Saturday, September 15, 2007

MENSALÃO, BINGOS,FURACÕES... NO PASA NADA

Polícia do Brasil solicita ajuda à PJ para investigar ligações do PS à "máfia dos bingos"
15.09.2007 - 09h19 Nuno Amaral


A Polícia Judiciária está a investigar o presumível envolvimento de elementos do PS com a chamada "máfia dos bingos" do Brasil. O grupo, desmantelado com a Operação Furacão, é acusado de comprar sentenças judiciais e decisões políticas para a expansão do negócio do jogo clandestino.

O coordenador do gabinete de comunicação da Polícia Federal (PF), Bruno Ramos, disse ao PÚBLICO que, no âmbito desta acção, foi solicitada "uma cooperação judicial e policial directa" a Portugal para averiguar o "eventual envolvimento de portugueses e alguns elementos ligados ao Partido Socialista" com o caso. A própria Polícia Federal já esteve em Portugal a recolher elementos sobre as ligações entre empresários e políticos portugueses com o grupo detido em Abril deste ano.

Dois dos 25 implicados nesta megaoperação são empresários portugueses. Um deles, Licínio Soares Bastos - que chegou a ser nomeado cônsul honorário pelo Governo de José Sócrates -, foi o principal financiador da campanha do PS no Brasil, em 2005, e era proprietário da sede do PS no Rio de Janeiro. Soares Bastos e Laurentino Santos, também de origem portuguesa, encontram-se neste momento fugidos às autoridades, depois de terem beneficiado de um habeas corpus que veio a ser revogado.

A PF suspeita que os dois fossem os intermediários no negócio de expansão de casas de jogo e os "operadores" de lavagem de dinheiro. Além da referência a políticos portugueses em escutas telefónicas, a PF investiga também outras ligações a Portugal e a Macau, supondo que no país operavam elementos encarregados de manter contactos com partidos políticos. O financiamento partidário seria parte da estratégia do grupo - Licínio Bastos financiou de uma forma ostensiva a campanha do candidato do PS ao círculo fora da Europa, em 2005. Às autoridades portuguesas também já foi pedido para bloquearem contas bancárias pertencentes a off-shores registadas na ilha da Madeira, solicitação já cumprida.

O coordenador do gabinete de comunicação da PF, Bruno Ramos, disse confiar no trabalho da PJ, recusando prestar mais declarações sobre o andamento da investigação.

Contactado pelo PÚBLICO, Vitalino Canas, o porta-voz do PS, referiu desconhecer esta investigação. "Se existe, sobre ela vigora o segredo de justiça. A confirmar-se, o PS aguarda serenamente o resultado desse processo", afirmou. A PJ remeteu para mais tarde esclarecimentos sobre este caso.

Numa das escutas telefónicas registadas pela PF, a 2 de Setembro de 2006, o advogado brasileiro Jaime Garcia Dias pede a outro homem de nome "Adolfo" para falar com um presidente de câmara da região de Braga. Jaime aconselha o interlocutor a valer-se do facto de ser "conhecido de António Braga, secretário de Estado". Os dois brasileiros estudavam a forma de desembargar uma obra e colocar máquinas de jogo num hotel. "O presidente de câmara é do PS?", pergunta Jaime Garcia Dias, entretanto detido, a "Adolfo", que, na altura, estava em Portugal. Na mesma escuta o advogado brasileiro sugere a intervenção de "Aníbal", dizendo que "ele resolve isso na hora". A PF suspeita de que os dois se referissem a Aníbal Araújo, candidato do PS ao círculo fora da Europa em 2005.

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