados pelo submundo da nossa era.
Transitando pelas ruas de uma cidade, qualquer ser humano pode ser abordado pelas autoridades para que se identifique. Frequentando qualquer espaço de público acesso, não há quem esteja livre de ser interpelado para fazer prova da sua identidade. Mesmo qualquer cidadão honrado no recato da sua casa (e a casa de um homem ainda é, para as leis justas, o seu castelo), pode ver entrar-lhe pela porta a autoridade, até a desoras, em busca do que interesse para a investigação criminal. Em todos esses momentos o objectivo último é sempre o mesmo: apurar quem é quem!
Porém, na internet o anonimato é absoluto. Tudo se faz e pode fazer. Como pela calada da noite, em vielas escuras, se trafica, viola, rouba, agride, assim também na internet reina o crime perpetrado por anónimos.
Não bastassem as burlas informáticas, os furtos por vias virtuais e tantas outras dezenas de crimes de conteúdo patrimonial, o anonimato da internet autoriza, com repugnante vulgaridade, a maledicência, a injúria, a difamação e a calúnia. Diariamente. Até nos simples comentários anónimos a notícias e crónicas jornalísticas. Os embuçados exercem o direito de livre opinião que a civilidade lhes concedeu, atacando vil e traiçoeiramente.
Tudo sob o aplauso das autoridades, que não impõem a quem deseja transitar no mundo virtual a mesma obrigação de identificação exigida a uma velhinha que passeia num jardim.
Advogado, escreve à sexta-feira
ACALMA-TE PORQUE AO FIM E AO CABO OS ESPECIALISTAS DO "DIREITO" ATÉ DESFIZERAM AS LEIS TODINHAS COM QUE PODERIAM UM DIA SER JULGADOS POR UM QUALQUER "ESTADO DE DIREITO".DONDE PARA SE FAZER "JUSTIÇA" TERÁ QUE SER NAQUELA ONDA "REVOLUCIONÁRIA" QUE TUDO JUSTIFICA COMO DORES DE PARTO...
MAS AFINAL QUAL A CAUSA DESTA DOR DE CORNO?