A “ Geração Rasca” tem vinte anos.
Manuela Ferreira Leite, ministra da Educação, avançara com a imposição de uma prova global no 10.º ano e a eterna questão das propinas. Teve a oposição da academia de estudantes que se manifestaram em Lisboa, em enorme protesto com várias centenas de milhares de alunos.
Desprezaram o respeitinho devido ao poder, excederam-se na linguagem, noutras exibições menos elegantes. Dos tenros traseiros! Desmandos da juventude!
Vicente Jorge Silva é um bom jornalista. Considero eu. Num editorial do PÚBLICO desancou-os: Geração Rasca. Cometeu aquele desvio fatal das generalizações. As gerações de jovens, adultos e velhos não são rascas. Em todas as gerações, há bolsas de rascas. É diferente...
Na Assembleia da República, Pedro Passos Coelho (PPC) ergueu a voz, corajoso que era, em defesa da bolsa rasca que bem lhe cabia e ora melhor lhe cabe. PPC representava essa bolsa. Dela dependia a sua vida política e não só. Como a história o demonstra.
Enformado por aquelas “teorias” do Estado que recebera no ninho da Jota laranja e das universidades de verão que, como é sabido, uma e outra, são escolas de ensino superior para futuros lugares nas empresas públicas e privadas. No Estado. Nas Jotas laranja e nas de todas as cores.
A “Geração Rasca” é também um produto da geração adulta e velha de hoje: os facilitismos oferecidos, o fomento negligente de irresponsabilidades, as passagens administrativas, o paternalismo. A cedência à ausência de valores. Uma geração hoje “velha” que prescindiu de transmitir à geração, ontem, jovem os princípios da liberdade responsável.
É desse “sítio bolseiro” que brotou o poder de hoje. Os Jotas laranja de então são hoje membros do Governo do país. Sem regras, sem princípios e sem moral. Que não tinham. Nem beberam na Jota.
A ausência de ética, de moral, de princípios gera, consequentemente, comportamentos políticos da mesma natureza: sem moral e sem ética. Alimenta e pratica a mentira, a manipulação, o golpe, as jogadas de interesses.
Um desrespeito profundo pela Lei. Eles são a lei. Para eles, lei é não haver lei. Mudam-na da noite para o dia, ao sabor dos seus interesses e dos interesses dos seus.
Supõem viver no Faroeste!
Escolheram como alvo da sua atrofia e indigência mentais, aqueles que, há vinte anos, os suportaram, os velhos!
O à- vontade quase orgásmico com que se ouve um (uns) rapazinho(s), com ar palerma(s) e convicto(s), falar de despedimentos na função pública, de machadadas nas reformas dos velhos que os sustentaram é uma coisa obscena e que exige resposta violenta dos velhos.
Uns meninos fazem de governo de um estado, não do Estado. Um governo de mancebos que se demite hoje, é governo amanhã! E que, com brincadeiras de sai e entra, delapida, em juros da dívida, mais uns milhões do Estado.
Enterram mil milhões e mais mil milhões a empanzinar bancos, swaps, parcerias.
Têm a desfaçatez de “poupar” com o dinheiro dos outros, com o dinheiro das reformas dos velhos! Para cobrir o défice que eles e amigos contraíram!
A pretexto do “perigo sistémico” dos primeiros responsáveis da crise, o poder financeiro, desinteressam-se pela pobreza e miséria do povo. Este paga a crise, também com reformas.
Deixem os velhos em paz, na sua paciência de velhos.
Aos quarenta e tal anos de trabalho a sério, falem de cortes nas reformas. Nas vossas.
Vicente Jorge Silva bem sabia o que escrevia.
Procurador-geral-adjunto