Saturday, March 28, 2009

AS CAMORRAS GOVERNAM EM PORTUGAL

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Fotomontagem CM

Conversa gravada em DVD revela Smith a chamar corrupto a Sócrates28 Março 2009 - 00h30

DVD: TVI divulgou conversa em que empresário escocês acusa José Sócrates
“É corrupto”, diz Smith
A 3 de Março de 2006, Alan Perkins, administrador do Freeport, chamou ao escritório da empresa Charles Smith, sócio da Smith & Pedro, e João Cabral, ex-director de obras daquela empresa e actualmente funcionário do outlet de Alcochete.


Logo no início da conversa, Alan Perkins pergunta a Smith por que é que a polícia abriu um inquérito ao Freeport, se não era por causa de suspeitas de corrupção. De imediato, Charles Smith dispara, sem hesitar: 'O primeiro-ministro, o ministro do Ambiente, é corrupto.' Ao longo de uma conversa de cerca de 20 minutos, Charles Smith e João Cabral esclarecem Perkins dos detalhes do acordo, da forma como o dinheiro chegou a Portugal e como foi pago durante dois anos em pequenas quantias de três e quatro mil euros em envelopes. Smith avançou também que inicialmente o pedido em dinheiro para a aprovação do projecto tinha sido justificado com verbas para o partido 'deles'.

Quando Perkins não percebe por que é que pagaram ao ministro quando Sócrates já não estava no cargo, Smith fala no contrato e diz que inicialmente estavam para ser 500 mil, sem precisar qual a moeda. O empresário escocês explica a Perkins que os pagamentos foram todos efectuados em numerário e João Cabral adianta que Sócrates tinha agentes e que o dinheiro era sempre entregue a esse primo. Smith fala longamente das reuniões de antigos responsáveis do Freeport com funcionários 'dele' e, segundo João Cabral, em Janeiro de 2002 'eles tinham um acordo com o homem do Sócrates'. Esta reunião terá acontecido a 17 de Janeiro, dia em que a Assembleia da República foi dissolvida pelo então Presidente Jorge Sampaio.

'DEMOS O DINHEIRO A UM PRIMO DELE'

Alan Perkins – O que desencadeou a acção da polícia? A queixa era sobre corrupção?



Charles Smith – O primeiro-ministro, o ministro do Ambiente é corrupto.



Alan Perkins – Quando tudo estava a ser construído qual era a posição dele?



Charles Smith – Este tipo, Sócrates, no final de Fevereiro, Março de 2002, estava no Governo.. Era ministro do Ambiente. Ele é o tipo que aprovou este projecto. Aprovou-o na última semana do mandato dos quatro anos. Em primeiro lugar, foi suspeito que ele o tenha aprovado na último dia do cargo. E não foi por dinheiro na altura, entende? Isto foi mesmo ser estúpido.



Alan Perkins – Quando foram feitos os pagamentos? Como estava em posição de receber pagamentos se aprovou o projecto no último dia do cargo?



Charles Smith – Foram feitos depois. Ele pediu dinheiro a dada altura, mas não...João, foi aprovado e pagamentos foram posteriormente?



João Cabral – Certamente. Houve um acordo em Janeiro. Eles tinham um acordo com o homem do Sócrates, penso que em Janeiro.



Charles Smith – Sean (Collidge) reuniu-se com o tipo. Sean reuniu-se com funcionários dele, percebe? Sean e Gary (Russell) reuniram-se com eles.



Alan Perkins – Houve um acordo para pagar?



Charles Smith – Para pagar uma contribuição para o partido deles.



( ....... mostra contrato)



Nós fomos o correio. Apenas recebemos dinheiro deles. Demos o dinheiro a um primo, a um homem.



Alan Perkins – Mas como o Freeport vos fez chegar esse dinheiro?



Charles Smith – Passou pelas nossas contas.

Alan Perkins – Facturaram ao Freeport, ok?



Charles Smith – Ao abrigo deste contrato. Era originalmente para ser 500 mil aqui. Desacelerámos,

parámos a este nível, certo? Isso foi discutido na reunião, lembra-se? Ele disse: “Nós não queremos pagar”. Se ler esse contrato diz é que recebemos três tranches de 50, 50, 50. Gary disse: Enviamos o dinheiro para a conta da vossa empresa.



