Monday, March 9, 2009

A OBRA DO GRANDE AFRICANIZADOR

09 Março 2009 - 00h30

V.F. Xira: Jovem de 21 anos abatido por homem que antes tinha agredido o seu primo
Morto à queima-roupa em guerra de gangs
A guerra entre os dois bairros rivais da periferia de Lisboa já se arrasta há um ano e resultou, ontem de madrugada, na morte de um jovem de 21 anos a tiro de caçadeira. Aires Segunda, do bairro da Icesa, em Vialonga, saiu de casa para defender a honra do primo, que horas antes tinha sido agredido à coronhada. Só que o agressor, do bairro Azul, na Quinta da Piedade, Póvoa de Santa Iria, recebeu-o de arma em punho. Aires foi atingido no abdómen por um disparo à queima-roupa – a 20 centímetros do corpo. Não chegou vivo ao hospital.


De acordo com familiares e amigos da vítima, "os problemas entre os dois bairros começaram há um ano, sem se perceber muito bem porquê. Mas até agora, para lá de algumas cenas de pancada, não se tinha visto nada assim". Para Ciro Élio, o primo da vítima mortal, o homicídio tratou-se de "um ajuste de contas por causa de uma confusão que começou horas antes".

"Estava a dar uma volta de mota e quando passei pelo bairro Azul, por volta das 21h00, barraram-me o caminho. Um deles sacou de uma pistola e começou a bater-me na cara com ela. Não tive hipótese", relata Ciro, de 20 anos. Enquanto o jovem era transportado ao Hospital de São José, em Lisboa, o primo e os amigos do bairro da Icesa foram à procura do agressor, conhecido por quase todos. "Encontraram-no e fizeram-lhe um aviso", adianta um amigo. "Depois viemos embora, sem mais stress."

Já depois da meia-noite, dois carros – um Opel Corsa e uma carrinha Hyundai – com seis pessoas chegaram a Vialonga e começaram os confrontos. De acordo com Maria Paulina, a mãe de Aires, "alguém tocou à campainha e ele desceu à pressa. Foi a última vez que o vi com vida".

Aires Segunda saiu de casa e foi ao encontro daqueles que o procuravam. Quando chegou à rua José Régio foi surpreendido. "Ele puxou da caçadeira e, a menos de 20 centímetros, disparou. Depois entraram nos carros e fugiram. Ninguém foi atrás deles. Só nos preocupámos com o nosso amigo estendido no chão, a perder sangue", lamenta um "amigo próximo".

RIVAIS AOS TIROS NAS OLAIAS

As imagens da Quinta da Fonte no Verão passado voltaram a repetir-se ontem no bairro Azul, nas Olaias, Lisboa. Cerca das 18h00, ciganos e africanos envolveram-se em confrontos e o tiroteio começou. Tudo por causa de um apartamento que toda a gente quer.

Segundo apurou o CM, anteontem à noite, quando Elisabete Silva chegou a casa, esta estava ocupada por uma família de ciganos. Estes garantem que a proprietária lhes tinha prometido vender o apartamento e até já tinham dado mil euros de sinal. Elisabete nega e diz que não tem mais nenhum sítio onde viver. Na altura, a proprietária foi ajudada por outras africanas, que evitaram a ocupação.

Horas depois, já de madrugada, uma mulher grávida foi atacada por uma cigana, o que gerou a resposta dos familiares. O clima ficou tenso, mas a situação acalmou até ontem à tarde.

Os africanos contam que os ciganos apareceram armados de revólveres e caçadeiras. Os ciganos dizem que foram eles a ser provocados e agredidos com pedras.

Certo é que houve tiroteio – apesar de ninguém ter ficado ferido – e só a intervenção da PSP voltou a pôr ordem no bairro, depois de também efectuar disparos para o ar. À hora de fecho desta edição a situação continuava tensa e a PSP anunciava que ia permanecer na zona até à manhã de hoje.

OUTRAS MORTES

OSVALDO BEAGI, 18 ANOS (Sintra, Janeiro 2008)

Um confronto entre grupos rivais do Cacém e Rio de Mouro terminou com a morte, a tiro, de Osvaldo Beagi. O homicida, de 17 anos, foi condenado a outros tantos anos de cadeia em Setembro passado.

EUCRIDE VARELA, 19 ANOS (Lisboa, Dezembro 2008 )

A luta entre os bairros de Santa Filomena e Casal da Mira, na Amadora, terminou com a invasão do Colégio de Pina Manique da Casa Pia. Eucride Varela foi esfaqueado pelas costase morto por um rapaz de 17 anos.

PORMENORES

AVISO À JUDICIÁRIA

Sem dar a cara nem o nome, amigos de Aires Segunda disseram ontem ao ‘CM’: "Se a Polícia Judiciária não apanhar o assassino, nós vamos fazê-lo."

FORA DE CASA

A Polícia Judiciária já identificou o homicida e está no seu encalço. Este não regressou a casa e está em parte incerta.

AUTÓPSIA

A autópsia ao corpo de Aires Segunda deverá ser realizada durante a manhã de hoje.

NOTAS

SEIXAL: TRÊS FERIDOS EM RIXAS

Há muito que são conhecidas as rivalidades entre os bairros Quinta da Princesa e da Jamaica, no Seixal. Em Janeiro, três jovens foram atingidos a tiros de caçadeira devido a um conflito

FORMAÇÃO: EDUCAÇÃO FÍSICA

Aires Segunda iria começar um curso de formação profissional – na área de Educação Física – no dia 14 deste mês. "Já tinha pago tudo o que era preciso", disse ontem a mãe ao ‘CM’

ANGOLA: PARTIDA HÁ 11 ANOS

Maria Paulina, mãe de Aires, veio de Angola para Portugal em 1998. Os filhos – tem também duas raparigas menores de idade – chegaram dois anos depois ao país

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