Friday, April 18, 2014

Ó MATA AGORA ANDAM A SALVAR O PLANETA COMO DEUSES DO OLIMPO.E A REFAZER UM IMPÉRIO DO "BEM" PORQUE SÃO OS INDÍGENAS A PAGAR...


Por Saragoça da Matta
publicado em 18 Abr 2014 - 05:00

A imutável natureza dos povos

"Há povos fadados a serem sempre nada. Obreiros laboriosos, sob o estalar dos chicotes, vêem-se incapazes de um acto colectivo e espontâneo de criação"
Há momentos determinantes da história dos povos. De entre esses momentos são particularmente relevantes aqueles em que um povo diz não aos poderes instituídos, refundando-se, com a aceitação da generalidade da comunidade, mesmo que tenham resultado de actuações de apenas um punhado de descontentes. Esses momentos refundacionais marcam o compasso do tempo universal, bem como os tempos das vidas de cada um. Mudam a história e mudam as histórias.

Certos povos, contudo, são avessos à mudança. São intrinsecamente obedientes. Visceralmente inertes. Mantêm-se por centúrias sujeitos às mesmas estruturas de poder, ainda que com alteração de regimes. São comunidades que variando de orientação política de quem os conduz, se mantêm sempre sob o mesmo tipo estrutural de domínio: permanentemente sob ditaduras, ora com um pendor, ora com o pendor oposto, tudo aceitam, sem questionar a legitimidade despótica ou absolutista do poder que sobre si é exercido.

Já outros povos anseiam permanentemente por mudanças. E mudam. As convulsões são permanentes. Refundam-se a cada virar de esquina. Não mudam apenas caras e cores políticas. Alteram a estrutura dos Estados, reconfiguram os equilíbrios políticos e chegam mesmo a modificar a base geográfica em que assentam.

Há, por fim, aqueles povos que não desejam nada. Agradecem apenas que alguém os conduza. Seja em que sentido for e nos moldes que aprouverem a quem tenha a força suficiente para os subjugar. Por regra são aqueles povos que, ouvidos nas ruas, nos cafés, nos táxis, discordam de tudo. Contestam tudo. Protestam quanto a tudo. Mas apesar disso, limitam-se a esperar tudo. São povos messiânicos, no sentido de que o que os mantém vivos é a esperança num salvador. Nada fazem enquanto "todo". Os desconfortos que todos sentem, mais ou menos profundamente, nas suas vidas, não motivam mais do que escárnio e maldizer. Mais abertos, ou mais ocultos, os protestos não passam disso mesmo. De palavras mais ou menos inflamadas, com mais ou menos secretismo. Esbirros teóricos. São os povos do palpite e da crítica. Do "eu cá acho que"...

São povos fadados a serem sempre nada. A não fazerem nada. Sem uma força motriz e de comando, são inertes. Obreiros laboriosos, sob o estalar dos chicotes, vêem-se incapazes de um acto colectivo e espontâneo de criação. Quem os oiça, porém, acredita que moveriam montanhas à força de braço. Vã esperança: às ocultas ou em público, falam, criticam, gritam, protestam! Chamados a conduzir os seus destinos, assobiam para o lado, fingem não entender, e esperam que passe.

São povos destinados ao jugo dos mais fortes, dos mais espertos, dos mais afoitos. Sabendo-se enganados, preferem sê-lo, a reagir. Em ditadura ou em democracia, vivem sempre a mesma infelicidade. Conscientes do seu fado, mas conhecedores da sua natureza, limitam-se a viver conduzidos, na ânsia calada de que algo mude para si, já que nunca mudará para todos.

*São os países do "para inglês ver", do "entre mortos e feridos alguém há-de escapar" e, pior que tudo, do "em terra de cegos quem tem olho é Rei"!

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