Alan Perkins – Facturaram profissionalmente.



Charles Smith – Sim.



Alan Perkins – Entrou na vossa conta.



Charles Smith – Entrou e saiu logo a seguir.



Alan Perkins – Como sacou o dinheiro?


Charles Smith – Em numerário. Foi tudo transacção em numerário durante dois anos. Tem de compreender, não sou assim tão estúpido. Posso ter sido estúpido para fazer isto, mas fui esperto o suficiente para o fazer em pequenas quantias de 3 mil, 4 mil euros. É por isso que demorámos dois anos a pagar isso.



Alan Perkins – Era do género pequenos envelopes castanhos por baixo da mesa.



Charles Smith – Por baixo da mesa, exactamente.



Alan Perkins – A quem? Imagino que o ministro.



Charles Smith – Ele tinha agentes. Ele, o próprio, não está envolvido.



João Cabral – Um primo.



Alan Perkins – Ele tem um primo?



Charles Smith – Sim.



Alan Perkins –Você só tinha de se encontrar com ele num sítio qualquer e...



Charles Smith – Pois. Mas Gary e Sean encontraram-se inicialmente com eles num hotel de Lisboa e discutiram o assunto. Eles queriam um milhão.



Alan Perkins – Um milhão!



Charles Smith – Compreendo que a Freeport se queira distanciar.



Alan Perkins – 150 mil passaram pela vossa conta. Você pagou isso?



Charles Smith – Sim.



Alan Perkins – E agora ficou com a conta dos impostos.



Charles Smith – Exactamente.



Alan Perkins – Pois. E foi este tipo, o Sócrates, não foi?



Charles Smith – Eh....não, não foi...Ele não esteve pessoalmente envolvido nisso...Inicialmente esteve mas...



Alan Perkins – É ele o ministro?



Charles Smith – Ele agora é o primeiro-ministro.



Alan Perkins – Ele agora é o primeiro-ministro. Portanto, ele recebeu o dinheiro mas recebeu-o através do primo ou...



Charles Smith – Sim, sim!

Alan Perkins – Esses pagamentos foram feitos quando?



Charles Smith – Foi em...deixe-me ver a tabela. João, foi em Março de 2002?



João Cabral – Foi aprovado.



Alan Perkins – Então, quando os pagamentos foram efectuados?



Charles Smith – Em 2002/2003.



Alan Perkins – Porque foi necessário pagar se o tipo já estava fora do cargo? Foi só por ter havido um acordo?



Charles Smith – É. Tinha havido um acordo.



Alan Perkins – Mas a aprovação do projecto foi quando ele estava no poder.



João Cabral – Sim.



Alan Perkins – Como ministro do Ambiente deu aprovação. Havia um acordo sobre o pagamento e os pagamentos foram depois, embora ele já não estivesse no Governo.



João Cabral – Certo.



Alan Perkins – Esses pagamentos foram honrados, não foram?



João Cabral – O Sócrates tinha grandes ligações. É por isso que toda a gente tem medo de não pagar. É melhor continuar a pagar.



Charles Smith – O que aconteceu foi na fase em que ele disse: “Eu consigo que vos aprovem isto”



Alan Perkins – Sim.


Charles Smith – Falem com o meu primo. Então eu e o Sean reunimo-nos com o primo e o primo disse: “Vamos conseguir essa aprovação”.

DATAS DESMENTEM MARINHO

As datas do processo Freeport, que teve origem numa carta anónima enviada à Polícia Judiciária a 20 de Outubro de 2004, contrariam a tese de conspiração contra José Sócrates, defendida pelo bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto.

'Carta anónima que incriminou Sócrates foi escrita por sugestão da PJ' é o título de um artigo de Marinho Pinto, publicado no último Boletim da Ordem dos Advogados, no qual o advogado fala de um 'caldo político-jornalístico' em ano eleitoral, pondo em causa a actuação da Polícia Judiciária e do Ministério Público. No entanto, ao contrário do que escreveu Marinho – que a carta anónima chegou à PJ em Fevereiro de 2005, ou seja, na véspera das eleições que deram a vitória a Sócrates – a denúncia foi remetida em Outubro de 2004, mais de três meses antes de o Presidente da República ter dissolvido a Assembleia da República, quando Santana Lopes ainda era primeiro-ministro.

