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Tuesday, March 3, 2009

A CULPA É SEMPRE DO PORTEIRO...

Julgado por desvios diz que obedecia à vereadora
Ex-responsável do pelouro da Educação da Câmara do Porto será chamada a testemunhar
00h30m
NUNO SILVA
"Só obedeci às ordens da vereadora", repetiu insistentemente o ex-funcionário da Câmara do Porto acusado do desvio de milhares de euros referentes ao pagamento de refeições escolares, entre 1998 e 2002.

Domingos C., de 58 anos, foi almoxarife da Direcção Municipal de Habitação e Desenvolvimento Social da Câmara do Porto. É acusado de, naquele período, ter "manipulado" as contas em seu proveito, num esquema que envolveu o desvio de cerca de 98 mil euros, no âmbito de um programa de apoio social que abrangeu as cantinas de escolas primárias e de jardins-de-infância.

"Nunca fiquei com dinheiro nenhum", garantiu, ontem, no início do julgamento, lembrando que na altura apenas "cumpria ordens" da vereadora com o pelouro da Educação, Ernestina Miranda, que chegou a ser arguida no processo, mas acabou despronunciada, por falta de provas. Ainda ontem, a procuradora do Ministério Público, Maria José Fernandes, requereu, para a "descoberta da verdade", que a antiga autarca socialista seja ouvida como testemunha, assim como uma chefe de divisão da Câmara da altura.

Agora reformado por invalidez, Domingos C., negou ter elaborado qualquer plano para ficar com as verbas e revelou que "muito do dinheiro entrou directamente na conta da vereadora". "A ordem que eu tinha era para depositar uma parte na tesouraria e outra na conta dela", afirmou o arguido, acrescentando que havia, também, montantes entregues "pessoalmente" à ex-autarca.

Questionado pelo colectivo de juízes sobre os cheques depositados nas suas contas pessoais, o ex-funcionário camarário - acusado de peculato - argumentou que aquelas verbas diziam respeito "a cheques de contas particulares dos professores e das escolas" e justificou esse procedimento com os "assaltos" de que os estabelecimentos de ensino e ele próprio foram alvo. "Depositava os cheques na minha conta para que o dinheiro ficasse logo disponível. Depois, levantava-o para entregar na tesouraria".

O arguido queixou-se, ainda, de ter sido sobrecarregado de trabalho, após o alargamento do programa de apoio para 50 escolas. "Não tinha capacidade de resposta", frisou, admitindo possíveis "falhas humanas" nas contas.