Por outro lado, a averiguação preventiva, que foi aberta após a denúncia, concluiu haver fortes indícios de crimes económicos praticados no âmbito do licenciamento do Freeport de Alcochete, mas apenas apontava como suspeitos, em 2005, o então presidente da Câmara, José Dias Inocêncio, o consultor Manuel Pedro e dois funcionários da autarquia.

O artigo do bastonário causou uma onda de indignação, sobretudo entre advogados – por usar o boletim da Ordem para defender Sócrates falando sobre um processo que está em investigação – e deverá agora ser analisado pelo Conselho Superior da Ordem dos Advogados.

CRONOLOGIA

20-04-2004

PJ recebe denúncia anónima com suspeitas de corrupção no processo Freeport, após a vitória nas eleições de José Inocêncio, em 2002. Zeferino Boal, ex-CDS, foi o autor da denúncia.

11-02-2005

O Independente revela, em plena campanha eleitoral, que José Sócrates faz parte de uma lista de suspeitos envolvidos nas investigações ao Freeport. Dois dias antes tinham sido feitas buscas em vários locais em Alcochete.

17-06-2007

O ex-inspector da PJ, José Torrão, é condenado a oito meses de prisão pelo crime de violação do segredo de funcionário. Torrão fora filmado a fotocopiar documentos na PJ de Setúbal.

22-01-2009

PJ realiza buscas a empresas e à casa do tio de José Sócrates, Júlio Monteiro, e ao escritório de advogados de Vasco Vieira de Almeida.

03-02-2009

Hugo Monteiro, o primo de José Sócrates suspeito de tráfico de influências, diz que só volta da China para ser ouvido pelo Ministério Público se a Justiça pagar a viagem.

20-02-2009

Manuel Pedro e Charles Smith, ex-sócios da Smith & Charles, são constituídos arguidos.

22-03-2009

Charles Smith entregou à PJ de Setúbal e ao DCIAP um fax que comprovará uma tentativa de suborno no Freeport. Em causa estará um montante de quatro milhões de libras (seis milhões de euros).

'ESTÃO A FAZER UM ROMANCE'

O procurador-geral da República, Pinto Monteiro, reagiu ontem ao artigo de Marinho Pinto, afirmando que 'estão a fazer um romance à volta do caso Freeport'. 'É um processo em investigação como há mais cerca de 500 mil. Porém, gostaria que logo que seja possível tudo será tornado público', revelou Pinto Monteiro.

COMUNICADO

Tendo tomado conhecimento da divulgação pela TVI de uma gravação contendo referências ao meu nome, a propósito do caso Freeport, esclareço o seguinte:

1. No que me diz respeito, essas afirmações são completamente falsas, inventadas e injuriosas. Reafirmo, mais uma vez, que não conheço o sr. Charles Smith, nem nenhum dos promotores do empreendimento Freeport.

2. Quero repudiar, com veemência, todas as referências que procuram envolver-me, directa ou indirectamente, em qualquer comportamento ilícito, ou menos próprio, a propósito do caso Freeport.

3. Dei já orientação ao meu advogado para agir judicialmente contra os autores desta difamação.

Gabinete do primeiro-ministro

NOTAS

DCIAP: CÂNDIDA ALMEIDA

O processo do Freeport está no DCIAP, coordenado pela procuradora Cândida Almeida, desde Setembro de 2008. O Ministério Público avocou o caso que estava na Polícia Judiciária de Setúbal

ADVOGADA: REAGIR MAIS TARDE

A advogada de Charles Smith, Paula Lourenço, contactada pelo ‘CM’, afirmou que o seu cliente 'vai reagir em devido tempo' e escusou-se a comentar o comunicado do primeiro-ministro

SMITH: TRANQUILO

O empresário Charles Smith está 'tranquilo', segundo garantiu uma fonte próxima do escocês, que não tem sido visto no Algarve na última casa, onde tem casa

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